IX

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Autora

Não tinha muito aonde os dois adolescentes irem, mas a garota já tinha algo em mente. Ele não respondeu, apenas pegou um moletom e o colocou. Descendo as escadas cuidadosamente, ela o guiou até a porta dos fundos, sabendo que não faria tanto barulho quanto a de entrada. Quando saíram, começaram a caminhar pela floresta atrás da casa. Com o silêncio, ela comentou:

— Não se preocupe — atraiu o olhar dele para ela. —, não vou te matar e te jogar no lago. — riu.

O restante do caminho foi silencioso, até ele avistar um pequeno lago e ver o quão era bonito as pequenas luzes das estrelas refletindo nele.

— Caralho...

— Bonito, né? — sorriu e o viu assentir.

Ambos se aproximaram e se sentaram perto da borda do lago — numa parte seca — encostando suas costas em uma árvore.

— Por que me trouxe aqui? — aproximou suas pernas do corpo.

— Lembrei do seu comentário da insônia — explicou. — Imaginei que estivesse acordado. E, se não estava, desculpa. — riu.

— É, eu estava.

Depois de um tempo em silêncio, ouvindo apenas o barulho da água, ela sugeriu.

— Pergunta e resposta?

— Não acabou muito bem da última vez — ele riu.

— Prometo me controlar — sorriu.

— mesmo receoso com o que pediu, a curiosidade falou mais alto. — Uma confissão.

— ela respirou fundo. — Duas condições — ele assentiu. — Não conte a ninguém o que vou te dizer, muito menos para David. — assentiu novamente. — E você me fará uma confissão também — ele respirou fundo e concordou. — Como percebi que você quer saber essa história, eu te conto. — juntou as pernas junto ao corpo.

Ele estava nervoso. Mesmo querendo saber tudo que aconteceu, ter a verdade entregue de bandeja, o deixou preocupado com o quê estava por vir. Observou ela respirar fundo e começar.

— Eu conheci o Lucas há três anos — começou. — Naquela época, eu acreditava em amor à primeira vista. Tolice, eu sei... mas eu era ingênua, então, acreditava em tudo que me diziam. Tão ingênua que nem sabia o que era realmente amar... tão ingênua que pensei que descobriria com ele o que é amar de verdade.

— E descobriu?

— Do mesmo jeito que descobri como "amar"... — fez aspas com as mãos. — descobri como odiar e não sentir nada por alguém. — ela começou a jogar pedrinhas no lago. — Ele nunca havia falado comigo, nem ao menos um "oi" ou "você me empresta um lápis?" — pausou. — Uma vez, me disseram que precisavam de mim na sala de limpeza. Ingênua do jeito que eu era, nem perguntei por que numa sala de limpeza, e fui. Chegando lá, acabei encontrando ele e dando meu primeiro beijo.

Ela respirou fundo e continuou:

— Uns dias depois, ele me pediu em namoro. Eu pensei em recusar, mas minhas "amigas" me diziam que ter um namorado era uma tradição naquela época. Me dando por vencida, aceitei e comecei a namorar com ele. Tudo foi umas mil maravilhas, até eu inventar de dizer as três piores palavras do universo.

— Eu te amo? — ela assentiu.

— Eu só havia dito essa merda uma vez. Para minha mãe — suspirou. — Alí, naquele balanço. — ele seguiu o olhar dela até um balanço velho pendurado no galho de uma árvore. — Ela me empurrava, me fazendo ir cada vez mais alto. Até eu inventar de pular para fora do balanço e ralar o joelho em umas pedras. Ela se aproximou e disse "Vai ficar tudo bem, querida". Mesmo não lembrando de seu rosto, com pequenos flashes, me lembro de sua voz doce. Mesmo com um ano de idade, ouvia muito bem e repetia a maioria das coisas que eu escutava... uma dessas era "eu te amo". Aí, falando meio errado, eu disse eu te amo — ela desviou o olhar para o lago na frente deles. — Lembro que ela não disse nada. No dia seguinte, ela se foi.

The Boy | Finn Wolfhard |Where stories live. Discover now