Capítulo 9

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Semanas se passaram após nossa viajem. Confesso que as palavras de Sasuke naquela noite ainda rondavam meus pensamentos. Sabia que deveria estar feliz, afinal, sou marido do irmão dele, mas então porque meu peito se aperta toda vez que me lembro delas?

― Hiroki, cuidado com o lago. – alertei Hiroki que estava próximo demais do lago. Hiroki e eu aproveitamos à tarde de sexta-feira para passear no parque próximo de casa. Sentado embaixo da árvore eu o observava brincar com alguns brinquedos que havia trazido. Ultimamente minha vida se resumia a cuidar do meu filho. Desde que tive Hiroki acabei deixando minha vida profissional de lado. A verdade é que quando descobri que me casaria tranquei o curso de Artes no primeiro ano e não conversei mais com meu pai sobre a possibilidade de trabalhar com ele, embora não fosse minha vontade. A notícia do meu casamento com o primogênito Uchiha deixou-me fora do ar por algum tempo. Optei por parar com o curso e retornar tempo depois, porém com a chegada de Hiroki isso não foi possível. Itachi também não curtia a ideia do meu retorno aos estudos para ele eu estava bem assim. Tínhamos dinheiro e não havia necessidade de que eu trabalhasse e consequentemente estudasse. Resolvi não aprofundar o assunto, naquele momento minha intenção era se dedicar ao nosso filho, mas agora com Hiroki indo para a escolinha meio período eu não tinha muitos afazeres, sinto-me sempre entediado.

― Oia papa os titi. – disse-me apontando para algumas pombinhas que bicavam as migalhas no chão. ― Pode pega? – seguiu em direção a elas, mas elas voaram e ele fez beicinho. ― Papa... – choramingou.

― Não pode pegá-las meu amor. – fiz gestos para que viesse até mim.

― E poque não? – sentei-o em meu colo.

― Porque elas são livres e não permitem que ninguém as pegue. Se forçá-las ficaram com medo e fugiram, - acariciei seu rosto. ― mas se você alimentá-las – dei-lhe os restinhos dos grãos de pipoca que tinha sobrado. Tinha comprado um saquinho para ele horas antes. ― elas sempre estarão lhe esperando. – ele sorriu mostrando seus poucos dentinhos e correu em direção as pombinhas que tinha retornado. ― Não corre, irá assustá-las. – alertei com a voz baixa e ele parou, olhou-me e balançou a cabeça em afirmação. Pé por pé ele caminhou, quando estava próximo jogou os grãos e elas prontamente comeram.

― Oia papa. – agitava seus bracinhos de felicidade. Meu filho era meu maior tesouro, embora tenha deixado algumas coisas de lado para dedicar-me a ele, eu não me arrependia. Essa fase fofa logo, logo passará.

― Nossa! Eu adoro o sorriso do Hiroki. – assustei-me e encarei a pessoa parada ao meu lado.

― Poxa Sasuke! Avise quando estiver chegando. – levei a mão ao coração. ― Mania de não fazer barulho.

― Foi mal Naru, é costume. – sorriu e sentou ao meu lado. Durante esse tempo Sasuke e eu nos aproximamos e acabamos tendo certas intimidades, como ele me chamar de Naru e eu chamá-lo de Sas. No inicio fiquei um pouco apreensivo, não sabia qual seria a reação de Itachi ao perceber que o irmão e eu estávamos nos dando tão bem ao ponto de nos chamarmos por apelidos carinhosos. Para minha surpresa ele aceitou muito bem, o problema era eu comigo mesmo e o turbilhão de pensamentos e sensações toda vez que estávamos juntos.

― Não devia estar no consultório?

― Resolvi me dar o dia de folga. – sorriu.

― Está trabalhando bastante, não é? – mirei suas olheiras que estavam bem nítidas.

― Bastante, - suspirou. ― de manhã estou atendendo no hospital e a tarde no meu consultório, além das aulas que tenho a noite na faculdade. – passou a mão pelo cabelo mirando Hiroki. ― Dias como esse é raro. – Sasuke, finalmente, tinha aceitado se juntar ao corpo docente da Universidade de Tóquio, isso foi um dos fatores que fez ficar, além do seu consultório e a proposta do hospital. Segundo ele, estava no momento de ficar próximo da família e deixar a América.

― Precisa descansar... – depositei minha mão em seu ombro, sentindo-o tenso. ― Faz pouco tempo que retornou e já está cheio de trabalho Sas... Assim você vai ficar doente. – olhei em seus olhos.

― Obrigado por se preocupara comigo, não sabe o quanto isso me deixa feliz. – encarei-o por mais algum tempo. Céus como ele era encantador e másculo. Ouvi Hiroki me chamar e olhei em sua direção.

― Papa. Que ir pa casa....

― Que isso rapaz. – Sasuke o apanhou no colo. ― Já está cansado?

― Sim tiSas. Hiroki qué sonequinha. – deitou a cabecinha no ombro de Sasuke.

― Ah garotão, assim você acaba comigo. – levantou. ― Vamos Naruto eu quero dar banho no Hiroki hoje. – olhou pra mim.

― Mas Sasuke você deve estar cansado, deixa pra outro dia. – levantei e apanhei a bolsa que havia trazido.

― Eu ia passar na casa de vocês mesmo, mas acabei os encontrando aqui quando fazia o retorno. – disse e saiu andando em direção ao seu carro.

― Ok, depois não reclame. – resmunguei indo apanhar os brinquedos para depois segui-los.

Sasuke lavou Hiroki e o banheiro inteiro, a bagunça que fizeram provavelmente deixou a empregada de cabelos em pé.

― Sasuke, não precisava fazer tudo isso. – além de banhar meu filho ele também deu o jantar. ― Olha como você está. – segui até ele. A camisa branca que usava estava parcialmente molhada e transparente. Sem perceber levei meus dedos na parte molhada, pertencente ao tórax, e toquei de leve. ― Precisa tomar um banho. – olhei em seus olhos, sua respiração estava um pouco pesada.

― É melhor eu ir para a casa, Naruto. – apanhou minha mão carinhosamente e retirou de onde estava fazendo-me sentir falta do contato. ― Acabei não dando conta da hora e esqueci-me que tenho um compromisso. – compromisso? Seria algum encontro romântico? Se fosse isso, o que eu tinha a ver? Nada, isso mesmo, absolutamente nada.

― Claro Sas. – afastei-me. ― Obrigado. – o guiei até a porta de saída.

― Ah, estava me esquecendo de que amanhã teremos um jantar na casa dos meus pais, não consegui contato com Itachi então, por favor, diga que Mikoto e Fugaku contam com a presença de vocês. – dito isso ele beijou minha testa, senti perfeitamente seus lábios úmidos contra minha pele e me segurei ao máximo para não suspirar. ― Até mais Naru. – e saiu. Encostei-me à porta fechada e deslizei até o chão finalmente suspirando. Mas que merda!!!

No dia seguinte, mais precisamente à noite, estávamos todos reunidos na casa do patriarca Uchiha e qual foi minha surpresa ao ver Sasuke acompanhado de uma bela moça loira. Naquela noite, eu e seus familiares, descobrimos que ele estava noivo de Ino Yamanaka, um romance universitário. Ela morava nos Estados Unidos, mas estava de mudança para o Japão. Mikoto não conseguiu esconder a indignação ao saber que o caçula estava noivo há algum tempo e ela não sabia de nada. Sasuke disse que não era pra exagerar, Ino só quis pular o título de "namorados" e ir direto para "noivos", mas isso não o impediu de levar um bom sermão, porém no fim ela chorou e até chegou a mencionar netos. E eu? Bem, mantive-me firme. Dava atenção a Hiroki e a Itachi, porém parecia que tudo estava no automático sentia-me como um robô.

"Família, essa é Ino Yamanaka minha noiva". A conclusão de que ele tinha alguém e de que essa Ino o tinha por inteiro, me deixava possesso. Céus, como eu queria tirar aquela sensação de dentro de mim. Eu não tinha direito de sentir aquilo ele sendo meu cunhado ou não. Minha vontade era sair porta a fora e seguir até onde meus pés conseguissem jamais aquela sensação de impotência me fez tanto mal. Eu queria chorar, como eu queria chorar por não entender a confusão de sentimentos que era naquele momento.

― Naru, está tudo bem? – aquela bendita voz me trouxe de volta. Afastado observava a noite pela janela da sala. Encarei Sasuke e aqueles olhos negros que demonstravam tanto carinho. Carinho esse que na minha confusão acreditei ser algo mais.

― Sim. – respondi baixinho e sustentei seu olhar. Decidi-me naquela noite que eu precisava evitá-lo. Não sabia quais consequências teriam meus atos e por medo, de mim mesmo, e respeito ao meu marido eu me afastaria de Sasuke. ― Fico feliz por você... Parabéns! – virei às costas e segui até meu filho e marido tentando conter o nó que se formava na minha garganta.

Medo e Desejo - O desenrolar...Donde viven las historias. Descúbrelo ahora