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Toc Toc Toc. Encontro a posição mais confortável entre os lençóis e deixo-me adormecer outra vez.

Toc Toc Toc. Franzo o sobrolho quando um estranho barulho vem do lado de fora da divisão onde me encontro. Como passa, esqueço-o, agarro na minha almofada e aconchego-me esperando que o sono me leve novamente.

Toc Toc Toc. Suspiro quando o mesmo som me volta a incomodar. Pego nos lençóis e tapo a minha cabeça numa tentativa fracassada de não me voltarem a interromper o sono. Sinto o corpo interrado nos lençóis e no colchão e não quero ser obrigada a voltar para o mundo real. Estou perfeitamente feliz em ignorar os problemas dos últimos dias estando nestas condições.

O meu cérebro volta ao ativo, mesmo contra as minhas indicações, e dou um salto na cama ao pensar na origem dos problemas. Os meus pais e o meu irmão... Preciso de ter a certeza que estão bem, que estão em segurança. Toc Toc Toc. O som é novamente ouvido como uma lembrança do que tenho de fazer.

"Luna, encontra-se bem? Venho trazer-lhe o pequeno almoço.", ouço a voz serena mas com um pouco de preocupação da mulher de cabelos loiros que me levou à estufa no dia anterior.

Ainda com o cérebro intropecido pela nublina de sono, não sei como reagir. Saio da cama e vou abrir-lhe a porta? Respondo-lhe para deixar o pequeno-almoço à porta? Ou que não me apetece comida? Envergonhada com o meu impasse, decido que ainda não quero ter a companhia de ninguém esta manhã. Necessito de estar sozinha para pôr os meus pensamentos em ordem.

"Bom dia, Samantha! Está tudo bem, apenas não me apetece comer. Será que pode levar o que trouxe para a cozinha?", pergunto levantando-me e caminhando em direção da casa de banho.

A minha cabeça anda em volta de todos os pensamentos possíveis e imagináveis durante o tempo que passo na divisão colada ao quarto. Pela primeira vez na vida, sinto-me sem chão no sentido de não saber o que hei de fazer para sair desta situação. Ando meio que perdida, distraída com tudo o que se passa na minha cabeça e acabo por me esquecer de Samantha no corredor.

Volto para o quarto para lhe abrir a porta, mas encontro o tabuleiro com torradas, sumo de laranja e panquecas juntamente com uma pequena nota da mulher loura.

O Rei deu ordens restritas para que não saltasse o pequeno-almoço. Espero que se encontre bem. - Samantha

Sem saber muito bem como reagir à declaração, subo para cima da cama e entrego-me novamente aos meus pensamentos.

Foi por esta mesma razão que pretendia passar o meu dia dormente. Nunca me dei bem com ansiedade e incerteza e, nestes últimos dias, é tudo o que consigo sentir. Ansiedade em saber se a minha família está bem. Incerteza por não saber onde me encontro realmente, de não saber quem é, de facto, o homem misterioso com os olhos mais belos que alguma vez vi e que me tirou da floresta. Todas as dúvidas que sobrevoam sobre mim que descem sobre mim sem pausa alguma, relembrando que precisam de respostas. Quero-as, mas não sei a quem recorro para as conseguir. Em quem e no que devo de confiar?

Como é que ele me pode conhecer e preocupar-se comigo, se nunca nos conhecemos? Como pode declarar que sabe tanto sobre mim, se nunca o tinha visto antes do dia de ontem? Suspiro e tento passar estes pensamentos para segundo plano. Por mais que queira respostas, tenho a prioridade de saber do bem-estar e do paradeiro da minha família. Não posso confiar na palavra daquele homem e continuar a viver a minha vida como nada tivesse acontecido. Tenho de os encontrar, e tem de ser hoje.

De repente, numa tentativa de encontrar a forma mais rápida e infalível de chegar ao meu objetivo, lembro-me que, na altura em que corri pela floresta, tinha o telemóvel no bolso de trás das calças. Aliás, esse sempre fora o lugar favorito para o guardar quando não o estava a usar. Sem demoras, corro para o único local onde o par de calças pode estar.

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