Capítulo 2

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Foi o som da porta da cabine abrindo que fez Dallas erguer os olhos de Hogwarts, Uma História em seu colo para o menino que estava parado à porta, com uma expressão indecisa e abrindo e fechando a boca como se quisesse dizer algo, mas mudando de ideia a cada segundo, até que ele tomou uma decisão:

— Eu posso me sentar aqui? As outras cabines estão cheias. — Dallas arqueou as sobrancelhas para o garoto. Ele era do seu tamanho, de cabelo e olhos castanhos, rosto redondo e rechonchudo e levemente acima do peso. Se Amélia o visse torceria o rosto consideravelmente em desagrado. Um Winford sempre tinha que estar apresentável e em forma, independente da idade. Alimentação saudável e exercícios eram o lema dela, era o que a mantinha jovem em seus sessenta e poucos anos, era o que a fazia atrair olhares pelos salões da alta sociedade, e ela insistia que tal filosofia fosse repassada para o restante da família.

O menino à porta tinha uma mancha de chocolate no canto da boca, e outra mancha na barra da blusa. A sua calça estava amarrotada e o seu sapato empoeirado e o cabelo despenteado, como se tivesse corrido contra o vento, e o seu olhar foi para o chão, incomodado com o fato da outra integrante da cabine o estar mirando por longos segundos sem dizer nada.

— Então? — por fim soltou, sem muita coisa a mais a dizer, e Dallas piscou e meneou a cabeça em direção ao assento na sua frente. O garoto abriu um grande sorriso, entrou na cabine, fechou a porta e largou-se no assento almofadado. — Patrick Gordon. — apresentou-se com um estender de mão na direção dela. A mão também estava suja de chocolate e Dallas apenas mirou o membro melecado e em seguida o rosto do garoto que sorriu sem graça e recolheu a mão.

— Dallas Winford. — ofereceu e os ombros de Patrick claramente relaxaram.

— Winford? Parece nome antigo. Sua família é da Inglaterra? — Dallas franziu as sobrancelhas, ainda mais que os olhos castanhos de Patrick a percorreram da cabeça aos pés, avaliando as claras diferenças entre eles. O vestido de renda e cetim estava impecável, o sapato estava lustrado e brilhando, as meias eram brancas, o seu cabelo estava bem penteado e preso em um intricado de tranças e caindo sobre o ombro esquerdo, o seu casaco de algodão era de um rosa claríssimo, com grande botões negros e tinha o mesmo comprimento do vestido e o tecido tinha um tom nude. Era claro que as roupas e a postura dela indicavam alguém nascido em berço de ouro mas, ainda sim, a pergunta de Patrick não fez sentido algum para Dallas.

Tecnicamente os Winford eram escoceses, migrados para a França durante o reinado de Mary e retornaram para a Escócia após a morte dela. Na árvore genealógica da família estava um Duque que casou-se com uma dama de companhia da própria Rainha Mary e os seus filhos juraram lealdade à Rainha Elizabeth I e foram recompensados com títulos de nobreza ou de cavaleiros da coroa.

— É que Winford não é o nome de nenhuma família tradicional bruxa que eu conheça. E eu conheço todas. — Patrick disse com orgulho e Dallas não entendeu qual a razão para se orgulhar. Ela também poderia nomear todos os duques, duquesas e lordes do parlamento inglês e isto não era grande coisa para ela. Era informação irrelevante.

— Não há bruxos em minha família... Acho. — o comentário de Amélia vez ou outra voltava para a sua mente, sobre como a sua avó não surpreendeu-se por Dallas ser uma bruxa por causa de sua mãe.

Patrick não comentou nada, somente deu um relance para a capa do livro que Dallas lia.

— Já chegou ao capítulo sobre as casas? — Dallas assentiu para ele. — Já sabe em qual gostaria de ficar? — a resposta dela foi um dar de ombros e ambos viraram-se quando a porta da cabine abriu mais uma vez e três meninos surgiram no batente. Um baixo, magro, de cabelo loiro claríssimo e rosto afilado, enquanto os outros dois eram anormalmente altos para crianças de onze anos, troncudos e de cara amarradas.

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