A mulher no corredor

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           Já faz um mês que me mudei para este prédio, é um lugar agradável e por um preço razoável, moro no apartamento 103 do 6 andar, tenho uma vista bem ampla da cidade, trabalho muito então posso dizer que é reconfortante ter um lugar para chamar de meu e onde eu posso descansar longe de toda a zona da cidade. O prédio é um lugar tranquilo. Há muitas coisas agradáveis que nem posso enumerar, mas o que me incomoda é a senhora responsável pela limpeza. Sempre que eu subo para o meu apartamento ela está lá, quase como uma sombra, ela me encara, de uma forma que me deixa um pouco assustado, eu confesso, e depois esboça um sorriso, eu apenas aceno com a cabeça e entro. O que me incomoda nela, são as ações repetitivas, ela segura o carrinho de limpeza com uma das mãos, a outra permanece junto a perna, de início não parece estar olhando para nada, depois ela me percebe e me oferece aquele seu olhar tenebroso, acompanhado logo em seguida pelo sorriso de uma velhinha doce, que me segue até eu passar pela porta. É bem estranho que ela nunca apareça para fazer o serviço quando outras pessoas estão por perto. É sempre eu e ela.

          Até recentemente a presença assustadora dela não me incomodava muito. Mas então comecei a vê-la em outros lugares além do meu prédio. No início da semana após sair do trabalho, eu a vi, estava do outro lado da rua, as mesmas roupas, o mesmo carrinho, ela parecia totalmente invisível as pessoas que caminhavam apressada pelas ruas, eu fiquei estupefato, ela apresentava os mesmos movimentos repetitivos, como se fossem ensaiados, mão na saia, me olhando, depois sorrindo. Eu confuso, apenas ignorei e segui meu caminho.

          Dois dias depois, eu tinha esquecido o episódio que se passara em frente ao trabalho, era dia de fazer compras, eu estava no mercado, lendo o rótulo de um novo tipo de cereal. No instante em que ergui minha cabeça, eu a notei, estava parada no final do corredor, que agora parecia imenso, e vazio, como se houvesse apenas eu e aquela misteriosa senhora. Eu engoli em seco. A visão dela parecia diferente agora, a pele estava mais enrugada, quase podia vê-la rachar, os olhos pareciam mais profundos que dois poços, e as unhas pareciam ter crescido descontroladamente e quando ela sorriu, presas banhadas de sangue surgiram no lugar dos dentes. Eu pisquei várias vezes, tentando me convencer que era uma ilusão, quando voltei meus olhos para ela, era a mesma senhorinha de antes. Eu criei coragem e me dirigi a ela, mas ela pegou o carrinho e saiu, quando cheguei no próxima seção, ela havia sumido. Eu fiquei perturbado, decidi que quando chegasse em casa procuraria o senhorio e lhe falaria os acontecidos em torno dessa estranha mulher.

          Deitado em minha cama, eu sinto um frio que me faz tremer, ou talvez seja outra coisa, eu liguei para o senhorio hoje, assim que retornei e lhe contei que estava sendo seguido pela tal mulher, mas ele me afirmou que não havia nenhuma senhora trabalhando nesse prédio, ele contratava uma equipe de uma empresa de limpeza, a cada semana, e cada equipe era composta por um grupo diferentes de pessoas. Eu pensei em ligar para a polícia e informar o acontecido, mas faltou luz no prédio e todas as linhas telefônicas estão mudas, tudo está absolutamente silencioso dentro do meu apartamento, com exceção, do vento lá fora e do ranger de rodinhas de ferro no chão do meu quarto.

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