Capítulo II

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— Você vai querer chá?

John despertou de seu transe matinal. Ele não estava acostumado a viver com outra pessoa, não mais. Mesmo depois de uma semana, ele e Sherlock ainda não haviam voltado ao que eram antes. Tudo parecia deslocado, por mais que o esforço de Sherlock fosse visível.

— Sim, por favor. — a sra. Hudson não estava ali, infelizmente. Era o primeiro café da manhã sem ela — estava fazendo biscoitos ou algo assim —, e o silêncio era muito mais perturbador. — Então... sem muitos casos por agora?

Sherlock o encarou por cima da xícara.

— Você sabe que sim.

— Não acha que seria interessante tentar, não sei, achar a cura?

— Não é a minha área. — disse Sherlock, dando os ombros. — Nós não precisamos conversar, John. Eu sei que... eu sei o que você sente.

Não, você não sabe, pensou John.

— Você não precisa se esforçar, é o que eu estou dizendo. Principalmente se for para falar de coisas que não importam. — continuou Sherlock, se levantando.  — Estarei lá embaixo, vou ver se a senhora Hudson precisa de ajuda. 

John assentiu. Fazer biscoitos não parecia ser algo que interessasse Sherlock, talvez fosse um hobby adquirido no tempo que ficaram sem se falar. Para alguém que gostava de ficar sozinho, ele estava visitando a senhora Hudson um tanto de vezes suspeito.

— Eu tento conversar e sou recebido assim. — ele murmurou. Ok, talvez ele não estivesse sendo exatamente simpático nos últimos dias. Sherlock não estava se portando muito bem, mas John tinha uma parcela de culpa. Estava tudo arruinado, de qualquer jeito. Nenhum dos dois iria dar o braço a torcer, então tudo que podiam fazer era agir como se nada tivesse acontecido.

O resto do dia passou sem muitos acontecimentos. Sherlock ficou grande parte do dia fora, aparentemente consertando a geladeira da senhora Hudson, mas John pressentia que era apenas uma desculpa para ficar longe. Sendo assim, John ficou horas e horas lendo histórias baratas de ficção policial. Nao chegavam nem perto do que já tinha vivido com Sherlock, é claro, mas era o mais próximo que ele se deixava chegar.

— Eu te comprei alguns livros. 

John parou de ler e olhou para Sherlock. O sol já estava se pondo, o que tornava a leitura cada vez mais difícil, principalmente porque John se recusava a se levantar e ligar a luz.

— Você saiu de casa?

Sherlock deu os ombros.

— Fui comprar algumas coisas para a sra. Hudson. Não se preocupe, usei máscara e lavei as mãos.

John assentiu hesitante. Sherlock estva, no mínimo estranho.

— Enfim, aqui estão. — ele deu dois livros para John. — Agatha Christie, muito boa. Eu lia.. quando era menor.

Ele parecia hesitante, muito diferente do Sherlock que John estava acostumado.

— Obrigado. vou ler assim que terminar esse. — Sherlock ficou ali, parado, por mais alguns momentos, até ir se trancar em seu quarto.

Ele ficou lá a noite toda. Por volta das nove, John lhe mandou uma mensagem perguntando se ele iria querer macarrão. Não houve resposta. A sra. Hudson por outro lado, aceitou o convite, e aproveitou para conversar o tempo todo. Contudo, não falou nada sobre Sherlock.

John não podia parar de pensar em como tudo seria diferente se ele e Sherlock ainda fossem próximos.

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