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Fácil eu sabia que essa viagem não ia ser, Diana dirigia o carro comigo e as três crianças, enquanto Afonso dirigia o caminhão. Serei eternamente grata e amiga dele, Diana não daria conta sozinha.
Minha única decepção foi não ter conseguido falar com Théo, que não me atendia nem por email, chamadas e nem mensagens... Afonso pediu que eu insistisse.
- Ainda não conseguiu falar com o fisioterapeuta?
Antes que eu falasse algo pra Diana, meu celular avisou que uma mensagem tinha chegado.
- Acho que é ele. Só um minuto.
Era ele.

Olá, sou Théo, e será uma honra poder ajudar uma amiga de Afonso.
Assim que terminar sua mudança, entre em contato comigo para darmos início.

- Era ele. Pediu que eu entrasse em contato assim que acabarmos a mudança.
Diana diminuiu a velocidade do carro e parou ao lado do caminhão onde já descia Afonso.
- Amanhã mesmo você já pode marcar um horário para resolvermos tudo Mari. A mudança é por minha conta.
Ela me sorriu assim que desligou o carro.
- Eu ajudo sua irmã Mari, foca em cuidar de você.
Assenti para Afonso que apoiou os braços na janela da minha irmã que fez uma careta.
Eles foram juntos comprar café e alguma coisa pras crianças comerem caso sintam fome ao acordar. Aproveitei esse momento para falar mais uma vez com o fisioterapeuta.

Você pode ir ate a minha casa amanhã as 18h para combinarmos tudo?

Assim que mandei ele já me respondeu em seguida.

Claro. Estarei .

Suspirei e me recostei no banco confortável do carro.
Eu precisava de força pra mandar todo aquele pensamento negativo embora. Logo eu que sempre fui otimista. A vida muda nossos pensamentos e nossas crenças em um piscar de olhos...
- Eiii... Para com essa sua cara. Vai dar tudo certo.
Diana disse pegando minha mão. Sorri pra ela e assenti.
- Eu espero que sim.
Eu disse mesmo que meu coração gritasse não.

Horas depois entramos na garagem da casa. E eu não achei que estaria tão melancólica.
- Meu sonho...
Egoli a seco. Minha garganta fechava.
- Calma Mari.
Solucei alto tampando a boca pra não acordar as crianças.
- Era meu sonho morar aqui e ver o sol nascer... Era meu sonho correr nessas montanhas. Acampar com as crianças e brincar de esconde esconde pelas árvores.
Minha irmã me abraçou e eu desabei um pouco mais.
- Achei que estar aqui te faria bem, mas estou com dúvidas agora.
Ela acariciou meu cabelo e eu não tinha forças pra falar.
- Isso vai passar irmã... Cadê a sua positividade? Cadê a força da minha irmã novinha que largou tudo, sua vida seu conforto pra mudar de pais, criar dois filhos lindos?? Cadê? Isso é só uma fase ruim. Afonso me disse que seu caso pode ser reversível...
Assenti.
- Só estou com medo de que eu esteja no meio dos 80% das pessoas que nunca mais andaram. Ficar nessa cadeira para o resto da vida...
Engoli a seco e me levantei do seu colo. Sequei as lágrimas e sorri pra ela. Ela largou tudo por mim. Não merecia que além dos meus filhos eu desse mais trabalho a ela.
- Isso não vai acontecer Mari. Você é a pessoa mais forte que conheço.
A puxei e beijei seu rosto.
- Amo você irmã.
Ela sorriu e abriu a porta do carro.
- Eu amo você mais ainda. Vou levar as crianças e já venho te ajudar. Seu fisioterapeuta deve estar pra chegar.
Assenti. Tinha me esquecido completamente. Marquei um horário tão em cima que quase não chegamos a tempo.
Ela entrou levando umas bolsas que estavam atrás com as crianças e eu olhei pra cadeira que estava ao lado do carro.
- Eu consigo...
Sussurrei. Levantei minhas pernas fazendo força sobrenatural com os braços. Eu não sabia que era tão pesada.
Assim que me arrumei apoiei a mão na cadeira e a próxima coisa que vi foi o chão.
- Eiii... Tudo bem? Se machucou?
Uma voz alta chegou até mim rápido e em seguida eu estava em braços fortes. De vergonha eu estava com os olhos fechados.
- Eii... Fala comigo? Você se machucou?
Abri e eu simplesmente quase cai mais uma vez.
- Eu estou bem. Me desculpa.
Ele sorriu e seus dentes brancos esculpindo aquele sorriso foi a ruína.
- Nunca mais faça isso. Você pode piorar seu caso.
Assenti.
- Sou Théo.
Sorri tímida.
- Sua testa esta cortada Mariana. Tem certeza q não sente dores?
Levei a mão a testa e aquela dor leve começou a dar sinal de vida.
- Só esta ardendo um pouco.
Ele assentiu e começou a caminhas pra dentro.
- Eii.. O que aconteceu? Mari, o q você fez??
Diana veio correndo de onde estava e parou na frente de Théo que me carregava.
- Diana, deixa ele me colocar no sofá, sou pesada.
Ele me olhou e ergueu uma sobrancelha.
- Mais leve que você impossível. Primeira meta, engordar 5 kg.
Encolhi nos seus braços. Ele parecia severo.
- Você esta certo. Nos exames dela apresentam anemia profunda.
Arregalei os olhos e olhei para Diana. Eu estava parecendo uma criança levando bronca.
- Certo. Já pode me colocar no sofá.
Afonso chegou a sala e estranhou o homem ate notar que era seu amigo.
- Théo. Você cresceu... Mari, o que aconteceu?
Mudou seu olhar do amigo pra mim, nos braços dele ainda por sinal.
- Eu fui tentar descer do carro sozinha ta legal? E enfiei a cara no chão. Foi isso que aconteceu. Agora quer por favor me por no sofá?
Ele me olhava e com dois passos me colocou no sofá.
- Você precisa de um curativo. Vou até o meu carro, volto num segundo.
Assim que ele virou as costas me arrependi. O tratei mal. E ele só queria me ajudar. Respirei fundo e olhei para Diana que me olhava... Assustada?
- Que chilique foi esse Mari? Você não se exalta fácil... O que aconteceu?
Engoli a seco e desviei o olhar dela.
- Nada aconteceu. Foi só o momento.
A única desculpa, pra não revelar que estava impactada com o enfermeiro e fisioterapeuta. Lindo era pouco para descrever o que ele era. Eu não achava um homem além de Mateo bonito a muitos anos...
- Você já tem um quarto montado?
Ele disse passando pela porta.
Assenti e só então ele apertou a mão de Afonso o cumprimentando.
- Eu te ajudo.
Afonso pegou a maleta da mão de Théo, e ele veio em minha direção mais uma vez, me pegando nos braços sem falar comigo.
Afonso indicou o caminho e eu olhei o caminho me lembrando que a alguns anos era exatamente assim. Meu grande sonho se tornando realidade...
Ele me depositou na cama com cuidado enquanto Afonso abria as cortinas para um fim de tarde chuvoso.
- Precisa de alguma coisa Théo?
Afonso disse já da porta.
- Ta tudo certo cara, chamo você se precisar.
Afonso assentiu e saiu fechando a porta. Só então Théo me olhou, na verdade olhou pra minha testa machucada.
Ele se aproximou, sentou ao meu lado na cama e com um algodão molhado encostou na minha testa.
- Aiiiii...
Gemi. Aquilo ardia.
- Calma... Já já passa.
Ele disse baixo, e calmo.
- Me desculpa. Não sei o que me deu...
Ele assentiu abrindo um bandaid e colocou na minha testa.
- Quer que eu volte amanhã para a sua avaliação?
Neguei pegando um travesseiro e colocando nas minhas costas.
- Não. Vamos fazer agora... Se quiser falar com a Dia...
- Não. Meu assunto é com você.
Me interrompeu e eu o adimirei. Todos os médicos querem falar com Diana, para evitar me dar notícias.
Ele não. Ele é diferente.
- Certo. Como você pode me ajudar?
Ele se levantou fechou sua maleta e pegou alguns papéis.
- Vamos conversar, eu vou te contar como vai ser o seu tratamento. Eu já tenho todo o seu diagnóstico na mão e estudado. Mas...
Ele parou de falar e depois de folhear seus papéis me olhou.
- Agora eu vou te dar o meu diagnóstico.
Ele parou de folhear e me olhou.
- Você teve um AVC, tem a parte esquerda completamente amortecida?
Eu neguei.
- Sinto em alguns pontos. Da cintura pra cima. Meu rosto ficou normal... É só o braço mesmo que eu não tenho mobilidade 100%.
Ele assentiu anotando tudo.
- Você sabe que a probabilidade de voltar a sentir é muito alta né.? Isso com alguns meses de fisioterapia intensa você conserta. Agora vou falar do seu movimento com as pernas...
Ele pegou alguns envelopes com tomografias e ressonâncias minhas.
- Você quebrou uma vertebra da coluna lombar e passou por 3 cirurgias. Esta lembrada?
Eu neguei, a única coisa que me lembro é de acordar ouvindo algumas suplicas de Diana.
- Ninguém me falou de cirurgia nenhuma.
Ele assentiu.
- Estou aqui falando com você de fisioterapeuta pra paciente. Não vou omitir nada. Qualquer dúvida ou outra coisa, quero que fale comigo e me deixe participar e ajudar você a lidar com isso.
Assenti e uma lágrima escorreu.
- Ta bom.
Ele respirou e pegou na minha mão.
- Não chora. Eu vou te ajudar...
Acariciou minha mão e me deu um sorriso encorajador.
- Você bateu a nuca e quebrou uma vértebra da lombar em cinco pedaços. O osso ainda deslizou para o lado e comprometeu quase metade da coluna lombar. Você passou por três cirurgias para corrigir a lesão e hoje você carrega duas hastes de titânio, uma ponte e 16 parafusos na coluna.
O olhei espantada e levei minha mão até minhas costas.
- Eu não sinto nada disso...
Ele me deu um sorriso e limpou minhas lagrimas com a ponta do dedo.
- O laudo do seu médico ortopedista te diagnosticou paraplégica sem reversão. Mas nós vamos resolver isso. Você é nova e eu acredito em renovação, e vou ensinar você ter fé.
Assenti olhando nos olhos intensos do homem na minha frente que prometia me ajudar...
- Obrigado...
Ele assentiu.
- Hoje eu vou deixar um exercicio pra você. E você vai conseguir fazer sozinha.
Assenti, ele levantou e me ajudou a endireitar o corpo na cama.
- Quero que passe 2 horas mentalizando movimentos. Hora de corrida, hora de caminhada. E quero que amanhã me conte, o que sentiu.
O olhei chocada.
- Achei que você fosse me ajudar a andar. No que eu imaginando coisas vai me ajudar?
Ele parou de guardar suas coisas e me olhou.
- Você vai saber se fizer. Até amanhã, Mariana.
Saiu porta fora como se nem tivesse entrado.

NOS MEUS BRAÇOS (Conto) Where stories live. Discover now