16

790 58 0
                                    

Théo me fez uma massagem no dia seguinte, era a sua folga e ainda sim ele fez assim que pedi um remédio para dor.
- Vamos, te faço uma massagem ao invés de tomar remédio. Não te faz bem...
Sorri maliciosa. Théo com aquelas mãos, impossível não melhorar. Nossos exercícios estavam cada vez mais puxados, e eu sentia cada vez mais dores. Isso era bom, de acordo com meu enfermeiro gostosão.
Meia hora depois eu estava leve na cama e sem dor alguma. Meu corpo completamente relaxado.
- Prontinho... Agora descanse. Eu preciso ir resolver algumas coisas no centro. Comprar algumas coisas pra nossa fisioterapia, seus óleos que acabaram, seus remédios e conversar com seu medico.
Ele fazia isso toda semana. Eu sabia disso, mas eu não queria que ele fosse.
- Vai encontrar seu amigo depois?
Theo riu e beijou minha nuca.
- Vou. Você vai comigo?
Fiz força e virei meu corpo pra cima tendo seu corpo forte em cima do meu, ele arrumou minhas pernas e em seguida voltou para a mesma posição. Quente fervendo...
- Vou ficar te esperando ansiosa aqui na minha cama. Promete que vai se cuidar? Se beber vai tomar cuidado pra dirigir?
Théo assentiu e beijou minha testa. Eu não devia ter falado que iria.
Assim que ele bateu a porta do meu quarto eu me arrependi de ter falado que não ia com ele encontrar seu amigo. Suspirei. Eu não sabia o que era pior, o deixar ir sozinho ou ir com ele... Os dois me davam medo, um medo que me fazia até tremer.
- Você deveria tentar aos poucos. Pede que ele leve você para apenas um passeio de carro...
Diana disse enquanto dobrava minhas roupas lavadas e já passadas.
- Não sei se eu deveria... Mas seu relacionamento com ele é serio?
Engoli a seco. Eu não sabia, não tinha uma semana que começamos a... Como posso dizer? Nos pegar?
- Porque eu fui ao mercado ontem e ouvi a mulher do caixa dizendo que um tal de Marcelo tinha ligado para o Théo gatão enfermeiro e eles iriam se encontrar naquele bar de chope.
Rugi raivosa e com força me sentei na cama.
- Quem era essa mulher?
Gritei praticamente e Diana me olhou assustada.
- Não conheço Mari, mas era uma loira branquela e peituda. A cidade é pequena mas, pode haver outro Théo enfermeiro aqui.
Neguei já irritada.
- É ele.
Respirei fundo e voltei a minha posição de antes.
- Ele deveria ir embora. O que eu posso oferecer? Nem dar eu posso Diana.
Minha irma gargalhou auto e se aproximou de mim acariciando meu cabelo e ajeitando meu travesseiro.
- Irmã, você pode dar sim. Théo disse que sim. Faz quatro meses e meio que você perdeu seus movimentos... Ele quer apenas...
- Isso é uma droga. Demita ele.
Eu já chorava e minha irmã se sentou ao meu lado me abraçando apertado.
- Mari por favor... Não faça isso, Théo gosta de você.
Limpei minhas lagrimas e olhei pra minha irmã.
- Onde esta Afonso? Aquele loirão deixou você? Porque ele não voltou mais pra te ver? Você deveria me deixar também... Pra seguir sua vida. Devia ir procurar sua felicidade ao invés de ficar cuidado de uma...
- PARA...
Diana gritou comigo e eu solucei.
- Não termine essa frase.
Ela disse nervosa e saiu do meu lado.
- Você precisa parar com isso... Você tem que erguer a cabeça e assumir você, seu corpo e seus movimentos limitados.
Diana gritou mais auto.
- Você precisa seguir sua vida. Não eu. Eu disse que estaria aqui com você. Para sempre...
Diana respirou fundo e se aproximou de mim mais uma vez. Eu já chorava de soluçar e não sabia o que fazer para aquela dor passar. Doía eu ter que prender as pessoas que eu amo aqui comigo, junto com a minha dor.
- As crianças precisam ir a escola, o ano letivo começa logo. Vamos buscar uma escola juntas, e eu vou as levar todos os dias, e buscar. Não vou demitir Théo, você vai mudar.
Ela disse mais baixo e se aproximou de mim.
- Você vai voltar a receber a psicóloga. E mais tarde ao invés de recebermos sua depiladora aqui, vamos lá eu e você. Faremos as unhas e vamos ao salão arrumar o cabelo também. Já chega de ficar aqui enfiada nessa casa. Você é maravilhosa Mari, e eu estava pra ter essa conversa com você a muito tempo, não posso deixar minha irmã se afundar assim.
Abracei minha irmã e chorei no seu ombro.
- Ta bom.... Mandona.
Rimos em meio ao choro e ela levantou pegando a minha cadeira.
- Vamos. Faça como Theo ensinou, pule para a cadeira e vamos tomar um banho de banheira revigorante. Théo volta só a noite, e nos vamos ter um dia de meninas.

Diana me ajudou a entrar no carro adaptado do taxi e seguimos para a depiladora.
Eu estava tremendo. Théo não me mandou mensagem alguma durante o dia todo, e eu não me atrevi.
- Esta tudo bem?
Diana me perguntou e eu apenas assenti. Já era quase noite e eu estava com um óculos escuro grande. Soltei os cabelos e tentei ao maximo me esconder em mim mesma. Diana me fez colocar um vestido e uma rateirinha. Minhas pernas estavam horríveis... Quis chorar quando ela me colocou diante do espelho para eu me ver como estava "linda".
Respirei fundo algumas vezes e tentei ao maximo não deixar lágrimas nenhuma cair. Eu estava apavorada em sair daquele carro.
- Olha Mari, a Berta acabou de mandar foto das crianças brincando na cabaninha de lençol que eles fizeram...
Sorri quando vi meus bebês alegres com a babá. Era a quarta vez que ela ia lá em casa. E eu a amei, foi a única que encantou meus filhos.
- Eles estão crescendo tão rápido...
Respirei fundo quando me lembrei de Matteo. Ele não deu as caras desde o ocorrido.
O taxi parou em frente ao pequeno shopping da cidade. O salão era no quarto e último andar. Ela me ajudou a sair do carro assim como me ajudou a entrar. O mundo era equipado para cadeirantes, não o mundo todo. Já vi relatos de pessoas que nada conseguem fazer nas ruas, que não são preparadas para as cadeiras de rodas, mas aqui felizmente era.
- Esta tudo bem Mari?
Eu assenti novamente sem falar nada. Minha garganta parecia fechada. Ela começou a me empurrar passamos pela porta enorme do shopping e fomos andando. As pessoas me olhavam, e eu me encolhia no banco da cadeira. Eu sabia que não era por mal, as pessoas são curiosas, ou apenas olham por compaixão.
Na entrada o segurança me olhou e me cumprimentou numa reverencia curta com a cabeça, desejando um bom fim de tarde, e com Diana a mesma coisa.
- Eu sempre odiei elevadores Diana.
Minha irmã gargalhou e eu ri junto. Meu pavor de elevador era antigo.
Entramos no elevador, não estava cheio, mas era quase noite e os casais começavam a dar as caras para um cinema.
- O que acha que Théo esta fazendo?
Diana bufou assim que a porta abriu e eu ri.
- Acho que ele esta conversando e bebendo com seu amigo. Como ele disse que faria Mariana... Théo não me parece um mal caráter, ele não é desses que mente.
Assenti.
- Esta tudo bem?
Diana perguntou saindo do elevador já no andar do salão.
Assenti e fui olhando algumas vitrines até chegar no salão gigante.

Suspirei quando meus pés entraram na agua quente, estava morna e relaxava meus pés como nun...
- Diana, a água...
Eu disse sussurrando.
- O que tem a água Mari? Esta muito quen... Desculpe.
Ela disse interrompendo sua fala.
- Sim. Esta quente. Eu estou sentindo... Di, a água esta morna, eu estou sentindo....
Engoli a seco e respirei mais fundo.
- Diana, eu estou sentindo meus pés. Na verdade meus pés estão sentindo a água, ela esta morna... E eu estou sentindo.
Disse completamente confusa e sorri.
Seria mais um sinal??

NOS MEUS BRAÇOS (Conto) Where stories live. Discover now