CAPITULO OITO - CONTRA A CORRENTE

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JEON JEONGGUK

As cerimônias de casamento na Coreia seguiam quase que uma norma desde que os deuses foram aceitos, depois da Segunda Guerra. Havia um consenso geral de que nossas tradições não deviam ser apagadas, então ocorria uma celebração de casamento exatamente como eram realizados na era de Joseon. Havia também uma segunda cerimônia, oferecida aos deuses, e essa podia ser para qualquer deus que achasse adequado.

Geralmente faziam a celebração em nome de Hera, pedindo bênçãos a família e fidelidade. Ou Eros, pedindo por amor... E também para que os filhos nascessem bonitos. Pedir por beleza nem era incomum e se o casal tivesse paciência o bastante para aguardar mais de um ano na fila de espera para casar no templo de Eros, era uma garantia maior de que os bebês nasceriam lindos. E, por fim, se o casal tivesse dinheiro sobrando depois de tudo isso, fazia um casamento comum, com vestidos brancos e ternos.

SiYeon-noona tinha dinheiro - o bastante pra não morar mais naquela pocilga que chamávamos de prédio -, ela até já tinha uma boa casa em Epidauro, que comprou com Woojin-hyung, mas eles só se mudariam depois do casamento, em setembro. Então eles fariam as três cerimônias. E eu tinha me dado até o final de maio pra contar aos meus pais sobre ela não ser minha namorada.

Eu ia contar! Tinha de contar! Só não seria aquela manhã, já que eu seria um bom ex namorado falso e iria ajudá-la com o vestido de noiva.

— O que acha desses, Ggukie? — o vestido estava sendo feito somente pra ela e a noona apontava pra mim as opções dos tecidos brilhantes que ficaria na saia. No momento ela usava uma versão muito mais simples do que o vestido seria depois de pronto — Esse aqui é...

— "Harmonia de Eros", senhora — a estilista disse, ela tinha abotoaduras de Apolo, o pequeno sol cravado numa pedrinha brilhante alaranjada, nas mangas do terninho preto. Apolo era o deus da moda também? — São todos tecidos da coleção particular dos deuses — a noona arregalou os olhos.

— Om... dos deuses? E-Eu... — ela riu meio nervosa — Acho que não tenho tanto dinheiro assim.

— Estão à disposição, não vai pagar nada a mais por eles — as funcionárias foram colocando as opções de tecidos divinos numa mesa ao lado do pequeno círculo onde a noona estava de pé e dispersaram em seguida — Fiquem a vontade pra escolher, eu volto em vinte minutos — ela fez uma reverência antes de deixar a sala de espelhos. SiYeon esperou até ter certeza de que não havia ninguém por perto pra falar.

— Acho que ela cedeu os tecidos por sua causa, Ggukie-ah — ela riu baixinho, chegando mais perto pra me acertar um tapa no ombro — Já é um ótimo presente de casamento, ah?!

— Não, não, eu quero comprar um. O prefeito aumentou meu salário — ela arregalou os olhos de novo — Alguém num programa de TV disse que eu devia ganhar melhor pro tipo de estresse que estou passando... E ele achou uma boa sugestão — dei de ombros.

— Eu não preciso de presentes, Woojin-ah tem uma boa família... Vamos, me ajude a escolher — me puxou pra mais perto da mesa — Se te tirei da investigação, você precisa ser útil.

— Como se eu realmente fosse útil na investigação...

— Não fala assim, voc-

— Noona... Eu sou péssimo! Eu não sei o que tô fazendo, minhas ideias são burras, não progredi em absolutamente nada... É como... Príncipe da Pérsia!

— O que?

— O jogo... Eu jogava isso no celular quando era criança. Tinha uma história de fundo bem legal, eu gostava muito. A cada nova fase, um novo pedaço da história aparecia. Tinha ação e a história e mais ação e mais história. Mas parece que tô preso na primeira fase do jogo. Eu até descubro coisas novas, mas não tenho o que fazer com o que sei. Não tem ação e a história não me leva pra lugar nenhum!

HAG: Human Among Gods - LIVRO 1Where stories live. Discover now