Capítulo 2

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Os pais de Thomas não tinham a esperança de que ele se tornasse um modelo mundialmente famoso ou coisa do tipo. Mas queriam, ao menos, que ele tivesse amigos. Despenderam de tudo que tinham à disposição e até um pouco mais.

Após o episódio com o cachorro, as coisas começaram a ficar preocupantes, pois até então, guardavam suas opiniões apenas para si, achando que aquilo só existia na cabeça deles. Mas descobrir que não só eles, mas as crianças na creche, e agora, por Deus, o cachorro também o achava horrendo, fez com que a desconfiança, enfim, se tornasse uma preocupação definitiva. Aceitar que o seu filho serviria, sem grandes dificuldades, bastando apenas colocá-lo amarrado em uma madeira, no meio de uma plantação, como um espantalho perfeito, era doloroso demais para aguentar. Então, decidiram que seria um bom momento para tentar novas abordagens.

— Você acha que vai ser uma boa ideia? Pense bem... porque pra mim, não sei não, acho que só pode piorar a situação. — Ela disse, olhando para o marido enquanto balançava a caneca de café.

— Piorar a situação é impossível, querida. Eu nunca vi cachorro achar alguém feio. Meio que eu achava que eles eram imunes a esse tipo de coisa.

— Pelo jeito não são.

— Pois é. — Ele deu um gole no café, pensando naquilo. — Mas, porra, vamos combinar, alguma coisa a gente tem que fazer, não é? E por que não o matricular nos escoteiros? Além de ele aprender um monte de coisas, as chances de fazer um amigo são bem maiores que na escola.

— E se der errado? — Ela perguntou.

— Não tem como piorar, falando sério.

Como estavam em período de férias, matricula-lo no clube foi fácil. Claro que Thomas bateu o pé, dizendo que não queria, que não iria, e uma quantidade infindável de outras negativas. Mas não funcionou. O colocaram no carro. Malas prontas e foram, confiantes, leva-lo ao acampamento que duraria pelos próximos sete dias.

Ao chegar lá, Thomas foi apresentado para o instrutor que, de maneira estranha, mal olhou para o garoto, conversando em um tom sério com os pais dele, dizendo como as coisas funcionavam por lá e explicando algumas atividades que seriam realizadas. Satisfeitos, deram tchau para Thomas e voltaram para casa, confiantes e aliviados. Porém, depois de sete anos com o garoto e uma miríade de sentimentos, o alívio os pegou de surpresa. Não imaginavam que deixa-lo longe de casa por uma semana fosse capaz de trazer esse tipo de emoção. Alívio? Sério mesmo? Sim, estavam aliviados.

Estamos tentando ajuda-lo ou apenas afasta-lo de nós? Foi o pensamento que, de maneira inevitável, assombrou a mente deles por todo o trajeto de volta.

Mas quando pisaram em casa e não o viram por lá, claro, tudo desapareceu.

O alivio, por sua vez, só aumentou.

Já Thomas vivia um verdadeiro pesadelo. Era bem capaz que seus pais não estivessem raciocinando direito. Como assim o haviam enfiado em um acampamento ridículo como aqueles? Ele nem ao menos gostava de esportes. Não tinha força para exercícios e, porra, para os diabos com essas amarrações.

Mas ele permaneceu firme. Que opção restara? Ficar no canto chorando? Não, era claro que não. Mesmo que as lágrimas rasgassem amargas o caminho desde sua alma até seus olhos, ele iria permanecer firme. Mesmo que as pessoas o olhassem de um jeito estranho. Mesmo que não quisessem brincar com ele. Mesmo que o deixassem em uma barraca solitária e longe do resto do grupo. Mesmo que tudo isso estivesse acontecendo, ele permaneceria firme. A qualquer custo.

O EsquizoideWhere stories live. Discover now