Capítulo 2 - Pedro Zotti

350 72 26
                                    

Olá...
Cá estou eu com mais um capítulo de Pedro e Carol.

Carol

Fevereiro 2002

Minha mãe chegou ao hospital no início da noite. A única vez que eu tinha saído de perto de Cecília foi para procurar um telefone para ligar para ela e explicar onde eu estava e o que havia acontecido.

Felizmente, minha bebê estava fora de perigo e com esse episódio que poderia ter lhe custado a vida, descobrimos que a pequena é alérgica à proteína do leite APLV.

Até muito recentemente eu a alimentava somente com leite materno, depois, sob orientação médica, começamos a introduzir alguns outros alimentos, estávamos enriquecendo sua dieta. Se, por sorte, ela nunca havia demonstrado alguma reação, dessa vez, o caso foi sério e eu estava preparada para nunca mais a deixar chegar perto de qualquer alimento com leite de vaca e na dúvida, qualquer outro tipo de leite.

Aos dez meses, existiam outras opções de papinhas e comidinhas que dariam a ela a energia necessária para ter uma vida saudável.

"Guto!"

Como eu não tinha me atentado a isso? Ele era o meu melhor amigo, pai da minha bebezinha e intolerante a lactose. Quantas vezes não tirei sarro dele pela pizza sem queijo?

— Ele precisa saber, mãe!

Quando eu me estressava com a minha mãe, não havia regra que me fizesse falar espanhol com ela.

— De jeito nenhum, Carol. Você está louca? Ele é outra criança, como você! O que acha que aconteceria? Isso só nos traria mais problemas do que os que já temos hoje. Estamos cuidando muito bem da nossa pequena.

— Guto tem o direito de saber – suspirei fundo, com saudades dele, nós éramos amigos e eu tinha certeza de que, se um dia ele descobrisse, jamais me perdoaria.

Fechei os olhos, exausta. Mamãe voltaria para casa e eu passaria a noite com a Cecilia no hospital, pois era pequena demais para arriscarmos voltar, ela ficaria pelo menos uma noite em observação. Se tudo caminhasse bem, teria alta no dia seguinte.

Sentei-me na poltrona do pequenino quarto da ala pediátrica e só então me recordei do homem que tinha me ajudado, que já tinha partido. Mas, vi seu nome na ficha da minha pequenina, ele assinara como seu pai. Pedro Zotti. Essa era a única pista que ele tinha deixado, além do fato de ter dito trabalhar no mesmo lugar que minha mãe.

Pedro Zotti...

— Pedro... – repeti seu nome quase sussurrando, deixando o cansaço tomar conta de mim, agora que Ciça estava adormecida e eu aproveitaria para dormir um pouco também.

No dia seguinte, na primeira hora, aproveitei que ela ainda estava adormecida e fui à procura do médico, já que uma das enfermeiras me avisou que ele já havia chegado. Tínhamos ficado de conversar sobre todos os cuidados que eu deveria ter daqui para frente. Era sabido que uma criança alérgica poderia também ser alérgica a diversas outras substâncias.

Depois de passar por um teste básico, o alergista me diria se havia necessidade de nos aprofundarmos nas investigações neste momento e quase meia hora depois, estava retornando ao quarto e do corredor comecei a ouvir as gostosas gargalhadas da minha pequenina. Isso fez com que o meu coração voltasse a se inflar de alegria. Como eu poderia viver sem os seus risos pela casa?

Ela era tudo o que eu tinha de mais valor nessa vida.

Abri a porta do quarto, mas ao invés de rir com ela, o meu senso de mãe desesperada e protetora deu um salto e corri para cima do homem que a tomava nos braços, de costas para mim..

— ¿Quién és tu? ¡Dá-me a mi hija! – gritei desesperada quando ele se virou para mim e o reconheci. –-  Pedro?

— Desculpe-me. – Assustado, ele devolveu a Cecília à cama. — Eu não sabia... – voltou-se para ela, que começava a chorar sobre o colchão — fui autorizado a entrar, pois ela está registrada como minha filha – sorriu para Cecília, brincando com seus dedinhos e ela voltou a gargalhar. — Mas tomei o cuidado de estar acompanhado da enfermeira o tempo inteiro, enquanto você não retornava para quarto – apontou para a senhora de branco, que etiquetava alguns tubos de coleta de exames.

— Eu que peço desculpas – disse envergonhada, pois só então a vi — não sei o que deu em mim.

— Não tem problema – voltou sua total atenção à Cecília, brincando com o ursinho de pelúcia, que tudo indicava, que ele mesmo trouxera para ela — provavelmente você é só uma mãe superprotetora.

— Eu não tive a chance te agradecer por ontem.

— Não foi nada. Estou feliz que ela esteja bem.

— Cecília tem alergia ao leite de vaca – contei a ele — exatamente como o pai.

— E ele não está aqui para cuidar dela? – perguntou com tom de restrição, mas logo mostrou-se arrependido. — Desculpe, isto não é da minha conta.

— Tudo bem, Pedro. Não é culpa sua, nem dele. Guto não sabe que é pai da Cecília.

Exatamente neste momento ele parou de olhar para a minha bebê, mas ainda movimentando o ursinho para a entreter e voltou-se para mim.

— Cecilia tem um pai que não a conhece?

— Ele mora no Brasil – limitei-me a dizer, não queria entrar em detalhes daquela longa e complexa história — nós perdemos contato.

— É uma situação muito dura, para uma garota de dezesseis anos, criar uma criança sozinha. – E antes que eu pudesse perguntar ele se explicou. — Eu assinei todos os documentos da Cecilia ontem e vi a sua idade em uma das fichas.

— Foi uma irresponsabilidade, eu sei, mas Ciça é o meu maior presente. Mamãe e eu temos conseguido nos virar.

Pedro, então, deixou o ursinho sobre a maca hospitalar, acariciou os cabelos da minha bebê, beijou-lhe a testa com cuidado e se preparou para ir.

— Eu tenho um voo daqui a pouco – apontou para uma mala de mão no canto do quarto — cuide bem dessa princesinha. Tenho certeza de que está sendo uma ótima mãe, Caroline.

— Como posso agradecê-lo? – de repente, eu não queria que ele fosse embora.

Minha força, alerta o tempo inteiro cuidando de minha filha, tornando-me uma mulher fortaleza, tinha inexplicavelmente se esvaído com a intenção dele partir, pois era o primeiro ser humano, que não fazia parte do círculo de médicos, ou era um amigo de minha mãe, com quem eu conversava de verdade, desde que minha filha tinha nascido.

— Cuidando bem dessa nossa menininha linda! –limitou-se na resposta, pegou a mala e antes de passar pela porta completou —adeus Caroline.

Bjks
Gê.
🤍

À primeira vistaWhere stories live. Discover now