quarantined

Capítulo I

Não estava frio, pelo menos não para quem estava acostumado ao clima de Londres. John olhava o céu pela janela de sua sala, pensando em nada e tudo ao mesmo tempo. Seus dias pareciam vazios. Nada mais fazia sentido. Seu telefone vibrou em cima da mesa por alguns instantes, até ele ter forças para se levantar.

— Alô?

— Ah, John, ainda bem! — a voz do outro lado da linha estava abafada, porém John conheceu reconhecê-la.

— Sra. Hudson? Aconteceu alguma coisa?

A mulher do outro lado da linha deu uma risada fraca.

— Não, não, quer dizer, por enquanto. — ela fez uma pausa. — Como você está, querido?

John conversou com a Sra. Hudson por algum tempo, contando como passava nos últimos dias. Mentiu varias vezes, é claro. Não queria lhe contar que não comia há alguns dias e que o turbilhão em sua mente parecia não ter fim.

— John, querido, não liguei apenas para saber como você está. Claro, estou preocupada com você, levando em conta os recentes acontecimentos, porém também estou preocupada com Sherlock.

John se segurou para não revirar os olhos.

— Sherlock? O que ele fez dessa vez? Drogas, de novo?

— Não, não, ele está limpo, John. Pelo menos, até onde eu sei. Só que mesmo com toda essa situação, ele continua saindo de casa, John. Eu tenho medo que ele vire um risco para si, ou até mesmo para mim. — a Sra. Hudson parecia realmente preocupada.

Claro, John havia visto algumas coisas no noticiário, mas não havia prestado muita atenção. Vírus infectando várias pessoas, quarentena para todos. Não é como se o estilo de vida dele fosse diferente antes.

— Sra. Hudson, não sei se posso te ajudar com isso. — ele suspirou. — Não é melhor ligar para Mycroft?

— Ah, querido, eu já tentei! Mas você sabe como Sherlock é, John. Você é a única pessoa que ele escuta. Por favor. Não sei se ele conseguiria aguentar se fosse infectado. Ele está bem mal também.

A vontade de John era dizer que aquilo não era problema dele, mas a Sra. Hudson foi mais rápida.

— E você pode ficar conosco até a situação melhorar! Não acha que seria melhor ter contato com sua família nesse período, John?

"Sherlock não é minha família há bastante tempo", pensou.

— Certo. — respondeu John após alguns segundos. — Verei o que posso fazer.

¤◆¤

Sherlock não estava prestando atenção ao seu redor quando John passou pela porta. Por isso, ficou surpreso ao vê-lo parado em frente à sua poltrona.

— John. — ele disse em um sussurro.

Já faziam semanas desde a última vez que Sherlock viu John. Meses, talvez. Ele tinha medo de que aquela seria a última vez que o veria.

— Oi. — John falou. Seu tom era seco. Ele ainda não o havia perdoado.

Sherlock se levantou. Ele precisava falar. Ele precisava falar agora, ou então–

— Meninos! Vejo que já estão conversando! — a sra. Hudson apareceu com uma bandeja com xícaras e um bule, e a oportunidade passou. — Venham, eu fiz chá!

Os três se sentaram na mesa, e o clima estava estranho. Felizmente, a sra. Hudson preenchia o silêncio. Sherlock não prestava atenção, não realmente. Ele observava John; ele estava tenso, e descuidado. Sua barba estava por fazer, e tinha olheiras. Parecia mais magro desde a última vez que o viu.