໒ Com brisa de beijos, te vejo na minha janela.

597 69 61
                                    

Era começo de verão, quando o vira pela primeira vez.

Naquela fatídica quinta feira, o começo do verão italiano regado por beijos abraseadores do astro-rei se fazia ardente na pele de cada ser existente na terra e, Park Jimin, olhando para os milhares de potes de tinta espalhados pela mesa, tapete e chão de sua nova residência, queria mais que nunca colorir cada partezinha mínima de sua nova existência, ao mudar-se para um novo apartamento, órbita e morada.

"À partir de hoje sou uma pessoa nova" ele sussurrou de frente ao quadro que planejava. Mas quase que nunca dava certo. No fim, Jimin era apenas Jimin com suas várias nuances e tonalidades. De bochechas pintadas sem intenção à beira-mar de azul, verde e amarelo: Jimin já era sua própria obra de arte. Desde seu eu envergonhado, tímido e provocador — este último que só quem o conhecia no íntimo supremo poderia ver — até o que escondia biscoitos no bolso da jardineira apenas para poder dá-los aos cachorros que encontrava na rua. Seu eu que passava a tarde inteira na frente da televisão, chorando e rindo com milhares de personagens inexistentes, mas que o pintor jurava serem seus conhecidos e familiares, cada um dono de um cantinho próprio em seu coração.

Tinha várias e várias nuances de si, e poderia até não gostar muito de algumas, mas tentava recolher todas as partes de si, num acolher de abraço quentinho, até mesmo as não conhecidas.

Então por isso, naquela quinta feira ensolarada — ínfimos cinco dias passados desde que se mudara — o pintor se fizera entediado de propósito. Esparramado no tapete e se deleitando com The marías, Jimin tentava a todo custo arrumar algo novo para passar o tempo, o vento e os pensamentos nublados em demasia; pois queria colorir todos.

Na ponta dos pés, varreu todo o apartamento a procura de diversão, encontrando apenas as paredes ainda cinzas mas com uns desenhos feitos a beu de ternura imediata aqui, ali e acolá, cheiro de tinta fresca ressentida pelo ato em alguns cantos.

Ah, se vissem o que fazia com a parede de seu quarto... ficariam horrorizados, talvez.

Talvez, talvez e talvez.

Balançava as pernas ouvindo a voz suave e cadenciada da mulher, que não lhe vinha somente aos ouvidos mas também aos olhos: retratos de variáveis infestavam sua parede, memórias de artistas, pessoas que amara e as quais ainda insistia em lhe guardar fragmentos por aí.

Sentou, imperativo, no chão com pernas cruzadas e fios castanhos lhe caindo de pouco em relance nas pálpebras. Levantou, deu meia volta na sala e foi para a janela, o bico nos lábios e o pijama desalinhado lhe delatando o certo... bagunçamento, que existia em si naquele instante.

Ele encostou com a ponta dos dedos no vidro fino, toda sua atenção pregada nas pessoas mundanas que passavam por ali e lhe pareciam tão pequeninas vistas de sua perspectiva: sorriu, pois a calçada exalava verão e frescor porta afora.

Foi então que Jimin o viu.

De jardineira clara e suéter azul-céu arregaçado nos braços, os olhinhos puxadinhos enquanto segurava um vaso inteiro de margaridas. E Jimin resfolegou de leve, aproximando ainda mais seu rosto com os olhinhos agora grandinhos para ver o rapaz que, de repente, lhe tomou toda a atenção num piscar. Sorrindo de uma maneira que fazia, de alguma forma estranha e desconcertante, seu coração bater mais rápido, ele levava milhares de vasos e cestas com florais variados para dentro do estabelecimento de frente a seu apartamento, tão perto que se de súbito Jimin decidisse abrir a janela de madeira, levantar uma das mãos e gritar uma espécie de um "ei!", com toda a certeza o de olhos felinos o perceberia, olharia para si e captaria em cheio seu rosto e todo seu ser.

Então corou, se agachando no chão e só deixando os olhinhos curiosos e abertos à vista, pois não queria ser pego.

Queria apenas... observá-lo mais.

O jeito com que segurava as cestas, a nuca branquinha e acobertada pela gola do suéter, as mãos alvas segurando tudo com maestria e delicadeza admirada, pronta dos pés a cabeça para fazer com que o pintor suspirasse, de tão encantado com a sutileza cotidiana, afável e tão... florida, que presenciava. O estranho soava como e tinha essência semelhante às das tulipas violetas que segurava: tão graciosas e roxas, pendendo suas pétalas para fazer com que qualquer um tivesse os orbes cintilantes à seu esplendor.

E Jimin os tinha, Jimin tinha orbes fulgentes de esplendor à apenas olhar para seu — provavelmente, e pedia de mãos juntas para que fosse —, novo vizinho. Então levantou-se com um sorriso solar nos lábios e o interior desabrochando de inspiração após ver o caminhão, que pressupora ser de mudança, encaminhar-se para fora da rua, deixando assim o rapaz de olhos felinos na calçada ao lado de outro que o fazia rir ao se caminharem para a portinha de madeira que, mais tarde, seria carinhosamente pregada uma placa de madeira com os dizeres "Fiori Baciati", deixando assim para todo o sempre o aroma de flores na rua silenciosa e na memória juvenil-enamorada de Park Jimin, o eterno pintor de violetas no verão.

GRÁCIL | YOONMINOnde histórias criam vida. Descubra agora