O Homem que Matou a Morte

Capítulo 5 - Matando a morte - novamente

Os dezessete minutos entre o momento em que a enfermeira Connely abriu o corte na garganta de Awaba novamente e o instante em que Nicole ouviu seu batimento cardíaco no eletrocardiograma durou uma eternidade para Burns, no subsolo do prédio quatro. Ele chegou a gritar para que não o deixassem ali sozinho, e quando os passos sumiram na distância, logo o silêncio tomava conta do corredor.

Burns se sentou na cama. Ele ficaria excessivamente paranoico, não fosse por dois fato. Primeiro, ele estava trancado ali, e isso dificultaria para qualquer entrar ali, também. Segundo, os outros soldados que o haviam levado para aquele quarto haviam sido de certo modo negligentes ao inspecioná-lo, já que inicialmente se pensava que o revólver e a faca encontradas na poça de sangue eram dele, e eles também não seriam tão implicantes com um colega de confiança como ele... Então Burns ainda tinha sua faca menor na bainha presa à perna direita, e estava pronto para usa-la.

Alguns minutos depois, ele ouviu novos passos descendo a escada. Pesados, mas inconstantes – seguidos de um assobio infantil. Quando a porta de madeira cinza foi aberta, Burns ficou surpreso ao ver Larry Schutland, um colega de sua idade, que havia entrado no exército junto com ele, segurando duas xícaras de café. Embora a base fosse grande, com seis prédios e uma grande quantidade de pessoal fixo, os militares de baixo escalão, como os soldados, costumavam se conhecer bem e muitos deles eram bons e próximos amigos. Para Burns, Schutland era um deles, embora tivesse tomado outro caminho – apesar de ser grande, ele tendia a ficar acima do peso e era muito mais propenso a atividades intelectuais, lidando mais com sistemas eletrônicos e programas do que com missões de campo, que era o caso de Burns. Ele trabalhava na equipe de administração das instalações, implantando novos sistemas de controle e gerenciando bloqueios, chaves e segurança, e naquele momento específico, ele era o oficial do turno no balcão de controle de chaves e etiquetas, na entrada do prédio.

– E aí, Burns?

– Schut?? – Abatido, mas tenso, Burns se levantou da cama.

– Eu estava entediado demais no balcão de chaves... E eu pensei que você poderia precisar de um café – Schutland esticou o braço entre as barras e entregou uma das xícaras fumegantes para Burns. – Você está bem, mano?

– Obrigado... – Burns tomou um gole. – Cara, eu... Eu não sei.

Em seguida, Schutland alcançou o bolso de sua jaqueta e pegou dois cigarros e um isqueiro.

– Não instalamos detector de fumaça nesse corredor ainda. Vai, pega um.

– Ah, não, valeu... Faz muito tempo que eu não fumo.

– Você está ligado, meu irmão... – O homem grande e gordo acendeu o cigarro, deu uma tragada e soprou a fumaça para o lado. – Todos os caras por aqui estão com você. Começaram a dizer um monte de merda, mas sabemos que você não fez aquilo. Ninguém foi claro conosco... Nós imaginamos que era uma operação secreta, mas achamos que alguma merda de verdade aconteceu lá, não foi?

– Sim, cara. Merda de verdade.

Burns olhou para Schutland diretamente nos olhos. Ele estava a um piscar de olhos de abrir a boca e contar tudo que vinha acontecendo desde que eles haviam partido para a missão. Se ele contasse para todo mundo, ele poderia – talvez – estar um pouco mais seguro. Ele não foi rápido o suficiente, e Schutland, ansioso e ofegante, encostado na parede ao lado da porta, continuou falando. Ele se aproximou das barras de ferro e falou em um tom mais baixo, reservado.

– Preciso te falar uma coisa; não foi só café que eu trouxe aqui comigo.

Schutland virou a cabeça para a entrada do corredor, verificando se não havia ninguém mais ali. Depois enfiou a mão direita no bolso de trás da calça, pegou algo ali e ergueu a mão diante da porta gradeada: um pequeno anel de metal com duas chaves penduradas pendia de seus dedos. Burns imediatamente arregalou os olhos – aquilo era inesperado, vindo de Schutland.