Ainda não

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"Meu pedaço de paraíso"

O mundo parou, só se ouviam as respirações pesadas no quarto, o suor escorreu pela pele negra.
Aquele milésimo de segundo entre Gael falar e Vucan compreender, foi o suficiente para o rosto do menor esquentar.
Um estrondo se ouviu e Vucan separou minimamente os corpos deles, se sentindo rejeitado, Gael se encolheu.
- Meu pequeno e adorado humano, se te fizer meu agora, será um escravo, um brinquedo dos deuses, te prometi liberdade - explicou Vucan ao sentir a apreensão do seu adorado humano - se quer ser meu, que seja da maneira correta.
Os olhos marejados fitaram o imponente deus por alguns segundos antes de perguntar.
- Qual seria o jeito certo?
- Saberá no devido tempo, sei que quer que eu te domine e te faça meu, acredite, é meu maior desejo, porém não quero te dividir com ninguém, e pra isso, devemos esperar, o mundo dos deuses é mais complexo do que o dos humanos.
Emburrado por não conseguir o que queria Gael se aconchegou como um felino carente, a atitude fez o maior sorrir, e se lembrar que havia muito a fazer antes da cerimônia, antes que seu pequeno o aceitasse.

Nemessis estava entediada, odiava as virgens assustadas de seu pai para ir ao 'harém', porém era uma ordem do próprio deus, levar de volta as que quiserem ir.
- A princesa chegou - uma delas disse antes de fazer uma referência.
- Escutem, seu senhor e deus, permite que as que quiserem, voltem aos seus lares, as levarei pessoalmente a sua tribo, ao por do sol obviamente, quem for poderá levar as joias que meu pai as deu, e todas que forem devem levar os braceletes, é a única forma de proteger vocês, os braceletes são eternos, quando  estiverem a beira da morte, onde nem um deus pode te salvar, ele soltará sozinho e só se fechará em quem for digno, irei leva-las as por do sol, e voltarei ao nascer do sol, quem desistir de ficar pode voltar comigo, porém não posso me atrasar.
Com a mesma rapidez que entrou, ela saiu, sem cumprimentar ninguém ou olhar ninguém nos olhos, a única mulher naquele lugar que lhe importava era sua mãe, ninguém mais.
O caos se instaurou no 'harém', algumas queriam ir, outras escolhiam ficar, mais todas tinham dúvidas, qual motivo disso tudo? Justamente agora? Quando a nova oferenda não havia se apresentado ao 'harém', será que dessa vez o grande e poderoso Vucan tinha finalmente desistido da sua solidão...

Gael acordou sozinho, depois de adormecer nos braços do seu, possível amado, sem saber para onde ir, ou o que fazer, ele começou a caminhar a esmo pelo imenso, e possivelmente infinito, castelo.
Distraído com as cores e tons vibrantes, o pequeno humano só percebeu que tinha mais alguém naquele corredor, quando o impacto já era inevitável, para a sorte de ambos, a jovem deusa era bem mais forte do que aparentava, e segurou o pequeno mortal, antes de sua queda monumental.

- M-me descupe, eu estava distraído e...
Gael parou ao perceber o olhar firme da deusa.
- Você estava com meu pai...
Ela declarou
- Ele foi no meu quarto e dormiu comigo um pouco...
Disse timidamente.
- Não, você estava com meu pai, sinto o cheiro dele em você, qualquer deus poderia sentir, você tem o cheiro dele, como uma esposa que dorme com os lençóis do marido quando ele está longe, você cheira a saudade e carência.
Gael corrou, a deusa olhava pra ele como se pudesse ler sua alma, e de modo algum ele duvidou disso.
Percebendo o constrangimento do pequeno mortal ela sorriu.
- Não foi minha intensão te ofender, eu só estava constatando um fato.
Gael sorriu levemente.
- Não me ofendeu, você sempre foi uma das minhas  deusas favoritas, o por do sol, é tão lindo, sempre me perguntei o que havia por trás de tantas cores.
Nemessis sorriu, ela era tida como uma deusa fria, pois trazia o fim do dia, e as noites eram geladas e impiedosas, porém a natureza da deusa era acolhedora, a maldade das pessoas que despertava seu lado ruim, amarga e gélida.
Encantada com o pequeno humano, Nemessis resolveu cuidar dele, a tempos queria um bichinho e por hora, Gael era o mais próximo disso que ela tinha.
- Venha comigo.
Disse ela num sorriso misterioso.
Gael a seguiu sem contestar, ele sentia uma confiança tão grande nela, a forma com que ela defendeu o pai, ele queria poder defender e ser defendido assim um dia...
Quando Nemessis parou, Gael simplesmente não sabia o que dizer, era um jardim enorme, com plantas variadas, grande parte com flores e frutos, e bem do meio daquela maravilhosa confusão de cores, uma fonte de pedra, a água cristalina brilhava em contato com a luz.
- Esse é o jardim real, só eu, meu pai e minha mãe temos autorização para vir aqui... E agora você também tem, atrás da pedra grande tem algumas vestes que meu pai costuma deixar por aqui, use algo.
Gael concordou com as palavras de Nemessis sem pestanejar, quando ele voltou, vestindo uma espécie de calça, bem larga, ela já estava na água.
Com cuidado ele colocou os pés na água e sorriu, a água morna e perfumada em contato com a pele, empolgado ele se jogou na água, a felicidade de poder ser ele mesmo não tinha preço.

Vucan olhou sua adorada filha e seu amado humano, Nemessis lia os humanos como um estudioso lia as estrelas, porém Nemessis nunca errava, e se ela estava levando ele ao jardim secreto do seu palácio, algo de especial, de muito especial, havia nesse pequeno e adorável humano...

Vucan - Romance GayDonde viven las historias. Descúbrelo ahora