À primeira vista

Capítulo 1 - Uma mãe aflita

Olá ...
Já estava com saudades de vocês... Hermes me deu ressaca e eu tinha que vir aqui postar algo 🤍

Hoje começamos o conto da Carol e do Pedro, os pais da Ciça do livro Tentação.

Se você não leu o livro fica o aviso aqui QUE ESTE CONTO TEM O GRANDE SPOILER DO LIVRO TENTAÇÃO

Portanto se vc ainda pretende ler o livro e não gosta de spoiler, melhor pensar duas vezes.

Outra coisa, eu farei postagens somente duas vezes por semana. Portanto, volto somente na quinta.

Carol

Fevereiro 2002

— No! Así lo hice, mama.

Desesperada, já não tinha mais noção do que fazer. Minha mãe berrava comigo ao telefone e Cecília, agora cheia de placas vermelhas pelo corpo, tinha um chiado estranho no peito e respiração difícil.

Morávamos na rua perpendicular do trabalho de minha mãe. Esses foram os ajustes que tivemos que fazer, considerando que não conhecíamos quase ninguém em Barcelona, mas a mudança do Brasil para a Espanha, de última hora, meses antes do nascimento da minha filha, parecia ser o melhor para ela, que vinha vivendo momentos atribulados.

E claro, ela acreditava ser o melhor para mim também.

Sua família inteira estava dividida entre Sevilla e o Brasil. Como tinha ido morar em São Paulo desde muito pequena, toda a sua vida era a de uma brasileira comum, mesmo sendo de origem espanhola.

Mas, muita coisa vinha acontecendo no último ano e meio em sua vida.

Com o pedido de divórcio de papai, mamãe simplesmente pirou e eu... bem... ninguém contava que eu ficaria grávida, aos quinze anos, exatamente quatro meses depois do meu pai ter saído de casa.

Papai não era má pessoa. Longe disso. Sempre fora um pai amoroso e esposo dedicado, ele só não acreditava na necessidade de arrastar um relacionamento sem sentimento e exatamente quando o amor acabou para ele, dezessete anos após o matrimônio, ele saiu de casa com a premissa de que, tanto ele quanto minha mãe, precisavam buscar a felicidade, com respeito.

O problema é que a mamãe não estava preparada e sofreu muito.

Ela não queria a pensão, não houve briga, litígio, nada disso. Minha mãe queria o meu pai ao lado dela só que, essa era a única coisa que ele não foi capaz de nos dar.

"Se você quer se enganar e viver uma mentira, eu não vou permitir, nós dois sabemos que o amor acabou, Rúbia, temos a oportunidade de retomarmos nossas vidas e encontrarmos uma segunda chance, com alguém, em algum lugar."

Não podia julgá-lo, muito menos dizer que estava errado. Só que, para a minha mãe, com a bomba da minha gravidez explodindo sobre nossas cabeças na sequência, foi o golpe de misericórdia.

Tradicional como era, ela não aguentaria ser duplamente ridicularizada em seu círculo de amigos. Uma mulher divorciada com uma filha adolescente grávida?

Papai foi extremamente relutante em me deixar ir embora, mas ele também se preocupava com a estabilidade emocional de nós duas e sendo a Espanha um país que ela tinha familiaridade, ele assinou os papéis de autorização da minha viagem, com a promessa de falarmos todos os dias ao telefone e me visitar pelo menos duas vezes por ano, já que eu, no meu estado, dificilmente conseguiria me dar ao luxo de voltar ao Brasil para rápidas visitas.

Minha mãe sabia que ela tinha as portas abertas em seu emprego, para uma transferência. Poliglota, sendo o português e o espanhol como duas línguas nativas, falava inglês e francês muito bem. Seu pedido de transferência foi imediatamente acatado e ela manteve, inclusive, o mesmo cargo que tinha no Brasil: assistente executiva do C-Level dessa grande empresa de telefonia espanhola.