"Ok, como queiras. Espero que estejas ciente da tua decisão."

 Estas foram as últimas palavras que Zayn dissera antes de fechar a porta. A força que ele usara para elaborar a ação fora tanta que as vassouras que se encontravam estáveis contra a parede acabaram por cair, causando ainda mais ruído. O meu corpo acaba por escorregar pela parede desocupada, que se encontrava do meu lado esquerdo, e finalmente consigo libertar todos os sentimentos que se haviam acumulado em mim.

 Gostava de não ter ouvido os rumores e continuar iludida. Iludida, mas feliz.

 Neste momento estou desfeita, no chão. As gotas provenientes das lágrimas que acabam por cair na minha roupa logo se misturam com as gotas de água da chuva que havia apanhado à vinda para o interior da universidade.

 Era complicado controlar a minha respiração e era igualmente complicado parar de chorar, ainda que pensasse conseguir quando quisesse. Nunca imaginei chegar a esta situação por causa de um homem. A minha respiração encontra-se cada vez mais ofegante e estou inábil de sair deste espaço devido à minha fraqueza emocional.

 Estou ciente de que o meu telemóvel está a tocar mas não o consigo atender. Honestamente, eu não o quero atender. Estou vulnerável por causa de um homem que traiu a minha confiança, que me fez acreditar de que o que ele sentia era verdadeiro. Estou desiludida comigo mesma por ter ido na sua conversa e ainda estou ainda mais desiludida comigo mesma pior por ter sempre entrado nos seus jogos.

 O jardim onde os estudantes costumavam conviver parecia estar mais barulhento do que o normal e o meu caminho até ao dormitório parecia nunca mais chegar ao fim. Após ter ficado cerca de duas horas fechada na sala de arrecadação, acompanhada pelo silêncio e pela intensa dor no peito, decido apanhar um pouco de ar fresco e refletir melhor a minha circunstância.

 Já não chovia mas o frio aparentava ter agravado. A insegurança ia crescendo dentro de mim à medida que os olhares alheios caiam sobre a minha figura pois a minha mente que só conseguia imaginar o quão horrendo deve estar o meu rosto neste preciso momento. Levo o cigarro de encontro aos meus lábios e, uma vez que inalo o fumo tóxico e quente até aos meus pulmões. Uma vez que exalo, deixo o mesmo sair naturalmente por entre os meus lábios secos e gretados da estação. Deito o pequeno cigarro ao chão e levo as mãos aos bolsos das minhas calças na tentativa de as manter quentes.

 Se fechasse os olhos via a escuridão, se os abrisse via a obscuridade. Dois sinónimos, duas realidades completamente diferentes.

 

 Acelero o passo tentando alcançar o meu dormitório e uma vez que é me visível o B14, habitual símbolo chamativo no centro da antiga porta de madeira, forço-me a parar. Engulo em seco antes de alcançar a maçaneta e penso se serei forte o suficiente para a abrir a porta e demonstrar a Blair Wayland, uma rapariga feliz que nunca demonstrou qualquer problema ou fraqueza.

 Ajeito o meu cabelo negro e passo as minhas mãos geladas e magras pela minha cara. Mordo o lábio imaginando uma postura convincente para entrar no quarto e de modo a que a curiosidade de Samantha não surja.

 Eu gostava de puder confiar na jovem loira mas não posso simplesmente contar-lhe que estou a namorar com o nosso professor de Biologia e muito menos lhe posso dizer que ele tem relações com mais do que uma aluna.

 Estava. Eu estava a namorar com o nosso professor de Biologia.

 

 Gostava de ter a opinião de uma pessoa que estivesse a par desta situação e, ainda que me tivesse passado pela cabeça ligar a Elaine, não sei de que forma é que o iria fazer visto que só de relembrar o assunto já me vêm as lágrimas aos olhos.

 E eu que sempre gozei as pessoas lamechas que choravam por desilusões. Quem haveria de pensar que uns anos mais tarde iria estar nesta posição?

 

 Limpo com o meu indicador a zona por debaixo do meu olho tentando esconder uma vez mais as lágrimas que pareciam não cessar. O meu nariz ainda fungava por vezes, provas das minhas horas de prostração, desânimo. Uma vez que faço força para baixo na maçaneta, entro no meu quarto calmamente. O olhar de Samantha cai em mim e um sorriso logo se forma do meu rosto.

 "Grande estudo esse, sim senhora. São quase nove da noite."

 Com toda esta complicação esquecera-me completamente de jantar. Contudo não tenciono fazê-lo visto que não havia sinais de fome, muito pelo contrário.

 Inversamente ao que pensava, não sou capaz de dizer uma única palavra, encolhendo por isso apenas os ombros. Samantha mostra um certo espanto e, assim que me deito na cama de barriga para baixo, esta levanta-se da cadeira indo na minha direção.

 "Aconteceu algo?"

 "Não. Eu estou bem." Teimo, tentando parecer concludente.

 "De certeza?"

 "Sim. Eu estou bem."

 Samantha assenta com a cabeça mas as vozes da minha mente são impossíveis de se calarem. As palavras frias e insensíveis de Zayn ainda ecoam em mim e um soluço incontrolável acaba por se escapulir. Agarro com mais força a almofada e fecho o meu olhar enrugando o meu rosto com a intensidade com que elaborava o ato.

 Não, outra vez não. Eu estou cansada de chorar.

 "Oh meu deus, Blair, tu estás bem?"

 "Eu já disse que estou!" Eu berro, irritada, ainda que algumas lágrimas já me tomassem posse do meu rosto de pele morena.

 Não conseguindo manter a minha postura e o meu orgulho por muito mais tempo, corro em direção a minha colega de quarto que logo se monstra surpreendida. A mesma abre os seus braços assim que o meu corpo colide com o dela e choro de forma desesperada, ofegante, no seu ombro.

 "Eu quero-me ir embora, Sam." Digo baixo, entre soluços. "Eu quero sair daqui."

Toxic 》 malikМесто, где живут истории. Откройте их для себя