Lena pegou os sacos de supermercado do porta-malas do carro. A conselho de Sam, protelara a volta para o lar a fim de dar a Kara algum tempo de reflexão. Ela também precisava ficar sozinha, embora lhe parecesse covardia.
— Não sou covarde — resmungou, chutando um dos pneus do carro.
Havia decidido contar-lhe a respeito do casamento e do acordo sobre o bebê. Se não desse certo, Sam providenciaria algum tratamento alternativo. Lena esperava que isso não fosse necessário. Não achava que fosse sobreviver a tanta agitação.
Já seria bem ruim contar a Kara a verdade e perder a magia dos últimos dias. Ainda que não fosse real, fora maravilhoso.
— Anjo? Por onde andava? Estava preocupada com você. — Kara abriu a porta e tòmou-lhe os pacotes das mãos. Então, beijou-a. — Acho que vai chover.
Pestanejando, Lena lançou um rápido olhar ao céu. As nuvens se acumulavam, ocultando o sol, e rajadas de vento agitavam as árvores. Uma tempestade de verão se aproximava.
— Fui fazer compras.
— Estou vendo. — Lançou-lhe um sorriso quente, sensual, que a derreteu. — Entre. Você parece cansada.
Lena pestanejou de novo. Parecia um episódio de Além da Imaginação. Ao sair, deixara uma mulher furiosa e, ao voltar, encontrava uma esposa carinhosa.
— Preciso conversar com você, Kara. — Entrou na casa, e viu-se diante de mil flores. Rosas, margaridas e narcisos. De todas as cores imagináveis, numa rica mistura de aromas.
Seguiu Kara até a cozinha, encontrando a mesma variedade de flor em todas as peças.
— De onde veio tudo isso, Kara?
Kara largou os sacos sobre a mesa.— Da floricultura. Depois conversamos. Por que não toma um longo banho para relaxar, enquanto preparo o jantar?
— Estou bem. Mas...
Sem dizer palavra, ela a puxou para si e a beijou de novo, dessa vez com mais arrebatamento, deixando-a sem fôlego e trémula.
— Vamos lá para cima, querida. Quero lhe mostrar algo.
Ainda tremendo, Lena obedeceu, acompanhando-o escada acima. Kara era perigosa. Essa mulher, sobretudo sua velha amiga, não deveria saber beijar tão bem. Não era justo.
Pararam à porta do quarto do bebê.
— Ahá! Que tal, anjo? Gosta?
Havia uma bela cadeira de balanço no centro do quarto. A madeira era dourada e polida e combinava muito bem com as paredes amarelas.
Não tínhamos uma cadeira de balanço — disse Kara, fitando-a com orgulho. — E achei que precisávamos de uma, com a vinda do bebê.
— Onde... Como a trouxe para cá? — perguntou Lena, espantada. Saíra com o carro, e sabia que o móvel não caberia no Porsche de Kara.
— Liguei para uma loja de móveis e ofereci uma gorjeta se a entregassem de imediato. Trouxeram três, para que eu escolhesse.
"Kara lhe comprara uma cadeira de balanço." Atordoada, Lena sentou-se e alisou-lhe os braços. Era confortável e espaçosa. Ela própria não teria escolhido melhor.
— Gostou, querida?
Uma lágrima desceu-lhe pelas faces.
— É maravilhosa.
— Ei, o que foi? — Enxugou-lhe o rosto com o polegar.
— Hormônios. Mulheres grávidas choram bastante. Temos o direito.
Kara se ajoelhou junto dela e tocou-lhe o ventre.
— Ela está se mexendo. Não é fantástico?
A expressão maravilhada de Kara encheu-a de dor e ternura.
— Li a respeito — prosseguiu Kara. — Ela já tem dedos nas mãos e nos pés, mesmo tão pequena.
Acredita nisso?Lena reclinou-se, querendo aferrar-se àquele momento passageiro. Mas precisava contar-lhe. O fato de Kara ter decidido esquecer a briga não alterava nada.
— Sobre esta tarde, Kara, eu queria explicar...
— Não — apressou-se em interrompê-la. — Desculpe-me. Não sei o que deu em mim.
— Mas...
— Anjo, isso é passado. Quero que fiquemos juntas.
— Precisamos conversar, Kara.
— Foi uma briga boba, e não precisamos voltar a ela.
— Kara, nós temos mesmo de...
— Ora, vamos, querida! É natural que os casais se desentendam, às vezes. Acontece. Aposto que você quis torcer meu pescoço por ser tão estúpida.
"Entre outras coisas."
— Não está mais zangada por causa do apartamento?
— Só por ter agido como uma idiota. Você deve ter achado que eu havia enlouquecido, brigando a respeito de algo que desconhecia por completo. Acho mesmo que devemos abrir mão do contrato. E muito caro. Além disso, planejo mudar minha agenda.
— Mudar?
— Claro. Não posso deixar você e nosso filho sozinhos tanto assim. Quero estar aqui.
Lena se perguntou se estaria ocorrendo um terremoto ou se era só seu mundo pessoal que estava tremendo nas bases.
— Mesmo, Kara?
— Sem dúvida. Agora, vá tomar um banho e esqueça essas bobagens. Eu já esqueci.
Com uma agilidade surpreendente para sua altura, Kara se levantou e saiu do quarto. Lena segurou com força os braços da cadeira. Talvez tivesse entrado na toca de um coelho. A verdade era que se sentia como Alice no País das Maravilhas. Confusa e perplexa.
Virou a cabeça e viu rosas amarelas no berço de vime. Kara gastara uma fortuna em flores. Ainda atónita, foi até o quarto principal.
Arranjos florais ali, também. E o banheiro estava repleto de samambaias e copos-de-leite, complementado a decoração em verde e branco.
Era romântico.
E extravagante.
Precisa contar-lhe a verdade.
— Contarei, quando chegar a hora certa — disse Lena a sua consciência inquieta. — Kara não está mais zangada, afinal. Só quero mais uma noite.
Indiscutível. Queria, sim. Mais momentos apaixonados para ter o que lembrar quando Kara voltasse a Metropolis, amaldiçoando-a ou rindo dela. Não faria diferença. O mal já estava feito. Não podia voltar atrás na intimidade que já haviam compartilhado.
Resignada, pegou o robe e o vestido mais sexy no guarda-roupa. Escolheu um sutiã e calcinha de seda e um perfume francês que Kara lhe comprara em uma de suas viagens. Passaria o perfume em alguns locais estratégicos. Ela iria gostar.
De repente, estacou ao se ver no espelho da penteadeira. Lingerie sexy? Perfume em locais estratégicos? A quem queria enganar?
Virou-se de lado. Nenhum vestido, nenhuma fragrância conseguiria ocultar a barriga de cinco meses de gravidez. E, se descesse as escadas vestida como uma vamp, seria um convite óbvio. Não devia parecer tão ansiosa. Devia tentar ressaltar a gravidez e a inacessibilidade. Embora não acreditasse que houvesse uma possibilidade de salvar a amizade com Kara, precisava tentar.
E devia procurar contar-lhe a verdade se surgisse uma oportunidade, para que Kara não pensasse que ela estava se aproveitando da situação.
Abatida, descartou o vestido sensual em favor de uma blusa de mangas longas e uma saia. O tecido macio iria ressaltar-lhe o ventre. Cada centímetro que ganhara naqueles meses de gestação ficaria evidente. Suspirando, trancou a porta do banheiro e tirou o short e a camiseta. Nem se preocupou em olhar-se de novo no espelho. Ficaria deprimida demais.
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Uma esposa, e grávida? - Supercorp
Fanfiction/Concluída/ As fotografias de casamento haviam sido recortadas, e o lugar onde deveria estar o noiva era apenas um espaço vazio. Além do mais, a esposa morava em um apartamento separado! Havia algo de errado no casamento de Kara Danvers. Ela, porém...