Capítulo IV

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Na outra manhã, Sherlock levantou cedo. Não se importou se John ainda estava dormindo (e mal ficou encarando-o dormir), ou se estava frio, tomou um banho e se pôs a assar alguns biscoitos.

Ele não tinha ideia de quantas horas eram, mas quando a sra. Hudson apareceu, ela parecia ter acordado há pouco tempo.

— Sherlock, querido, você está... animado.

— Só liberando uma energia extra, sra. Hudson.

A verdade é que ele não conseguia pensar em outra coisa a não ser como remendar a relação entre Harry e John. Se ele não poderia fazer isso com a relação entre eles dois, o mínimo que podia tentar era não deixar John se distanciar de sua única família. O que seria especialmente difícil se ele não quisesse.

A verdadeira razão para querer fazer isso o incomodava, persistentemente lembrando-o do quanto ele era egoísta: se John não pudesse reparar a relação com a própria irmã, Sherlock poderia desistir de algum dia voltar ao que eram. Mas ele não estava pronto para desistir, não ainda.

Ele tentou se lembrar do que John havia falado sobre Harry durante os anos, mas nunca fora muito. Ele não tinha ideia sobre como seria um almoço com ela. Poderia piorar ainda mais a relação entre os dois, mas isso era impossível, certo? Sherlock tinha que tentar.

A sra. Hudson não ficou lá por muito tempo, comeu alguns biscoitos com geleia e então avisou que não apareceria pelo resto do dia -- alguma maratona de filmes antigos na TV? Sherlock não prestou muita atenção -- e que eles poderiam almoçar e que apenas talvez aparecesse para o jantar.

Sherlock tentou desacelerar, ele realmente tentou. Procurar algum caso à distância, assistir algo na TV, analisar a poeira do apartamento. Mas pela primeira vez em muito tempo ele tinha algo em mente, algo para fazer a ainda melhor, algo que poderia trazer esperanças para o futuro de seu relacionamento com John.

Seu notebook estava no quarto que John ainda não havia deixado, e Sherlock não queria ir até lá e correr o risco de acordar John, por mais improvável que fosse ele ainda estar dormindo. Ele queria fazer alguma coisa para comerem. Talvez não estivesse perto da hora de almoçar, mas era a única coisa que o concentraria o suficiente.

Cozinhar sem seguir uma receita com certeza não daria um bom resultado, então ele passou alguns minutos tentando se lembrar de alguma receita fácil enquanto andava pela cozinha. O que era a prova de falhas o suficiente?

Macarrão. Sherlock podia fazer macarrão. Só esquentar a água, e depois pensar em algum molho. Isso. Ele não conseguiria estragar macarrão.

Em alguma parte do processo do molho (por quê cozinhar tinha que ter tantas etapas?), John apareceu na cozinha, rosto barbeado e olhos menos fundos do que há alguns dias atrás, mas ainda deixando claro seu cansaço.

— O que você está fazendo? — ele perguntou, enquanto observava Sherlock mexendo repetidamente a panela.

— Pensei em dar uma mudada no cardápio de hoje. Macarrão à bolonhesa. Perfeito para três pessoas. E a sra. Hudson não vai almoçar aqui hoje...

— O que ela está fazendo? — John se aproximou de Sherlock, dando uma olhada na panela. — Sherlock, onde está a carne moída?

Sherlock franziu a testa, e se virou para John. Céus, ele conseguia sentir o cheiro da colônia dele—

— Carne moída?

— Macarrão à bolonhesa? Carne moída é o principal ingrediente. E não tem nenhuma carne moída nesse molho. Sem carne moída, é igual o macarrão que você fez para mim esses dias atrás.

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