Despedida

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Gael soluçou pesadamente, despertando Vucan, o deus se assustou ao perceber as lágrimas que brotavam dos olhos fechados do seu pequeno, um pesadelo assolava a mente sensível, conturbando suas idéias, ele já havia visto isso, com sua doce Nemessis, o maldito deus dos pesadelos, visitava aos jovens, e lhes mostrava o que aconteceria que eles falhassem, era aterrorizante pensar que mais uma vez se tornava incapaz diante de algo, ele não podia fazer nada, exceto esperar.

Gael despertou disposto, diferente do que pensou, dado aos pesadelos, porém Nemessis já o havia alertado, ela era mais que uma boa amiga, era a irmã que sempre sonhou.
Vucan o olhou sem entender e Gael sorriu.
- Esses deuses não vão me assustar, sou o SEU humano, e sempre estaremos juntos, eles não podem me tirar do seu coração, nem te tirar do meu...
Vucan sorriu, não sabia o que tinha sido o sonho, mais para o seu pequeno estar tão confiante, algo tinha acontecido.
Depois de tomar um banho nas fontes termais do vulcão, Gael vestiu as roupas que lhe foram designadas, uma túnica preta com bordados dourados, colocou também os braceletes e a gargantilha que Vucan havia lhe dado, Gael estava determinado nada nem ninguém pararia ele, os deuses podiam subestimar o pequeno garoto porém sua força de vontade e seu desejo de estar com seu amado era o maior do que qualquer prova, do que qualquer desafio, as despedidas foram simples, Vucan e Nemessis o abençoaram, Nakimmin lhe deu uma pequena bolsa, repleta de ervas, unguentos e poções, para curar e restaurar a vitalidade, os três acompanharão o pequeno até o salão dos deuses, onde todos, aguardavam para ver o que aconteceria com o humano do deus dos vulcões...
Soller sorriu com a chegada dos seus 'convidados'.
- Nakimmin, está tão bela como na última vez que a vi - elogiou o galante deus.
- Obrigada majestade - disse ela com uma referência.
Por não ser uma deusa, Nakimmin ficou de pé, ao lado do 'trono' da filha, e Gael, ao lado de Vucan.
- Como todo Solstício, cada deus primordial, tem o direito de entregar seu protegido ao teste, para tentar, uma posição de deus menor, desta vez, somente um de nós tem um protegido para apresentar.
Com um aceno de cabeça de Vucan, Gael, deu um passo a frente e se apresentou.
- Eu sou Gael, terceiro filho da casa de Brock, líder de Nakar, protegidos do deus dos vulcões, filho também de Tian Gai, segunda filha de Fear, líder de Radder, protegidos das deusas do tempo, sou o humano do meu senhor Vucan e farei tudo para honrar seu nome.
Murmúrios no salão foram ouvidos, as deusas do tempo, as trigêmeas do sol e da lua, as primeiras, duas delas se assentavam ao lado do pai, porém a terceira, ainda era um mistério a todos.
Vucan se levantou, sua aura de poder varreu os murmúrios do salão, o deus segurou a mão de seu pequeno humano e recitou.
- Eu concedo a ti, minha bênção e proteção, que o meu poder, seja seu poder, que minha chama te aqueça, que meu fogo te proteja, que meus olhos te guiem, que meu chamado te traga de volta, eu deposito em você, minha confiança, diante dos deuses, e que nada afaste teu coração do meu.
Todos no grande salão ficaram encantados, aquilo era mais que uma benção, era uma demonstração de amor. Tudo ia perfeitamente normal, até a deusa da lua, Lunnea, adentrar o salão.
A voz suave da deusa fez gelar o coração de todos, a esposa do deus sol realmente aparecia, depois do sumiço da mais nova das trigêmeas, ela se mantinha no castelo, quase sempre isolada de tudo e todos.
- O concelho dos deuses já votou quanto a testar o jovem humano, porém algumas coisas mudaram...
Ela se sentou ao lado do marido, e o contraste entre os dois era gritante, o sol era um belo homem, bronzeado, com os cabelos loiros, levemente dourados, olhos cintilantes e um sorriso sedutor, já ela em vez de pálida como a maioria acreditava, era uma mulher preta, de olhos prateados, longos fios encaracolados e acinzentados, como uma névoa pairando em sua cabeça.
- A missão que escolhemos para ele, é impossível de ser realizada, nenhum humano vai voltar vivo de lá...
Vucan arfou surpreso, os deuses podiam ser cruéis, mais nunca mandavam ninguém em missões suicidas, era uma lei.
-Por isso, eu como deusa benevolente, decidi que ele não irá sozinho, um deus menor pode acompanha-lo, porém se falharem, os dois, serão destituídos de qualquer bênção dos deuses.
Os deuses menores ficaram em choque, perder seus poderem por um humano, a lua deveria estar doída, porém, alguém ali, já planejava ir com ele, com ou sem o consentimento dos deuses.
- Eu me ofereço - disse Nemessis - irei onde ele for, serei sua companhia, ontem, hoje e sempre.
Vucan e Nakimmin sorriam orgulhosos, era arriscado, porém, ambos sabiam, que juntos, eles iriam voltar.
- Algum deus é contra? - Perguntou o deus sol, o silêncio se fez presente no salão - Sendo assim, que seja feita a vontade da lua.
- A missão de vocês será resgatar os filhos do sol na caverna de Sakenanju - disse Gaia - tragam todos em segurança e cuidado com a bruxa.
Nemessis suspirou, a bruxa, a lenda que ele sempre escutou, uma mulher invejosa que devora mulheres bonitas de tempos em tempos, mais algo lhe parecia errado nessa história, se ela era mesmo uma bruxa, porque não apenas sugar a beleza das jovens em vez de matar elas?
- Se não voltarem até o fim dessa lua, a missão será dada como fracassada e seus nomes, banidos, para sempre.
- Eu concordo e assumo os riscos.
Disse Nemessis
- Eu concordo e assumo os riscos.
Repetiu Gael, estava feito.
- A hora da despedida chegou - disse Lunnea - eu espero voltar a vê-los.
A deusa se retirou, deixando todos atordoados.
Vucan se aproximou primeiro da filha.
- Volte em segurança minha princesinha - disse antes de puxa-lá para um abraço apertado.
- Eu vou proteger ele pai, e vou trazer ele de volta.
Disse ela confiante.
- Eu sei que vai, por isso quero que leve minha espada, tem algo nessa lenda que me intriga, tome cuidado.
Vucan entregou sua espada, forjada no próprio sangue, e entregou a sua filha, não era a primeira vez que Nemessis usava aquela espada, porém era a primeira vez que tinha um objetivo tão nobre.
Enquanto os dois se despediam Nakimmin olhava atenta para o pequeno humano.
- Gael - ela chamou sorrindo - tens bons instintos, confie em si mesmo, na sua força e se lembre dos ensinos da sua mãe, sei que Tian Gai lhe ensinou bem.
Gael lacrimejou ao lembrar da mãe, que a muitas luas havia sido levada de volta para a sua tribo de origem.
- Eu quero que saiba que eu farei de tudo para que Nemessis fique segura, eu te juro.
Nakimmin sorriu, o pequeno humano era mesmo único, Nemessis era astuta, e não era a primeira vez dela em batalha.
- Eu sei que cuidará bem dela, aguardarei a volta de vocês, e se lembre sempre de escutar seu coração.
Nemessis abraçou a mãe repentinamente, assustando-a, as duas começaram a falar e Vucan aproveitou o momento para puxar seu pequeno para um canto reservado.
- Eu estarei te esperando - disse Vucan em um sussurro - quando voltar, terá tudo que quiser de mim, não importa o que for, eu farei.
Gael corou, ele sabia muito bem o que queria.
- Eu vou voltar, e vou cobrar essa promessa, e você meu senhor, vai se arrepender por me fazer esperar.
- Gael, meu doce e adorável humano, eu esperei minha vida toda por você, acredite, estou sofrendo tanto quanto você...
Gael sorriu, e Vucan o abraçou, o corpo do deus emanava um calor diferente e incrivelmente maravilhoso, era como uma droga, viciante e alucinógena, Vucan segurou o rosto do seu pequeno em uma mão e o puxou para perto com a outra.
- Esse será nosso último beijo até você voltar - avisou o deus - Só termina, quando você me afastar.
E então o beijou, Gael esqueceu dos outros deuses, da missão, do seu nome, de tudo, aquele momento que importava, a língua áspera e doce, deslizando lentamente junto a sua, seu corpo respondendo ao calor do deus, suas mãos em volta do corpo másculo, Gael não queria que aquilo acabasse, porém o ar se fez necessário, e Gael afastou minimamente os lábios dos de Vucan.
Uma voz alta chamou a atenção de todos.
- Está na hora de irem - disse Soller - não seremos injustos, daremos duas chaves a cada um, essas chaves abrem as portas dos templos, os filhos do sol ainda estão com as deles, então só precisaram de uma, a outra é caso aja alguma emergência, serão levados direto a aldeia de Hurr, no limite do mundo, espero que voltem em segurança
Gael saiu dos braços de seu amado, e Nemessis dos de sua mãe, juntos eles desceram os degraus do templo do sol, desaparecendo a vista, e deixando para trás, esperança, amor, saudade e uma certeza, a de voltar para casa.

Vucan - Romance GayWhere stories live. Discover now