Capítulo 10

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Quando um estouro veio do motor, ele soube que a caminhonete não ligaria nunca mais. Desceu, no meio da estrada, e abriu o capô. O tipo de coisa que as pessoas também faziam nos filmes, mas que para ele, não ajudaria em nada. Se tinha algo em que ele era um completo inútil, era a mecânica. Fechou o capô e voltou para a caminhonete. E agora, o que eu faço?

Não fazer nada era uma opção muito boa, então, ficou ali, esperando, até que um carro, um sedã, veio pela estrada de terra batida, erguendo uma cortina de poeira para trás. Assim que o motorista viu que a estrada estava bloqueada pela caminhonete de Thomas, estacionou e foi até ele. Thomas nem se importou com o susto que o homem tomou ao olhar para ele. Envergonhado, mas sem olhar Thomas no rosto, o homem disse:

— Precisa de uma ajudinha aí?

— Se puder me ajudar a empurrar o carro já me ajuda bastante.

Eles foram para trás do carro e o empurraram, deixando-o na beira da estrada. Assim que o carro, enfim, parou, Thomas se apoiou nos joelhos, respirando fundo, com as gotas de suor brotando na testa.

— A propósito. — O homem disse. — Aquela casa. Com quem tenho que falar pra saber preço e tudo mais?

Thomas ergueu os olhos para o homem. Não era bem um homem, na realidade, estava mais para senhor. Devia ter por volta dos 60 anos, talvez um pouco menos, mas não menos que 50. Era alto, forte e os cabelos um mar branco. Os olhos eram verdes muito claros, tão claros que Thomas pensou se, em um dia de sol forte, ele conseguiria enxergar. Pareciam frágeis demais. Estava muito bem vestido, embora a ajuda para empurrar o carro tivesse sujado um pouco da barra da calça.

— Aqui. — Disse Thomas, indo para a caminhonete. Ele esticou a mão para o porta-luvas e tirou o celular de lá. Abriu na agenda e foi até o homem. — Quer anotar?

O homem desbloqueou o celular e discou o número do corretor. Era o mesmo que tinha vendido a casa para Thomas. Assim que o homem terminou, Thomas olhou para ele.

— Se tiver alguma porta na casa, não esqueça de perguntar antes.

— Eu espero que tenha muitas portas. — O homem disse, rindo.

Se despediram e então, ainda cansado, Thomas se encostou no carro. Pensando friamente no porquê de não ter pedido carona. Às vezes, ele pensava, perdia muito por conta do medo e da insegurança. Quantas oportunidades na vida ele havia perdido pelo simples fato de não conseguir olhar alguém nos olhos? Por ter vergonha de interagir? Por ter medo de ver as pessoas rindo dele? Cara, eram tantas oportunidades que, se tivesse sido diferente, a vida dele poderia ter partido para uma tangente tão distante, que é impossível imaginar qual seria a vida dele naquele momento. Talvez os pais ainda estivessem vivos. Talvez ele não morasse no fim do mundo. Talvez não houvesse porta com a qual se preocupar. Eram tantas possibilidades, e todas elas, partindo do pressuposto que ele simplesmente agiu quando deveria, que pensar nisso o causava desgosto, tristeza e decepção.

— Fazer o que é, não é?

Ele tirou o celular do bolso e discou o número do único táxi da cidade. Assim que o homem chegou, ele já pulou no banco de trás.

— Lugar estranho para pedir um táxi, amigo. — Disse o homem. — Já tava pensando se num deveria ter trazido minha espingarda. Pode não matar, mas machuca.

— Preciso ir para o centro. — Disse Thomas, ignorando o comentário. — Tem o número de algum reboque?

— Ah, tem sim, filho. — O homem tirou uma agendinha do porta-luvas e o folheou. Thomas estava pensando no porque de ele não anotar os números na agenda do celular quando ele disse:

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