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[7:30am, Nougatine]

Já era a segunda fornada de biscoitos e, novamente, todos tinham queimado. A máquina de passar café havia quebrado e o processo agora estava sendo feito manualmente.

Donna bufava.

- Tirei o dia pra tudo dar errado, não é possível! – Resmungou assim que uma colega entrou na cozinha.

- Calma, Donninha. Quer que eu assuma aqui enquanto você atende os clientes?

Donna ia dizer que não, mas a amiga apontou para a pilha de louça que ainda faltava lavar e a mulher se rendeu.

- Acho que aturar cliente reclamão é melhor que ter que fazer o serviço pesado daqui mesmo...

A colega riu enquanto Donna limpava as mãos no avental e ia para a outra área da cafeteria. Respirou fundo ao olhar a imensa fila de pessoas aguardando para fazer seu pedido e suspirou.

- Próximo. – Ela chamou. Uma jovem loira se aproximou e pediu um cappuccino e um donut. Donna registrou o pedido e esperou até que a moça pagasse para lhe entregar o ticket. Enviou o pedido para o computador da cozinha e pediu para que a cliente esperasse um pouco mais ao lado até que fosse chamada. – Próximo. – Foi a vez de um senhor grisalho. Ele pediu um café preto e comentou que o dia estava muito bonito lá fora, mas Donna não lhe deu muita atenção. – Próximo. – E assim ela ia atendendo seus clientes, um por um, sem tentar parecer muito simpática ou grossa demais.

- Próximo. – Ela chamou a última pessoa da fila. Ainda sem tirar os olhos da tela do computador, ela perguntou o que o cliente queria.

- Um café expresso e um bagel. – O homem respondeu.

- Vai comer aqui ou é pra levar? – Donna perguntou, erguendo os olhos para o homem.

Lindo!, ela pensou. Era a segunda vez que aquele homem aparecia ali, sempre vestindo terno e gravata. Pela postura, Donna acreditava que ele era um advogado. Ou talvez um empresário. Não, definitivamente um advogado, ela dizia para si mesma.

- Pra comer aqui. – Ele respondeu, lendo alguma coisa no seu celular. – Não. Pra levar. – Ele desviou a atenção do telefone e olhou para Donna. Ela assentiu e o homem lhe deu um breve sorriso. – Posso esperar sentado aqui no balcão?

- Claro. Fica à vontade. – Donna enviou o pedido para a cozinha, mas sua colega apareceu no vão entre os dois ambientes e pediu pra Donna preparar aquele pedido enquanto ela cuidava dos clientes. – Mas eu...

- Por favor. Eu meio que tô paquerando esse cara aqui. – Donna olhou para onde a amiga apontava discretamente e percebeu que ela falava do advogado sentado próximo das duas.

Donna suspirou, mas atendeu ao pedido da amiga e foi pra cozinha preparar o café e o bagel do cliente – e também mais alguns outros pedidos que a colega tinha esquecido de preparar.

Quando tudo estava pronto, ela saiu da cozinha e foi entregar os pedidos aos clientes. Chamava um por um, falando as senhas dos pedidos.

- Pedido 816! – Ela gritou. Pela bandeja que segurava, aquele era o pedido do advogado.

- Esse é o meu. – O homem guardou o telefone no bolso interno do paletó e levantou, se aproximando de Donna. Ela primeiro lhe entregou o pacote com o bagel, para depois lhe entregar o copo com o café. – Obrigado.

Harvey esticou o braço para pegar o café e, prestes a segurar o copo, acabou tocando nos dedos da atendente. Foi como se um choque corresse pelo corpo dos dois. Assustados, os dois se olharam e certa tensão se instalou entre eles. Donna entreabriu os lábios e Harvey, ainda sem compreender o que diabos estava acontecendo, baixou o braço rapidamente.

Desconcertada e completamente sem jeito, Donna baixou a cabeça e largou o copo no balcão. Esperou que o homem o pegasse ali e quando ele o fez, ela voltou a olhar para ele.

- Obrigado. – Ele respondeu, um pouco sem jeito. Sua expressão era de pura confusão.

- Volte sempre. – Donna cruzou as mãos sobre o balcão e soltou o ar com força dos pulmões, conforme via o advogado saindo da cafeteria. Ela baixou o olhar para suas mãos e mordeu o lábio inferior. Apesar de ser bem vivida e já passar dos 30, aquela era a primeira vez que um simples toque lhe causava arrepios.

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