— Eu gosto de lugares simples, Vicente. E a companhia é o que importa — digo segurando seu braço e descendo até alcançar sua mão. — Eu iria gostar mesmo se fosse um cachorro quente no parque.

Seus olhos brilham de contentamento quando leva minha mão até seus lábios e deposita um beijo nela. Chegamos ao restaurante e estava bem cheio, fomos recebidos pela proprietária do lugar, uma loira de aproximadamente 40 anos que nos levou até uma mesa reservada no canto. O lugar é bem aconchegante e parece uma cantina tradicional com coisas da Itália sobre as paredes e fotos de pessoas que visitaram o lugar ao longo do tempo espalhas pelas paredes e corredor de entrada.

— Hoje temos aquele parmegiana que você adora — diz a mulher me dirigindo um sorriso em seguida. — E você querida, posso sugerir uma pasta?

— Claro, mas acho que quero provar do prato que o Vicente adora.

— Boa escolha, vou pedir para trazer para vocês. — Ela se retira indo falar com outros clientes.

— Vem sempre aqui pelo que pude ver. — Um garçom coloca um prato com queijos e azeitonas sobre a mesa.

— Sim, eu disse que gosto da comida. Esse é meu restaurante favorito. — Ele olha para o telefone que só agora percebo estar tocando, provavelmente no silencioso. Ele me olha contrariado. — Preciso atender.

— Sem problemas, fique à vontade.

Ele se levanta e sai, deixando-me sozinha na mesa. Como um pouco do parmesão, bebo do vinho e nada dele voltar. Logo o garçom deixa nossa comida e ele volta com um sorriso nos lábios. Fico com vontade de perguntar do que se tratava a ligação, mas claro que não faço.

— Sinto muito por isso.

— Não foi nada. Espero que não seja uma namorada raivosa. — Ele gargalha.

— Não estaria aqui com você se tivesse uma, pode acreditar.

— Eu acredito. — Ele afaga minha mão sobre a mesa. — Não estaria aqui que se não acreditasse.

— Eu adoro esse molho — diz passando um pedaço de pão no molho de tomate e levando à boca.

— A comida está ótima, como descobriu esse restaurante?

— Vinha aqui com a minha mãe antes de ela se casar com o namorado de infância e voltar para a Itália.

— Uau, então sua mãe é italiana?

— Sim, meu pai que era daqui. Ela veio embora com ele, deixo tudo, trabalho família, para viver em outro país.

— Ela devia amar muito seu pai.

— Talvez, única explicação para viver com um homem como ele, ou o dinheiro que ele perdeu no jogo, mas minha mãe não dá muita importância para isso. Sei lá. Nunca perguntei para ela.

— E seus irmãos?

— Meu irmão mora com ela em Genova. Os outros dois filhos do meu pai, eu não tenho muito contato. Só os conheci há pouco tempo. Minha irmã se chama Lana e o outro Charles. Ele é professor de física e ela, modelo, seguiu os passos da mãe.

— Talvez eu a conheça — digo tomando o resto do vinho do meu copo.

— Ela não é muito famosa. Tem 23 anos. — Pega o celular e me mostra a foto de uma loira de olhos verdes com ar sensual. — Mas é linda, não é?

— Ela é linda sim. Mas não parece nada com você.

— Se parece muito com a mãe, mas tem um pouco do meu pai também.

Terminamos o almoço e acabei recusando a sobremesa.

— Vamos? Quero te mostrar uma coisa.

— Claro.

Fomos de carro até o Ibirapuera conversando sobre nossas vidas, família, planos, sonhos. Deixamos o carro no estacionamento e seguimos andando.

— Já esteve aqui?

— Não, mas engraçado que sempre quis conhecer, porém toda vez acabava ficando com preguiça e trocava o passeio por um filme ou livro.

— Que preguiçosa!

— Até demais.

— Eu amo esse lugar. Aqui é conhecido como pavilhão japonês. — Paramos em frente a um lago cheio de peixes de diversas cores. Ele aponta para um prédio. — Essa construção foi inspirada no Palácio Katsura de Quioto, lá dentro tem uma mostra da memória e cultura japonesa. Tem peças de cerâmicas, trajes de guerreiros e outros objetos típicos, quer entrar?

— Adoraria.

Vicente paga nossa entrada para conhecer o interior do prédio.

— Estamos na florada do Sakura, sabia que essa flor é símbolo do Japão?

— Isso eu sabia, acho linda demais.

— Segundo a lenda, a princesa Konohana caiu do céu próximo ao Monte Fuji e teria se transformado nessa flor e se espalhado pelo país. As flores, não duram muito, elas simbolizam a natureza passageira da vida.

— Você é entendido — digo no momento que ele entrelaça os dedos nos meus e sorri. Seus olhos brilham e eu fico encantada com cada palavras que ele diz.

— Só curioso mesmo, e todo ano eu venho nessa época. — Ele aponta para a árvore de flores pequenas e lindas sobre os galhos. — Te trouxe aqui para mostrar as coisas que gosto de fazer.

— É linda — digo admirada, acariciando uma flor desejando que o que estamos vivendo não tenha o mesmo significado da flor, não seja de natureza passageira e ao contrário delas, dure muito.

— É sim, só não é mais linda do que você. — Deixo de olhar a flor e olho para ele pronta para uma resposta. Entretanto vejo sinceridade ao fitar seus olhos e então me calo. Fico nas pontas dos pés e beijo seus lábios.

Vicente segura minha cintura, puxando-me para mais perto, aprofundando o beijo. Eu adoro o jeito como ele me beija, com desespero, como se ele fosse enlouquecer se não o fizesse, como se fosse a coisa mais gostosa que já fez. Eu penso que ele perceba que para mim seja assim, é sem dúvida a melhor coisa do mundo beijar o Vicente, eu ficaria horas grudada nesses lábios. Ele solta um gemido quando chupo sua língua, me fazendo perceber que ele gosta disso. Na verdade, eu quem gosto de fazer isso, eu que estou sentindo necessidade de beijar essa boca e não parar mais, de chupar outras partes do seu corpo com a mesma volúpia.

Um pigarro bem próximo a nós nos faz perceber que passamos dos limites e nos afastamos sorrindo.

— Melhor continuarmos nosso passeio — digo puxando-o pela mão.

— Você ainda vai me deixar maluco, mulher. Esqueço até o lugar onde estou.

Depois de conhecer tudo, sentamo-nos embaixo da cerejeira para comer alguns doces típicos. Adorei cada segundo e já estava lamentando a hora de ir embora. Ficar ao lado dele está se tornando um vício.

Evito pensar o quanto isso pode ser nocivo para mim. Entretanto tenho certeza que preciso ir com mais calma com relação à proporção que meus sentimentos e desejos estão tomando. Talvez seja tarde demais para recuar.

Vicente é um vício ao qual não terei forças para deixar. 



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