Nicholai

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Nicholai

Disparou a SIG uma terceira vez, e o corpo finalmente parou de se mexer.

Uma cena comum à Raccoon City infectada pelo T-Vírus, na qual os poucos membros remanescentes da polícia e do U.B.C.S. lutavam por suas vidas tentando parar as hordas de zumbis – qualquer um diria.

Isso se o homem derrubado por Nicholai não agarrasse suas calças até meio minuto atrás, gritando por socorro.

Tinha de se certificar quanto a abater os alvos sem danificar suas cabeças. Era sua estratégia própria para cumprir as ordens dadas pela Umbrella: não diferir a queima de arquivo de mortes que poderiam ser causadas pelos infectados. Os outros Supervisores tinham suas próprias táticas, talvez menos arriscadas; mas a si aquela era a que melhor funcionava... Ainda que trazendo o ônus de as vítimas demorarem a morrer.

Pedidos de misericórdia não eram algo que o comovesse, felizmente. E, ouvindo os grunhidos dos zumbis que atraíra até ali na passarela externa ao sobrado, além de suas batidas contra a porta, concluiu que mais uma cena de eliminação seria camuflada com sucesso.

A porta do depósito era mais resistente que o costume, o que significava ter alguns minutos a mais de exploração. Pretendia aproveitá-los.

O farmacêutico tinha um cofre no recinto, sem nenhum indício da combinação – apenas uma nota besta sobre sua "garota Aqua Cure" não deixá-lo na mão. Pelo modo como escrevera e o sujeito demonstrava ter ninguém em Raccoon, parecia o exato contrário...

Nicholai imaginou se poderia ser uma dica apontando a solução estar na farmácia – droga, as pessoas naquela cidade tinham um gosto peculiar por enigmas! – do outro lado da rua. A via já estava cheia demais de mortos-vivos para dar-se o trabalho, porém; e não imaginava o que o infeliz poderia guardar de tão valioso. Se fosse mesmo esperto, ele teria conseguido ocultar o segredo de descobrir as atividades escusas da Umbrella, ao invés de enviar uma carta e fotos ao R.P.D., justo a evidência que possuía...

O sujeito não fazia ideia, mas existia certo perigo em ser do ramo de medicamentos numa cidade controlada por uma gigante do ramo e envolvida, ao mesmo tempo, em todo tipo de experimento biológico proibido por leis internacionais. Carregamentos iam e vinham, até um simples engano sobre uma remessa de antigripal e uma visita não autorizada ao endereço que o enviara terminarem com o farmacêutico descobrindo sobre a natureza do "NEST 2", o laboratório secreto da Umbrella embaixo do Hospital Spencer Memorial. Depois de recorrer em vão à polícia – e ter suas valiosas provas confiscadas pelo chefe Irons, que gastava todas as propinas ganhas da Umbrella em arte dantesca ao prédio da delegacia – o coitado tentou os jornais, mas nisso a epidemia já começava e eles estavam ocupados demais cobrindo as mortes por toda Raccoon para lhe darem atenção.

Trancado no depósito de sua farmácia, ele tornou-se, sem saber, mais um nome na lista dos Supervisores. Talvez houvesse até suspeitado, mas preferiu a inércia, acreditando que a Umbrella não viria atrás de si com tudo que ocorria...

Bem, a empresa não planejava deixar pontas soltas. E isso incluía a própria cidade, em vias de ser dizimada assim que os executivos usassem sua conexão com o governo norte-americano para lançar um míssil nuclear. A "faxina" feita pelo U.B.C.S. – na ignorância da maioria de seus membros – acelerava o processo para que a destruição pudesse ocorrer sem a Umbrella correr riscos ou perder algo valioso que ainda permanecesse em Raccoon; Nicholai sendo um daqueles contribuindo a isso.

O russo olhou uma última vez para o cofre. Se o farmacêutico houvesse trancado uma cópia das provas nele, tudo seria desintegrado pelo fogo atômico. Não era o procedimento mais recomendado, mas havia muito mais que fazer pela cidade, e o tempo disponível diminuía. O miserável ao menos já tombara, incapaz de fugir e causar novos problemas.

Raccoon: A QuarentenaWhere stories live. Discover now