CAPITULO UM - O DEUS ESTÁ MORTO

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— Jeon... — a senhora Jung, da enfermaria, já era uma velha conhecida depois de tantas tentativas frustradas para entrar na corporação. Em algum momento eu sempre corria pra lá, pedia algo para fazer minhas mãos pararem de tremer e ficava deitado numa das macas até ter dignidade o suficiente pra voltar pra capital — Você de novo, hum? — ela caminhou pra perto, parando ao meu lado. A senhora Jung era bem idosa, mas serviu aos deuses mais da metade de sua vida, como os consagrados pelos 12 tinham direito de escolha na hora de se aposentar, ela preferiu permanecer trabalhando até quando conseguisse — Por que vem todos os anos se nunca conseguiu curar seu problema? Passa na seletiva de Zeus e Hera, mas na de Poseidon...

— É complicado.

— Claro que é, especialmente quando você não deixa nenhum deus te ajudar — me entregou o comprimido e um copo d'água, tomei de uma vez, deitando de volta — Continue como policial, é um serviço digno como qualquer outro.

— Eu preciso ir embora. Não tem como ir sem as missões de paz, eu não tenho dinheiro — senti o corpo pesar, em parte eu amava e odiava como os remédios tinham efeitos rápidos, eu conseguiria ficar 3 minutos acordados no máximo.

— Pra que precisa ir embora, Jeon? Do que está fugindo?

— Não estou — apertei os olhos quando um ponto de luz brilhou diretamente sobre meu olho direito, afastei o rosto vendo alguém parado perto da porta, a luz da janela tinha entrado e atingido o pingente de ouro. O tridente de ouro era usado somente por Poseidon. Meus olhos pesaram, e eu não sabia se ficava com raiva do remédio funcionar logo quando o deus chegou ali, ou dava graças aos céus por me poupar.

— Ele foi o único reprovado? — ouvi a voz grave dizer, e era estranho eu poder ouvir o oceano ao fundo, mesmo que o mar estivesse a quilômetros dali — É uma pena, você disse que o queria na sua equipe?

— Sim — ouvi a voz do tenente Moon — Mas o garoto não se dá com água, não sabe nadar e recusou as aulas de natação... não tem muito que possa fazer — nesse momento eu só queria que o remédio me apagasse de vez e me poupasse da conversa deles, porém provavelmente apaguei logo depois disso, porque não pude me lembrar de mais nada.

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Os "palácios de treinamento", eram grandes casarões consagrados a deuses. Os de Poseidon e Hades ficam em Daegu, já que era a cidade de nascimento de ambos. Deixar o prédio no dia seguinte foi frustrante assim como era todos os anos, eu tinha de passar pelo grande pátio da entrada, onde todos os selecionados ficavam aguardando até que fossem levados para o palácio de Hades. Ninguém sabia bem onde ficava, as histórias contavam que era uma grande casa de mil quartos em pedra negra que refletia a noite e que lá, as pessoas aprendiam a entender a morte, e parar de fugir dela. Eu nunca saberia se era verdade, porque não tinha coragem o bastante pra pular numa maldita piscina.

— Jeon — a voz soou do meu lado e pulei de susto quando vi tenente Moon — Como está hoje?

— Bem, senhor — disse, baixando a cabeça e desejando que o chão me tragasse.

— Desde que assumi essa função, você tenta quase todos os anos, inclusive nas 3 eletivas do ano passado e continua travando na mesma prova — "Por favor, qualquer deus que manipule a terra... me engula" — Dê mais uma chance pra polícia, eu sei que patrulhas e recolher bêbados na rua não é empolgante, mas talvez algo bom esteja esperando você lá.

— Isso é uma tentativa de me fazer sentir melhor?

— Se estiver funcionando, sim — abriu um sorriso, e me arrisquei a encará-lo — Eu sempre estou na capital no final do ano — enfiou a mão no bolso, tirando um pedaço de papel dobrado — Se quiser companhia para uma bebida... — permaneci um momento chocado, olhando dele para o papel, até ter coragem de pegar e abrir, vendo o óbvio: Um número de telefone.

HAG: Human Among Gods - LIVRO 1Where stories live. Discover now