Capítulo 06 - Estávamos em momentos diferentes

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— Perdão, querida. Não deveria pressioná-la. Sei que esse estresse comigo pode afetar o bebê.

— O que está pensando?

— Não sei. Tenho receio de que não quisesse a intimidade por outras razões. Por exemplo, talvez estivéssemos tendo problemas conjugais.

Havia um tom interrogativo na afirmação de Kara.

— Não estávamos tendo problemas desse tipo.

Kara assentiu. Não estava convencida, mas não queria insistir. Afinal, Lena estava grávida. Podia ser afetada por vários fatores. Até mesmo o casal mais feliz precisa fazer ajustes quando vem o primeiro filho.

— Vamos voltar. Não quero que tenha outro enjoo. — Lena assentiu com um gesto de cabeça.

Quando chegaram em casa, Lena estava com dor de cabeça de tanto fingir que tudo estava bem. Kara fazia muitas perguntas. No fundo, tinha razão, porque nem tudo estava em seu devido lugar. Pelo menos não do jeito que ela esperava.

"Tudo vai ficar bem quando Kara se lembrar."

Nos últimos dias, Lena ficava repetindo essas palavras para si mesma como um mantra. Mas não conseguia deixar de sentir um medo cada vez mais forte de que nada voltaria a ser o mesmo entre elas.

Como poderiam esquecer os beijos arrebatados? As carícias íntimas, as palavras? Ou Kara seria capaz de encarar como uma piada e seguir em frente? Lena suportaria, se ela o fizesse?

Engoliu em seco. Não estava pensando com clareza. Era óbvio que desejava que as coisas voltassem ao normal. Queria a velha Kara de volta. O relacionamento costumeiro. Romance era algo que dava trabalho demais, e dali a poucos meses estaria ocupada com o bebê.

— Anjo? Você está muito quieta. Quer se deitar?

— Não, Kara. Dormi no barco. — Ajeitou a saia, nem um pouco à vontade. Não estava acostumada com Kara observando-a com tanta atenção.

— E o enjoo?

— Melhorou. — Fez menção de pegar a caixa de isopor que Kara carregava, mas ela sacudiu a cabeça e levou os lanches ainda intactos para a cozinha. Lena suspirou e a seguiu.

— Foi muito desagradável eu ter estragado seu primeiro dia em casa. Pode me perdoar?

— Não estragou nada, querida. Você está grávida. Devia ter percebido que o barco era uma péssima ideia. Eu é que devo lhe pedir desculpas.

— Mas...

Kara deu-lhe um rápido beijo na testa.

— Tudo bem, Lena. Vamos comer o lanche e depois trabalharei no quarto do neném.

Lena piscou, sem saber o que pensar. Como Kara sabia a respeito do quarto da criança que ela planejara? Estaria recuperando a memória?

— Você quer mesmo fazer isso, Kara?

— Sem dúvida. E ao lado do nosso, certo?

Ela assentiu.

— Vi as latas de tinta, as caixas do berço e outras coisas quando fui explorar a residência. Presumi que fosse para nosso pimpolho.

— Claro. Mas você deveria descansar por uns dois dias. Afinal, acaba de sair do hospital. Podemos cuidar disso mais tarde. A criança não virá tão cedo.

— A dra. Árias falou que eu podia retomar minhas atividades normais. E o que pretendo fazer. Estou ansiosa. O trabalho vai me ajudar.

Kara virou uma cadeira e sentou-se ao contrário, num gesto que deixou Lena arrepiada, pois ela costumava se sentar assim antes. Certa vez, lhe contara sobre o lar dos pais adotivos, sobre as brigas e palavrões durante as refeições. Quase três décadas o separavam das tristes imagens da infância, mas Kara continuava colocando a cadeira como barreira entre ela e a mesa. Mesmo com a amnésia.

Uma esposa, e grávida? - SupercorpTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon