HAG: Human Among Gods - LIVRO 1

CAPÍTULO NOVE - SARGA, DE FUMAÇA E SANGUE

JEON JEONGGUK

"Já tem quase um mês de investigação sem qualquer avanço, talvez seja o momento de considerar que Jeon Jeongguk foi uma escolha burra", foi o que disse a mulher na TV, num programa de variedades que discutia sobre o assassinato de Zeus e a total falta de progresso. Eles foram bem incisivos em mostrar como eu era péssimo, com uma foto minha em preto e branco e um grande "X" em vermelho bem no meio "A polícia humana não está preparada para um caso dessa importância e esse rapaz já provou isso. Se humanos têm de investigar, talvez seja uma boa ideia trazer alguém de fora, mais preparado. Esse garoto é uma vergonha mesmo pra polícia! Kim Namjoon merece alguém melhor do que um policial que sequer sabe o que está fazendo".

— Pare de ver essas coisas — minha mãe disse, mudando o canal. O papai ainda estava dormindo, mas parecia bem melhor do que a aparência doentia daquele monstro na minha casa. Devia ter notado antes que havia algo errado. O fiz acordar quando cheguei apenas para lhe oferecer café e ele resmungou até pegar no sono de novo, dizendo que não se dá café para doentes, ainda mais pra um que detesta. Então julguei que estava tudo bem — Essas pessoas julgam demais... Nenhum deles está no seu lugar. Eu vi que os oficiais de Acrópole não sabem de coisa alguma, nem viram o corpo ser jogado! Eles deviam patrulhar toda aquela área, não deviam?

— Sim, mas... Quem podia imaginar? Mal se rouba flores em Acrópole, ninguém espera por um assassinato — suspirei, a chamada do jornal de outra emissora começou e internamente já aguardei o que de terrível falariam de mim, apesar de que talvez eu estivesse me dando moral demais.

Com sorte, só diriam do momento heroico - e mágico - em que Taehyung tirou toda a água da cidade. Havia vídeos em todos os lugares do "Segundo Han", com toda a água drenada que saiu das ruas e casas, escoando na direção da correnteza do Han, mas á uns 3 metros de altura do leito. Um rio flutuante.

— Taehyung deve convencer Seokjin a me dispensar — comentei. Minha mãe se sentou na poltrona, a do papai, que era alinhada com a TV, então ela estava de frente pra mim. O papai não assistia televisão, ele ouvia, era uma mania que tinha desde que podia me lembrar, assistir de verdade, só filmes. Apesar disso, minhas tentativas de introduzi-lo a podcasts não deu tão certo quanto eu esperava.

— Por que acha isso? Aconteceu alguma coisa? Eu achei estranho você ter chegado hoje à noite sem aviso e teve aquele telefonema... mas não esperava que fosse por algo sério.

— Eu o ofendi. Gritei com ele. E na sexta faz um mês da investigação. Eu não tenho nada, mãe. Tenho uma coletiva de imprensa no domingo, e vou mentir descaradamente pro país inteiro.

— E não é pra isso que coletivas de imprensa servem?

Sorri.

Minha mãe sempre foi mais compreensiva que o papai. Não éramos parecidos fisicamente, ela tinha olhos pequenos e o rosto grande, era baixinha até pros padrões, mas todos diziam que eu tinha herdado seu temperamento. Eu queria lembrar de Hyun, mas diziam que ele era uma versão mais calma do papai. Eu queria poder falar com ela sobre o que estava acontecendo, dizer sobre a espada e sobre o espírito disfarçado, mas eu simplesmente não podia. O fardo era somente meu.

— Tente descansar, amanhã seu pai vai estar melhor. E você pode ir conosco no mercado de flores — assenti, deixando que ela beijasse minha testa e murmurei um "boa noite" antes que ela fosse dormir.

Eu ainda tinha meu quarto ali, apesar de não ter sobrado muito além da cama e da cômoda, já que levei tudo mais que gostava pra Seul. Ainda assim, me deitei no sofá, preferia dormir ali do que no quarto, porque me fazia sentir estranho todas as vezes que entrava lá dentro. Minha vida em Busan se resumia a ir pra escola e quando voltava pra casa ficava no quarto o dia todo. Talvez me incomodasse por ter sido o único lugar seguro que tive por anos e agora ficar muito tempo lá dentro me fazia sentir como numa cela solitária.