Capítulo 16: Renata Martins

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RENATA MARTINS

A lanchonete estava com poucas pessoas. E eu agradecia. Não estava com vontade de sorrir para todo mundo. Não depois de brigar com Pedro. E também com Cecília. A vontade que eu tinha era esconder em meu quarto e chorar até secar todos os meus estoques de lágrimas. Ou de correr atrás de Pedro e lhe pedir desculpas por tudo que eu falei.

Se afaste de Pedro!

Por que essa voz na minha cabeça não desaparece? Mas, não. Ela sempre ficava ecoando em minha mente, me lembrando do que poderia acontecer se eu me rendesse e pedisse desculpas a ele.

Sei que exagerei (e muito). Principalmente com Cecília. Coitada, não tinha nada a ver com a história. Eu não gostei do que eles fizeram comigo. Mas, extrapolei. Entretanto, não podia voltar atrás. E, me manter no papel de melhor-amiga-fria era o melhor para todos nós. Quem sabe, um dia, eles me entendessem e me perdoasse?

Quando um casal de adolescentes entrou, torci para que Joanne atendesse seus pedidos. Mas, eu estava sozinha no momento. Ela havia saído para fazer uma entrega. Ou seja, sobrou para mim. Fui até eles e tentei colocar meu melhor sorriso.

Estava anotando seus pedidos, quando a garota começou a agir de maneira bem estranha. Parecia que havia algo de muito emocionante atrás de mim. Ela começou a se abanar. Pensei que ela estava passando mal. Ou que a Entidade Suprema de Beleza Extrema estava atrás de mim. E, assim que terminei de anotar seus pedidos, olhei para trás. Eu deveria imaginar. John Kerry.

Ele estava diferente dos outros dias que eu vi. Não usava mais óculos, nem a touca que escondia seus cabelos. Parece ter abandonado o disfarce de adolescente normal para se vestir como o astro de cinema reilarandense, como ele realmente era.

John fez um sinal para que fosse até ele. Eu fiz outro, pedindo para que ele me esperasse. Eu estava ciente de que estava pedindo para que um astro de cinema adolescente esperasse. E que, além disso, ele era um cliente. Mas, eu precisava me preparar emocionalmente e psicologicamente para conversar com ele.

Fui até o balcão, onde entreguei a Gabrielle o pedido do casal adolescente. E voltei até onde John estava. A garota do casal estava com ele, tirando uma foto. Esperei que ela desse uma de nostan. E, foi só quando ela voltou a se sentar que eu me aproximei mais.

— John Kerry. — disse com o sorriso que sempre dava aos clientes. Pedro costumava dizer que era o sorriso garçonete. Para de pensar em Pedro! — É um prazer tê-lo de volta a Lanchonete Estrelas Naturais. Já sabe o que vai pedir?

— Sim. Você. Quero dizer, uns minutinhos com você. — ele falou, com o sorriso Lucky Smith.

Além de ter passado o maior vexame no palco da lanchonete da minha família, teria que aturar esse projeto de Kevin Crosby no meu pé. Castigo por ter tratado meus amigos tão mal. Eu merecia.

— Desculpe. Mas, infelizmente, não vai dar. Estou trabalhando.

— Mas, você podia dar um tempo em seu trabalho e sentar aqui para conversarmos. Prometo que não vou tomar muito do seu tempo.

Como eu poderia dizer não de forma educada? Principalmente, para esse garoto, que deveria ser acostumado a ter tudo a sua disposição desde o nascimento?

— Eu realmente preciso trabalhar e ajudar meus pais…

— Não dizem que o cliente tem sempre razão? — ele me interrompeu.

Nem sempre, pensei em dizer. Mas, me mantive calada. Imagine se, por algum motivo, ele fosse fazer uma crítica da lanchonete em algum site ou em suas redes sociais? Tudo que eu fiz teria sido em vão.

Sonhos Possíveis [Concluído]Where stories live. Discover now