Capítulo Dez

67 11 5
                                    

Para Paul, deixar que o pagador esperasse sozinho no quarto nunca era educado e nem agradável, ele tachava isso como indisciplina. Nós sempre deveríamos subir primeiro ou, no mínimo, lado a lado com o cliente — o que não ocorria com muita frequência. Por esta razão, geralmente era preciso alguns minutos de espera de nossa parte antes que o cliente entrasse no quarto em que estávamos.

Esses minutos, mesmos que curtos, me rendiam boas reflexões.

Estava deitada na cama com uma lingerie vermelha que eu achava realmente sexy quando duas batidas leves na porta seguidas do giro lento da maçaneta não me permitiram que eu ficasse triste por qualquer pensamento. Fiquei agradecida.

Não pude deixar de analisar o fato de as batidas na porta terem sido estranhas. Eles normalmente não batem. Tampouco giram a maçaneta devagar; adentram o quarto com a maior folga possível.

As batidas foram tão suaves e ponderadas que o som ecoou pelo quarto de forma poética.

Coloquei o melhor dos sorrisos maliciosos nos lábios e encarei a fresta na porta com um olhar sedutor, o melhor que eu era capaz de dar.

Assim que vi quem passara pela porta, minha cara se desfez.

ー Olá, Skye. ー Zayn mantinha um sorriso sacana nos lábios, como se tivesse me pego no flagra em algo. ー Suspeitava mesmo que era você.

ー O quê? Você... eu...

Eu tentava falar mas estava chocada demais para que qualquer palavra compreensível saísse de minha boca.

ー Você parece surpresa. ー encarou-me sério por uns momentos, enquanto se aproximava da cama em passos lentos. ー Não esperava ser descoberta, não é?

ー Eu não... ー balbuciei.

Ele estava logo à minha frente.

ー Por que a preocupação? ー pousou seus braços na cama, um em cada lado do meu corpo de forma que me encurralassem. Seu olhar era frio. ー Não está se divertindo?

ー Zayn, eu... senhor Malik, não sei o que está fazendo aqui.

Ele tinha seus olhos fixos em mim. Eu pude notar neles o mesmo olhar que eu direcionava à mim mesma no espelho sempre que chegava em cada após trabalhar li.

Ele carregava desgosto nos olhos.

ー Vou ser breve... ー se endireitou, pondo-se de pé e se distanciando um pouco de mim.

Eu estava nervosa, preocupada e tinha certeza de que minha feição não mostrava o contrário.

ー Na segunda, te vendo fora do ambiente do trabalho e sem o uniforme, te achei uma garota muito bonita. ー olhou-me nos olhos. ー Te analisando, porém, durante a semana,  reparei em algo estranho.

Eu nem piscava. Permanecia imóvel na cama.

Eu estava ferrada.

ー Você tinha o cabelo idêntico demais ao da moça que me servira bebidas no sábado. ー levou a mão ao queixo brevemente. ー Pensei que era apenas uma coincidência no começo, mas entendi o que significava logo que reparei na sua bunda.

Corei.

Tudo o que eu queria era que aquela cama me engolisse e me levasse para um submundo onde eu não precisaria mais encarar aquela conversa e nem os olhos acusadores de Zayn Malik.

ー Você parecia realmente inocente para mim. Estou surpreso em comprovar o contrário.

ー Zayn... ー levantei-me rapidamente, indo em sua direção.

ー Você não precisa falar nada. ー gesticulou para que eu parasse. ー Contudo, acho importante que tenha noção do quão suja é. Você tem?

Quase engasguei com a própria saliva.

ー Como é?

ー Não se faça de boba. Tenho certeza de que sabe que o trabalho que faz é de imenso desgosto. Você é podre, Skye.

Senti meu sangue ferver por todo o meu corpo. Tentei me controlar, mas foi em vão. Não conseguiria ficar calada.

ー Você é tão podre quanto eu, Malik. Eu vendo o meu corpo e você o compra. Ou sua vinda até aqui no sábado fora apenas uma inspeção?

ー Como ousa falar assim comigo? ー esbravejou. Seu tom de voz era alto e seu olhar era feroz. ー Você acha mesmo que meus pais verão dessa forma?

Foi então que eu percebi onde estava metida. Senti o meu corpo esfriar e minhas pernas vacilarem por um momento.

ー Acha mesmo que eles vão achar tolerável que alguém como você trabalhe para eles? Sua falta de ética os fará demití-la! Você irá para a rua sem ter chance de retrucar!

ー Eu...

ー Você o quê? O salário que te pagamos não é o suficiente? Uma garotinha como você precisa de mais para sobreviver?

ー Zayn...

ー Você não é casada, não namora e tampouco possui filhos. Eu conheço sua vida. ー apontou o dedo na minha cara. ー Nem mesmo estuda. Suas necessidades são mínimas. O dinheiro que meus pais lhe pagam são mais do que suficiente! Está claro que se vende assim porque quer! Você gosta!

ー Você não sabe nada sobre mim! ー esbravejei. Fiquei feliz por minha voz não ter falhado. ー Você apenas acha que sabe, mas não sabe. Não aponte o dedo para mim como se estivesse em seu direito.

Ele me olhava fixamente, eu podia sentir meu corpo liberando ódio.

ー Permita-me dizer, senhor. ー carreguei de ironia a última palavra. ー Que o que eu faço ou deixo de fazer fora do meu horário de trabalho na sua casa, não lhe diz respeito.

Ele parecia incrédulo. Talvez esperasse que eu fosse me jogar a seus pés e implorar para que não me demitisse.

Pois bem. Eu tinha a minha honra.

ー Você pagou por uma foda. É isso que eu irei lhe oferecer. ー uma grande interrogação surgiu em seu olhar. ー Conversar sobre minha vida pessoal não faz parte do serviço.

Puxei-o pelo colarinho, mantendo seu rosto à milímetros de distância do meu.

ー Eu não quero transar com você. ー desviou o olhar.

Soltei um riso irônico.

ー Pois bem. ー virei seu rosto, obrigando-o a me encarar. ー Se acha isto tão repugnante, pode se retirar. Contudo, sinto dizer que o dinheiro ainda será meu. Meus serviços foram postos à disposição, quem enfraqueceu foi você.

Pude sentir que feri o seu orgulho ao dizer que ele havia enfraquecido. O pobre ego masculino dele não seria capaz de encarar aquele termo com bons olhos.

Mesmo falando tão convicta, eu torcia e rezava internamente para que ele apenas deixasse tudo isso e saísse do quarto. Eu não queria transar com o meu patrão, ainda mais sabendo que ele me demitiria no dia seguinte. Tampouco queria que ele continuasse ali me xingando e me tratando feito merda.

Para o meu alívio, ele apenas me empurrou ー não forte o suficiente para ser agressivo, nem fraco o suficiente para ser suave ー e saiu batendo a porta.

Suspirei aliviada e só então percebi o enorme nó que embolava minha garganta.

Always ミ Zayn MalikWhere stories live. Discover now