Capítulo 24

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Dallas estava congelando. Uma calça fina de algodão e camiseta não estavam sendo o suficiente para afastar o ar gélido daquela noite, mas ao menos os seus pés estavam quentes. Porque mesmo diante de toda a confusão de Annabeth a tirando da cama e Pietro a levando para longe do acampamento, junto com Patrick, ela ainda conseguiu enfiar um par de tênis nos pés e catar a varinha que, sinceramente, lhe era inútil no momento.

E agora, Dallas corria por entre as árvores desconhecidas daquela floresta porque a confusão do ataque causou histeria em massa e a separou de Pietro e Patrick. Muitos bruxos desaparataram de onde estavam, outros foram pisoteados na confusão, aurores surgiram no meio do caos e um duelo começou entre eles e os atacantes, mascarados e encapuzados como seguidores da KKK. A mão de Dallas foi solta da de Pietro com um esbarrão e quando deu por si, já estava sendo levada pelo fluxo de pessoas que correram para a floresta a procura de refúgio. Dallas afastou-se do grupo que a carregou assim que entraram mais a fundo entre as árvores e agora encontrava-se perambulando sozinha em uma floresta anormalmente quieta.

A propriedade Winford tinha o seu próprio bosque, com trilhas e segredos que ela costumava desvendar quando mais nova no lombo de Anúbis, enquanto fingia ser um cavalheiro da rainha a procura de alguma fera contra a qual lutar para mostrar o seu valor. E o bosque sempre tinha barulho. Fossem dos troncos estalando sob as mudanças de temperatura, fossem os grilos em uma noite fresca de primavera ou as cigarras em uma noite quente de verão, fosse o pio de Osíris que transformou o lugar em seu lar e ninho. Fossem os cantos dos passarinhos. Mas ali? Estava tudo silencioso e nem ao menos os gritos de desespero e o estalar de desaparatação ela ouvia mais.

Dallas recostou em um tronco grosso e cruzou os braços sobre o peito na intenção de reter calor. A sua respiração condensava na atmosfera a cada exalada de ar e a mão esquerda, segurando a varinha, apertava a mesma com força o suficiente para fazer doer as juntas dos dedos. Algo estalou ao longe e o coração de Dallas pulou de pavor dentro do peito, a sua respiração ficou descompassada e ela desencostou do tronco da árvore e ergueu a varinha à frente do corpo. O Estatuto de Proteção e Defesa dizia que em caso de perigo à vida, ela, como menor de idade, tinha a liberdade de usar magia fora da escola para se defender sem correr o risco de ser expulsa de Hogwarts. E aquele poderia ser um caso de ameaça a sua vida, certo? Dallas não tinha como saber. Estava escuro e não podia conjurar um lumos, a sua visão tinha ajustado-se a pouca claridade, mas não enxergava muito longe e por isso, quando um corpo apressado bateu contra o dela, Dallas gritou e começou a estapear como pôde o seu suposto agressor.

— Dallas? Dallas! — mãos geladas seguraram os seus pulsos e Dallas ofegou, e remexeu-se por reflexo para se soltar, até que o seu cérebro clicou e ela percebeu que o estranho a chamou pelo nome. Dallas parou de se debater e aproximou o rosto do desconhecido. Era noite de lua crescente e a mesma iluminava muito mal tudo à volta deles, ainda mais que haviam nuvens negras que a cobria de tempos e tempos, mas, mesmo com a luz fraca, ela reconheceu o reflexo dos óculos e os olhos verdes de Harry Potter.

— Potter. — disse o nome com alívio e, ao ver que ela se acalmou, Harry a soltou vagarosamente e correu os olhos por ela. Dallas estava diferente, não apenas no fato de que ela usava calça de algodão, camiseta e tênis, um tipo de roupa tão mundana e que jamais pensou que veria no corpo dela, mas havia algo a mais nela. Era como se ela tivesse amadurecido fisicamente durante o verão mas, principalmente, havia amadurecimento em seu olhar. — ... por onde veio?

— Hã? O quê? — perguntou distraído. Estava tão ocupado a observando sob a luz fraca da lua que não captou o que ela falava. A gafe o fez ganhar o patenteado olhar de desprezo de Dallas Winford e Harry sorriu. Ela era adorável quando o olhava desta maneira, o julgando como um gato contrariado.

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