Capítulo 6 - Sufocada

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Olá...

Voltei... com um pouco mais de Carol e Pedro.

Carol

Agosto de 2003

Passei a segunda-feira quase inteira pensando sobre o que o Pedro havia respondido, sem entender nada.

Com papai junto comigo o tempo inteiro, foi mais fácil deixar Ciça aproveitando o carinho e a atenção do vovô enquanto eu estudava. Foi assim quando fomos tomar o sol da manhã, que era mais ameno, na praia, e também, quando decidimos passar uma parte da tarde nos Jardins del Palau de Pedralbes. Papai brincava com ela e eu me sentava em algum canto para ler algum livro.

Vez ou outra conseguíamos conversar um pouco, quando minha sapequinha fofa nos dava uma brecha.

— Ciça já tem quase três anos e Guto não faz ideia de que ela existe – desabafei com papai —  isso é errado, mas mamãe chega à beira da neurose quando eu toco neste assunto.

— Sua mãe só está tentando te proteger e as vezes passa dos limites, mas entenda que faz por amor – pela primeira vez estávamos tendo uma conversa adulta. — Sei que ela pode ser um pouco controladora, mas se quiser que eu interceda sobre o assunto, eu o farei.

— A verdade é que me sinto devedora a ela e não tenho coragem de a contrariar.

— Por que, minha filha?

— Veja quantos sacrifícios ela fez e ainda faz por mim, pela minha irresponsabilidade.

— Ela não está fazendo nada que um pai ou uma mãe com coração de puro amor não faria. Ciça é nossa alegria, eu sofro por não poder passar mais tempo ao lado dela e de você. Não continue se martirizando, achando que nossa neta foi um erro, pois ela ilumina nossas vidas.

— Eu sei... Ela foi o meu maior presente, papai, não consigo mais imaginar a minha vida sem ela, mas mamãe, Ciça, a escola, tudo isso me consome muito e eu ando tão confusa. As vezes queria somente dar uma volta, ir ao cinema, cortar o cabelo, fazer a manicure... sei lá, qualquer coisa que me fizesse lembrar que eu também sou alguém – abri meu coração para ele, como eu não conseguia abrir com mamãe.

Ciça sempre tirava uma horinha para dormir à tarde e foi aí que, ao me ver inquieta demais, papai me disse que eu deveria sair para dar uma volta, arejar a cabeça enquanto ele cuidava da nossa pequena.

Não tinha certeza se isso era correto, mas ele insistiu.

— Você está precisando, minha filha. Tire esse tempo, vá arejar a cabeça. Eu estou aqui para cuidar da minha netinha. E não se preocupe, eu me entendo com sua mãe – disse ele entregando-me o seu cartão de crédito.

— Eu não posso... – referi-me ao seu cartão, já que papai já custeava boa parte das minhas despesas e de Ciça, parte do aluguel de nossa casa em Barcelona, além da minha escola.

— Claro que pode, eu trabalho para te dar um futuro, meu amor – embrulhou o cartão em minhas mãos e beijou-me a testa.

Abracei-o com tanto carinho, não pelo cartão, não por ficar com Ciça, mas por ter me ouvido, por ter parado para tentar entender como eu me sentia, por talvez, ter-se colocado em meu lugar.

Saí de casa até sem saber o que fazer ou para onde ir, parei no primeiro salão que encontrei e pedi um corte de cabelo moderno. Ele estava tão longo, há anos não o cortava. Aproveitei para fazer a manicure.

Pensei sobre os meus sonhos e o que eu ainda seria capaz de alcançar considerando que sempre precisava pensar por duas pessoas. Sonhava em entrar para a faculdade, cursaria qualquer coisa que pudesse me dar um futuro, mas sonhava em ser psicóloga.

Talvez um dia me apaixonasse de verdade, livrando-me do platonismo que Pedro causara em mim por tanto tempo. Mas a verdade era que, tendo eu uma filha, os garotos da minha idade pareciam demasiadamente imaturos. Mesmo assim, estava certa de que, haveria um 'Pedro' para mim em algum lugar de Barcelona, ou quem sabe do Brasil? Sonhava em voltar para lá.

Decidi passar em uma loja de cosméticos, há quanto tempo não comprava um batom diferente? Havia uma maquiadora de plantão e como o movimento era baixo no meio da tarde de uma segunda-feira, ela testou cada um dos produtos em minha pele e quando olhei-me no espelho, até me assustei, rímel, lápis, base, sombra, eu parecia outra pessoa, mas era eu mesma ali! Linda!

Sem querer abusar da bondade de meu pai, comprei um batom, um delineador e uma base com protetor solar, pois o verão europeu castigava-me a pele.

Queria muito ir ao cinema, assistiria qualquer coisa, mas isso seria abusar muito de meu pai, que já estava sozinho com Ciça há horas. A noite caíra lentamente e considerando tudo o que tinha feito, dava-me por satisfeita para uma primeira alforria.

Saindo o metrô, ainda precisava andar duas quadras para chegar em casa. Já escuro, estava habituada a andar pelas ruas à noite, pois Ciça ficava com mamãe enquanto eu frequentava a escola noturna. Passada a primeira quadra, cheguei ao quarteirão do prédio em que ela trabalhava, bastava vencê-lo e dobrar à esquerda que estaria na rua de casa.

Olhei para a entrada principal da empresa e ali vi Pedro, de terno e gravata, sozinho, andando de um lado para o outro falando ao celular.

Senti falta de ar, acho. Taquicardia com certeza. Durante quase dois anos eu queria vê-lo novamente e durante o mesmo tempo ele me evitou. Parei por um segundo e considerei atravessar a rua ali mesmo, julguei ser o mais prudente, porque meu julgamento dizia que ele nunca quisera me ver, porém, minhas pernas estavam desconexas dos meus pensamentos e ali fiquei, por alguns segundos o assistindo naquela conversa que parecia ser algo sério, trabalho, talvez.

Respirei fundo para que meus pensamentos conflitantes não causassem um estrago ainda maior dentro de mim e passo após passo, fui em direção ao prédio, até que subi os poucos degraus de acesso à entrada principal, os mesmos que Pedro havia vencido trazendo o carrinho de bebê debaixo da chuva anos antes.

Postei-me de frente a ele, que ainda estava compenetrado ao telefone, até que ele olhou para mim e parou de falar.

— Caroline? – finalmente teve a primeira reação. — Lo siento, pero tengo que ir – encerrou a ligação com aquela única frase, imediatamente e fechou o flip do celular para voltar a olhar para mim.

— Pedro...
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Lindas, só para avisar algumas coisas importantes:
1-) quem não leu ainda a duologia "Promessas de Amor" do AGClark2 corra para a Amazon, ela é linda. O volume 1 ele ainda está postando aqui no Wattpad
2-) "Um agente para a CEO" já iniciei as postagens aqui no Watppad e amanhã tem capítulo, ela começo pegando fogo.

Bjks

🤍

À primeira vistaWhere stories live. Discover now