Capítulo 02: Renata Martins

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Ou seja, eu era a única garçonete no momento. E, ao invés do meu queridíssimo irmão me ajudar, assim que chegou, de algum lugar que não sei onde era, foi direto para o quarto. Minha vontade era ir até a nossa casa, que era em cima da lanchonete, e trazer Ricardo pela orelha.

Eu havia acabado de entregar a Gabrielle mais um pedido. Ela entrou na cozinha para pegar os lanches com um dos ajudantes dos meus pais. Apoiei meus cotovelos na pedra do balcão, esperando.

Foi quando senti um par de braços envolvendo minha cintura. Meu coração disparou. Mas, não foi de susto. E sim porque eu sabia quem era o dono daqueles fortes braços. E, todas as vezes que ele me abraçava, meu coração fazia questão de mostrar o quanto ele me afetava, batendo mais rápido do que deveria. E um frio na barriga aparecer com tudo.

- Pedro! - disse. Meu amigo me fez virar para ele.

- Como você sabia que era eu?

Por causa do seu perfume. Da sua presença. Porque meu corpo te conhece o suficiente para ficar diferente na sua presença. Era essa a resposta. Mas, eu não falei. Porque responder dessa forma era assinar minha sentença.

- Por que você, além dos meus pais e do meu irmão, é o único com intimidade o suficiente para me abraçar assim.

- Poderia ser um admirador. - ele falou, dando de ombros.

- Aí, ele sairia daqui direto para o hospital. E depois teria que responder um processo.

Pedro deu um pequeno sorriso. Um sorriso capaz de fazer meu coração bater com mais força em meu peito (se é que ainda fosse possível). Mas, eu precisava me controlar. Não podia ficar sorrindo como uma boba para Pedro. Ele era meu melhor amigo. Nada mais do que isso.

- Será que a gente pode conversar? - ele perguntou, um pouco mais sério.

Eu não tinha conhecimento de que tipo de conversa ele queria ter comigo. E queria muito um tempo com o meu melhor amigo. Mas, infelizmente, eu tive que negar. Com a lanchonete como estava, não podia me dar o luxo de alguns minutos de conversa com ele.

- Você não está vendo que a lanchonete está lotada?

Ok, eu sei que dei uma pequena-grande exagerada. Mas, pelo número de mesas ocupadas e eu sendo a única a atender, estava lotada sim. E, cada vez que um saía, mais entravam.

- Eu estou aqui sozinha, tenho que anotar e entregar os pedidos.

- Garçonete! - alguém me chamou.

Procurei pelo dono da voz por cima do ombro de Pedro. Precisei ficar na ponta dos pés para conseguir enxergar um homem sentando com duas crianças próximo a uma das portas. Fiz um sinal para ele, dizendo que estava indo.

- Cadê o seu irmão? - Pedro perguntou, ignorando o cliente - Eu vi ele na casa de Cecília. E, ele disse que viria te ajudar.

Então, os dois estavam lá? Eu não deveria me surpreender. Afinal, ultimamente, Pedro tem ido bastante à casa de nossa amiga. E, meu irmão vivia na casa de Cecília.

- Me ajudar? - ri ironicamente com suas últimas palavras - Ele está lá dentro. - disse, apontando para cima, onde ficava minha casa - Tocando aquela guitarra.

Eu não tinha nada contra o sonho do meu irmão em ser um guitarrista famoso e conhecido por todo o reino. Ou império. Nem com o fato dele gostar de tocar guitarra. Aliás, ele era muito bom no que fazia. Mas, quando não tinha outros garçons, ele deveria está trabalhando. Me ajudando. Ajudando nossos pais. Na nossa lanchonete.

- Se eu te ajudar, podemos conversar? - ele me perguntou, com um jeitinho que eu não conseguia dizer não. Mas, minha razão dizia que eu também não podia dizer sim.

Sonhos Possíveis [Concluído]Where stories live. Discover now