Capítulo 4 - Sangue e bipes

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Quando o coronel, Nicole e os outros policiais chegaram à sala de tratamento intensivo no segundo andar do prédio hospitalar, o alarme contínuo do eletrocardiograma que media os batimentos cardíacos de Awaba ainda estava ligado – Biiiiiiiiiii... Mas nenhum batimento era ouvido mais. Veridiana Connely, uma jovem enfermeira militar em seu terceiro ano de trabalho naquelas instalações, estava sentada no chão, com as mãos e roupas encharcadas de sangue, segurando um bisturi. Ao lado dela, na cama hospitalar, os lençóis haviam sido puxados para baixo, expondo a parte superior do corpo de Awaba; a cabeça estava inclinada para trás. Os curativos e os pontos em sua garganta haviam sido arrancados e o corte estava aberto e aprofundado. A impressão era que sua cabeça poderia se separar de seu corpo com qualquer movimento, tão profundo o novo corte era.

Quando eles chegaram à sala, os soldados já haviam isolado a cena e três deles tinham Veridiana sob a mira de suas armas. No entanto, tudo que ela fazia era chorar, soluçar, com os olhos perdidos, em estado de choque. Dubken passou pelos três homens e deu alguns passos lentos na direção da enfermeira. Biiiiiii... O som do eletrocardiograma tornava a tensão no ar quase insuportável.

– Senhora Connely, por favor, fique calma... O que quer que tenha acontecido aqui, acabou... Então, por favor, acalme-se.

Os três homens que os rodeavam, com os rifles firmemente apontados para a cabeça da enfermeira, aproximaram-se ainda mais. Dubken se agachou. Deu outro passo à frente; ele podia sentir seu pé direito pressionando a pasta vermelha escorregadia de sangue sob a sola de sua bota.

– Ok... Fique calma, Senhora Connely, vamos cuidar de você ...

Dubken estendeu a mão na direção do couro cabeludo. Ele podia ver os olhos da enfermeira, vibrando, cheios de lágrimas. Suas mãos tremiam. Ele esticou o braço – a mão dele tremia também, estava a dois centímetros da ferramenta cirúrgica. A enfermeira respirou repentinamente – Dubken inspirou com a tensão, mas prendeu o ar – sua mão tocou o cabo da lâmina... E agarrou-a. Finalmente, ele puxou o bisturi, enquanto a enfermeira, em choque, seguia seus movimentos com os olhos.

O coronel se levantou e recuou; um oficial aproximou-se com um saco plástico, ele deixou o bisturi cair ali dentro e o jovem levou-o embora. Finalmente, Nicole se aproximou deles com movimentos cautelosos. Dubken levantou a mão para os três homens armados e eles lentamente se afastaram, ainda com as armas em punho.

Nicole se aproximou da enfermeira soluçante e se agachou.

– Veridiana... Olhe para mim...

Lentamente, a jovem levantou os olhos para Nicole e tentou articular palavras.

– Eu... E-eu... Eu não queria fazer isso...

– Tudo bem. Venha comigo... – Nicole estendeu a mão para ela e delicadamente agarrou sua mão ensanguentada. – Vamos sair deste lugar, podemos conversar o quanto você quiser...

– Eu não queria... M-Mas eu o vi aqui no meu turno e... Tudo voltou à minha mente, e-eu... Eu estava com tanta raiva... Oh...

Debulhando-se em lágrimas, a garota se deixou cair no colo de Nicole. Dois dos homens armados se aproximaram deles e pegaram os braços da enfermeira, com a intenção de fazê-la se levantar.

– Não, não... Esperem um minuto, por favor. Deixem ela comigo.

Os homens olharam para Dubken, que assentiu. Depois, afastaram-se e começaram a ajudar o terceiro rapaz a organizar a bagunça na sala, conforme o grito da enfermeira, misturado com o ruído agudo contínuo do equipamento de monitoramento, resultava em um som estranhamente atordoante.

Pouco a pouco, a psicóloga ergueu a jovem enfermeira e ofereceu-lhe um ombro, enquanto alguns oficiais, depois de tirar fotos da cena, pegaram amostras do sangue e filmaram o corpo e o ambiente à volta de Awaba.

Nicole, Dubken e os soldados armados começaram a atravessar a passagem de saída da sala de tratamento intensivo.

Biiiiiiiiii... – o alarme contínuo do eletrocardiograma foi desaparecendo à medida em que eles se afastavam, quando de repente...

BII-BIIP!

Seus ouvidos eriçaram. Nicole parou e imediatamente agarrou o braço de Dubken.

BII-BIIP!...

O coronel arregalou os olhos, espantado, e todos se viraram, correndo de volta para a sala.

BII-BIIP!...




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O Homem que Matou a MorteUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum