— Quero ver a cara do meu pai. Quero sonhar com ele e imaginar nossa família. Finalmente ter um rosto para meu pai.

Maurício encara Melina sem entender nada. Sempre que Melina fala algo sobre Pamela ele estranha essa relação de filha com a mãe. Crô não conseguiu impedir a euforia de Melina quando descobriu sobre a mãe, ela contou logo para Maurício e pronto, uma pessoa sabe sobre Pamela ter uma filha. Porém, Maurício sabe ser calado.

Não conseguindo negar o pedido da sonhadora Melina, Crô procura por Bruno em ''seguindo'' de Pamela, mas não encontra nada.

— Ele não aceita? — Melina pergunta, quase choramingando.

— Na verdade ele não tem rede social, pelo menos, não com o nome de Bruno.

— Ah, eu queria ver mais dele. Meu vô mostrou a foto e Bruno é bonitão! — Melina pega o celular. — Pamilinha tem bom gosto. Imagina o filho dele com minha mãe? Eu quero um irmão, vou pedir para eles fazerem um pra mim.

Crô quer falar que fazer filho é complicado, mas dê uma resposta e Melina vai fundo para ter mais detalhes.

— Pelo menos agora eu tenho um rosto de pai para sonhar. E de tio também. Meu vô mostrou a foto de Luan, ele também é bonito... Crô, será que ele namora tia Adriana?

— O pedido era apenas a foto, mocinha, já está me enrolando com tantas perguntas. — desliga o celular. — Vamos para a aula.

— Farei um desenho para Bruno e Luan, para eles gostarem de mim.

Esse é um dos momentos que Crô mais odeia nessas conversas. Melina, às vezes, fala sobre ser aceita. Sabe que muitas dessas cartas e desenhos são maneiras de ser simpática e querida, porque Melina sabe que sua família ''principal'' não a quis, e Moisés a salvou. Mas só de saber que foi abandonada, ela se sente mal e tem medo de acontecer novamente.

— É impossível não gostar de você. — Crô abraça Melina.

— Até eu gosto. — Maurício ajuda. — Mesmo você sendo uma insuportável.

Não ajudou em nada!

— Insuportável é você, cara de texugo! — Melina retruca.

— E você tem cara de bolacha!

E assim mais uma noite se segue, crianças discutindo, uma Melina sonhadora nas horas vagas e uma Crô perdida no que fazer, e sabendo que o certo, sendo bem errado, é Melina permanecer nessa casa, sobre a vigilância de Moisés.


MADRUGADA


— O homem prodígio não terminou o trabalho a tempo? — Gianluigi zomba quando Moisés entrega a pilha de relatórios. — Ou será que sua mulher presa impediu seu raciocínio?

— Não deixo que minha vida pessoal influencie em meu trabalho. — Moisés fala, sem olhar para o homem, que é seu chefe.

— Levanta o olhar, homem! Sua mulher estava pirada, era meio óbvio que faria algo do tipo. Eu nunca entendi como um paspalho ficava com aquela mulher. — Gianluigi ri. — Aposto que ela mandava em tudo. Ainda bem que jamais aceitei qualquer relação entre nossas famílias.

— Melina nasceu dessa relação. — agora Moisés o encara. — Tivemos uma neta.

— E por esse pequeno elo, eu ainda te aceito aqui.

— ''Elo''? Você nem a queria.

— Voltará a falar sobre a falecida? — Gianluigi ajeita seu paletó. — Quero falar sobre Morgana. Ela sabe bem sobre o contrabando de produtos falsificados, ela não vai falar algo?

Uma família para o mafioso - Em busca da filha perdida (Livro 1 e 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora