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Hoje fazia um ano desde a morte dos meus pais. Estava na biblioteca a ler um livro. Eu adorava ler. Quando lia eu transportava-me para o mundo que eu quisesse e era quem eu quisesse. Era muito melhor do que a deprimente realidade.
Estava andar pelo corredor à procura de outro livro para ler apesar de estar com mais três na mão. Até que o vi. Um livro com uma capa roxa escura já velha de desgastada. Estava escondido atrás de vários livros, como se alguém o tivesse escondido de propósito. Tirei-o de lá e sentei-me numa mesa para o ver.

- "Feitiços proibidos" - só pela palavra "proibido" no título do livro dava mais vontade de o ler. E foi isso que eu fiz. Passei a noite toda a lê-lo até chegar ao último feitiço proibido. - "O Início do Fim"

Era um nome estranho para dar a um feitiço mas depois de o ler percebi. O feitiço era de dar vida aos mortos. O início do fim era como uma metáfora a dizer que a morte não era o fim mas sim o início.
E foi aí que uma ideia me ocorreu. Passei a noite a estudar o encantamento e a ler todos os ingredientes precisos para o concretizar.
Nessa noite, arranquei essa folha do livro e saí às escondidas do castelo. Decidi ir até ao único sítio onde me sentia bem, a arvora onde estava a estátua da minha mãe. Uma homenagem que o povo decidiu dar-me depois de ela ter partido.

Depois de tanto ter estudado esse encantamento, disse-o e no fim eu tinha de fazer com um faca feita de uma pedra lunar, uma espiral na minha pele. Quando só faltava dizer a última frase que era "Há morte a aconselho como uma velha amiga e dou-lhe a oferta de sangue que ela quiser para trazer quem eu quero de volta". Eu não o podia fazer. Eu não podia trazer os meus pais de volta sabendo que estava a sacrificar duas pessoas há morte. Então não o fiz.
Escondi a folha dentro do tronco da árvore e fiz uma proteção de chamas nela para nunca ninguém encontrar aquela folha.

- Que foi? - perguntou a Rose. - Vocês não me vão dizer o que se passa?

- A folha. Eu escondi-a. - admiti desiludida comigo mesmo. Eu sabia que devia tê-la queimada mas de alguma forma aquela folha era o mais próximo que tinha estado de ter a minha mãe de volta.

- Temos de a destruir antes que as bruxas a descubram. - avisou o Dylan e eu concordei com ele.

- Pessoal? - com pena da Rose decidi dizer-lhe o mínimo possível do que fiz.

- Rose e Adler, eu cometi um erro e preciso de o concertar, já senão algo mal se vai passar no meu reino. Eu preciso de ir há estátua da minha mãe para acabar com isto.

Eles concordaram em ajudar-me e assim nós os quatro fomos a pé até há colina onde estava a estátua da minha mãe. Era estranho ir ali com eles dado que eu ia sempre sozinha ou com o Hector. Ter de lhes mostrar o sítio onde fico mais vulnerável era muito desconfortante.
Ao subir-mos a colina eu ia há frente a imaginar o que teria acontecido se eu tivesse concluído o encantamento. Será que teria resultado?

- Tu completaste-o? - ouvi a voz do Dylan atrás de mim mas nem sequer olhei para ele. Ignorei-o e continuei a subir a colina até que ele me agarrou o pulso e me virou de frente para ele. - Eu preciso de saber se tu o completaste...por favor. - foi aí que percebi. Ele queria se eu tinha mesmo sacrificado duas vidas de alguém ou não. Se eu era uma pessoa fria a esse ponto ou não.

- É aqui... eu sinto-o uma energia imensa aqui. As trevas e a luz de mãos dadas. A desequilibrarem a balança natural da magia. Eu sinto que a fonte de magia negra. - ouvi as vozes das três bruxas a falarem em coro. Elas estavam aqui. Elas descobriram-me.

Eu e o Dylan tentamos fazer silêncio para ver se elas não nos viam mas o Adler claro que tinha de estragar tudo.

- Porque é que paramos? - a sua voz era sempre assim tão aguda?

- Adler cala-te! - dissemos eu e o Dylan ao mesmo tempo. Nossa já parecíamos as três bruxas doidas.

- Que fazem aqui? - perguntaram as três a olhar nós todos com uma cara zangada de bruxa. Ainda estava na dúvida se elas eram trigémeas ou só apenas muito parecidas.
- A descontrair. - disse a primeira coisa que me veio há cabeça. - Estamos só a descontrair sabem.

- É, nós íamos sentar-nos aí para relaxar. - o Dylan apontou para a árvore de forma a elas saírem dali.

Elas estavam a olhar para nós e logo depois fecharam os olhos e puseram todas as duas mãos nas têmporas, massajando-as. Ainda de olhos fechados apontaram a mão direita na minha direção e depois abriram os olhos todas ao mesmo tempo. Será que eles ensaiam isto em casa?

- É ela! Ela é a fonte de magia nega que andamos há procura! - vieram todas na minha direção e eu sem perceber nada do que se estava a passar. A folha rasgada estava mesmo a frente delas, na árvore, e elas estavam a dizer que eu era a interferência na magia?

- Que dizem? - perguntei-lhes muito confusa e um pouco assustada com elas.

- Nas tuas veias não corre apenas o elemento fogo. O elemento espiritual está dentro de ti, Rainha Scarlet. Isso nunca aconteceu ante e não pode acontecer. Temos de te eliminar para não danificares o universo da magia. Tu és um vírus, Scarlet Fire. - elas não estavam a mentir. Eu tinha magia espiritual no meu corpo estava era desativada. Começaram a aproximar-se cada vez mais e levantara-me mão na minha direção preparadas para me lançar algum feitiço.

- Parem. Não é ela. Sou eu. - que está o Dylan a fazer. Ele pôs-se há minha frente e tirou uma pedra do bolso. - É isto que está a fazer interferência. - ele tinha na mão uma pedra lunar. Como é que ele tinha encontrado uma? Essas pedras eram raríssimas. Poucas pessoas é que tinham a sorte de as ter. Parecia que ele era um dos sortudos.

- Uma pedra lunar. - disseram elas a apontar para a pedra na mão dele. - Essa magia da lua é algo invencível que não devia existir. Dá-me essa pedra. - estranho eles esticarem todas o braço. Como é que alguém sabe a que mão dar? As pessoas ficam confusas!

- Se querem assim tanto. Vão buscá-la então. - o Dylan atirou a pedra pela colina abaixo o que fez com que as bruxas ficassem chateadas. Elas passaram por nos as três e antes de descerem a colina disseram-me ao ouvido.

- Iremos voltar-nós a ver.

- Isto foi tenso. - o Adler tinha duas caras. Ou era tímido e sossegado ou era chato e tono. Tenho de admitir. Ele às vezes dizia coisas tão desnecessárias que as pessoas ficavam a olhar para ele com uma cara confusa. Como agora nós os três estamos.

- Vai buscar a folha Scarlet. - disse o Dylan. Eu desfiz a proteção que tinha feito na árvore e tirei a folha dentro da árvore. Ainda estava intacta, mesmo com o passar dos anos dentro do tronco duma árvore.

- É esta. - segurei a folha com força quase a rasgá-la.

- Deixa-me vê-la. - pediu o Dylan. O que fazia? Se está folha ficasse nas suas mãos ele podia não querer que eu a destruísse. Eu sei como é ver a oportunidade de ressuscitares alguém. Como é ter esse poder nas tuas mãos e não poderes fazê-lo. Eu dei em doida nos dias seguintes mas fui suficientemente forte para não concluir o encantamento. Mas nem toda a gente tem essa força. Não me acredito que o Dylan tenha essa força.

- Não posso, Dylan.

- Que dizes? - ele tentou tirar-me a folha das mãos mas eu afastei-me dele. - Scarlet deixa-me vê-la!

Ele já estava fora do normal e nem tinha a folha na sua mão. A possibilidade de voltar a ver alguém morto é demasiado poderosa para se aguentar. Eu não posso lhe dar a folha, mesmo que ele me odeie para sempre.

- Desculpa Dylan. - olhei para a folha uma última vez e comecei a queimá-la. Há medida que ela virava cinzas e pó vi todas as esperanças dos mortos voltarem a viver, desaparecerem. Senti outra vez a dor de os perder e sei que o Dylan também da maneira como me gritava e de como Adler o tentava segurar. Nesse momento estava a acabar com a esperança de os voltar a ver, e de o Dylan voltar a ver a sua mãe. Mas era o mais certo a fazer. Na altura não o sabia mas agora sei. Não se deve brincar com a morte nem com a vida. Os mortos têm de continuar mortos e os vivos têm de continuar vivos. Isso é a Lei natural da Vida e da Morte.

✨✨✨

ESPERO QUE TENHAM GOSTADO

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬Onde as histórias ganham vida. Descobre agora