Capítulo 2

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Depois de mais uma entrevista de emprego infrutífera, Elisa Espinosa voltava para casa arrasada. A vida não costumava ser tão difícil assim. Na adolescência era vista como a garota espetacular, alguém que ia chegar a algum lugar, ser importante. Era uma líder, um exemplo a ser seguido, a chamavam de "Princesa Elisa", o apelido pegou por ter ganho 3 anos consecutivos o concurso de beleza "Princesa Pedra Branca", realizado anualmente no clube da pequena cidade em que vivia.

"Princesa" era um apelido ambíguo, amando-a ou invejando-a, pronunciado com carinho ou desdém, qualquer forma que fosse, no fim das contas acabava fazendo sentido. Ser uma pessoa querida e desejada fazia com que todos a tratassem como se de fato ela fosse uma princesa, com mais direitos e mimos que o resto dos pobres mortais.

Ser popular ia além da aparência física, era um estado de espírito. Elisa era a personificação do carisma e dona de um corpo escultural, o conjunto era uma combinação explosiva que chamava atenção, mesmo quando não havia intenção. Considerada por muitos a garota mais bonita do colégio, mantinha um tom de pele dourado de sol, livre de espinhas. Cabelos longos, que lhe chegavam até a cintura, num tom de loiro mel, que fazia par com seus expressivos olhos, grandes e brilhantes, como os de um felino. A boca, de proporções generosas, parecia desenhada para beijar. Para finalizar a pintura perfeita, levava confiante um furo saliente no queixo danado. No entanto, o que mais chamava atenção em Elisa era o sorriso, a garota tinha um jeito de sorrir que despertava sentimentos contraditórios; paixão, carinho, desejo, amor, inveja.

Destino irônico, a garota com um futuro promissor estava desempregada, em dois meses receberia o último seguro-desemprego. Não sabia como faria para continuar pagando metade do aluguel do apartamento de dois quartos que dividia com a amiga Marielle. Era humilhação demais! Nos últimos anos dedicou sua vida atuando numa empresa de exportação de mármore como secretária executiva, mas a empresa havia sido vendida e sua estrutura administrativa transferida.

Dobrou uma esquina, apertou seu casaco contra o corpo, o frio a fez voltar a seu presente. Era hora de tomar uma atitude drástica. Girou a chave na fechadura e entrou pela porta do apartamento:

— Elisa? — a amiga estava sentada no chão da pequena sala, papéis espalhados por todos os cantos, parecia estar separando, arrumando e empilhando, mas recolheu tudo rapidamente assim que a viu entrar e guardou — Como foi a entrevista?

— Ai, amiga...  — Elisa começou a responder, cabisbaixa — Não consegui nada não, mas tomei uma decisão importante.

— Da próxima você consegue, certeza! — Marielle quis dar uma força, diante da expressão desolada de Elisa.

— Andei pensando, Mari — Elisa se sentou no sofá, próxima a amiga — Vou me mudar para o Rio, lá tem muito mais empresas que aqui e talvez eu consiga algo na minha área.

— Mas Elisa, sua vida é aqui! — ao ver que Elisa falava muito sério, percebeu que era algo que ela já vinha cogitando há tempos, a amiga não era do tipo impulsiva — Você já analisou os prós e contras, não foi? —  a olhava incrédula.

— Mari, já tentei de tudo! — o olhar de Elisa era firme — Sei que sou capaz, só preciso de uma oportunidade! E oportunidade é o que não falta em cidade grande.

Marielle a olhou pensativa, avaliando. Elisa já havia visto aquele olhar outras vezes e sabia o que a amiga iria sugerir:

— Elisa, você precisa contar a sua mãe, pede ajuda por uns meses.

— De jeito nenhum! — jogou uma almofada na amiga — E ela vai tirar de onde essa ajuda? Vai pedir ao meu pai, claro! Nunquinha que vou dar a chance dele vir me chamar de sapatão de novo!

Minha Sina é Você - DegustaçãoWhere stories live. Discover now