Capitulo V

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Quando ele voltou à sala, John, Molly e Greg estavam em uma conversa animada sobre o que haviam feito para passar o tempo, agora que sair de casa não era uma opção tão boa assim.

Molly, por mais bizarro que parecesse a Sherlock, havia começado a assar pães. Tudo bem, ele entendia os prazeres de cozinhar agora que tinha começado, mas virar padeiro nunca lhe pareceu muito agradável.

— É sério, Sherlock! — ela exclamou depois de ver o olhar de reprovação em seu rosto. — Quando você sente o cheiro do pão de fermentação natural saindo do forno, não tem volta. Nada comprado fora é tão bom quanto. Vou trazer aqui para vocês qualquer dia desses.

Sherlock sorriu levemente, não porque acreditou que fazer pães era um hobby interessante, mas porque isso significava que ela voltaria ali. Isso seria bom, definitivamente.

Greg começou a montar quebra-cabeças. Isso Sherlock entendia mais um pouco, mas ainda assim... desperdício de tempo. Há coisas mais valiosas a serem treinadas.

— Nem vem, Sherlock. Um dia vou te trazer um quebra-cabeça de mil peças, quero ver quanto tempo você leva. Não é tão fácil quanto parece.

Sherlock deu os ombros, mas aquele comentário também o deixou satisfeito. Ele montaria vários quebra-cabeças se isso significasse passar mais tempo com seus amigos.

— E você, John? — perguntou Molly, bebericando seu chá.

Todos se viraram para olhá-lo. John, que antes estava sorridente, ficou de repente mais sério.

— Deixe-me ver. Hmm. Eu voltei a jogar xadrez, algo que deixei de fazer por frustração anos atrás por culpa desse chato aqui. — ele disse rindo, e indicou Sherlock com a cabeça.

— Não foi minha culpa!

— Claro que foi, Sherlock. Eu não podia fazer uma jogada sem você dizer o nome dela, a história e exatamente como você me derrotaria.

— Eu estava te preparando, é só.

John riu, e continuou.

— Eu também... passei a tocar um pouco.

— Tocar? — Greg o instigou.

— Quando eu era menor, eu tive algumas aulas de piano. Não muitas. O suficiente para me interessar, sabe? E aprender a ler partituras, esse tipo de coisa. Nunca aprendi nada muito complexo. E a biblioteca do bairro tem um piano, e algumas várias partituras, e eu voltei a treinar, de vez em quando. — ele sorriu para si mesmo. — É interessante. Desafiador. Muda a rotina.

— Isso é muito bom, John. — falou Molly. — Gostaria de te ver tocando.

— É, quem sabe quando eu estiver mais confiante. — ele respondeu, com a mão na nuca. — Vocês viram o noticiário de ontem?

E então a conversa tomou outro rumo total, mas Sherlock não estava mais prestando atenção. Ele não se lembrava de John ter mencionado tocar piano, nunca, nem mesmo antes. E agora ele estava praticando novamente? E nem tinha lhe contado. Sherlock não o vira saindo de casa tanto assim. Talvez foi alguma coisa de antes, quando ele estava morando sozinho.

De qualquer jeito, Sherlock se sentiu... não que havia sido contado mentiras, mas que John o havia deixado de lado. Era algo pequeno, claro. John não tinha nenhuma obrigação de mencionar, ele sabia disso. Mas ainda assim. Por quê ele não havia dito? Teria sido um bom jeito de começar uma conversa. Ele sabia que Sherlock apreciava música.

Não importava no momento. Sherlock fez o possível para aproveitar ali, o agora, com seus amigos, mas assim que eles foram embora, a sensação de solidão voltou. O caminho a ser percorrido era maior do que ele imaginara.

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