Fuck You

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Esses dias na praia foram muito bons, e fizeram-me repensar se não seria uma boa ideia voltar a considerar passar minhas férias longe de casa conhecendo lugares e pessoas novas. Além de ser divertido acaba nos deixando mais disposto a voltar a rotina de sempre entre trabalho ou estudo, ou os dois. Nunca se sabe.

Voltei ontem à noite e ao invés de ficar no apartamento de Billie resolvi ir para o meu. Amo a companhia nela, isso é óbvio, jamais teria aceita casar com ela se fosse o contrário, mas ficar sozinha também é bom.

Cheguei e dormi até o dia seguinte. Sempre fui solitária apesar de me dar bem com as pessoas e as tratar educadamente, nunca rejeitei minha própria companhia e gosto muito dela. Porquê no final das contas, é só o que vou ter.

[...]

Se passavam das quatro da tarde, estava desfazendo as minhas malas. Passando e guardando as roupas limpas e separando as sujas para lavar.

Estava realmente concentrada nessas atividades tanto é que o interfone teve que tocar algumas vezes para me tirar dos meus pensamentos. Levanto rapidamente do chão e corro até o interfone e o atendo.

— 204. — Respondo, esse é o jeito em que falávamos para que o porteiro pudesse saber se ligou para o apartamento certo.

— Maya, boa tarde. Um senhor chamado Jefferson está querendo falar com você, o deixo subir? — Questiona, após me cumprimentar, a voz de John tão conhecida por mim.

— Não precisa, eu desço aí. — Falo.

— 'Tá bem. — Concorda.

Saio do apartamento com pressa e desço pelas escadas. Queria entender o que o irmão de Joe estava fazendo aqui.

— Então? — Pergunto parando a frente do homem.

Ele não era tão diferente de Joe em questão de aparência, é a famosa definição que se diz: "Não parece mas dá os ares". Pois é.

— Finalmente conheci a famosa Maya, Jefferson. Espero que lembre de mim, nos falamos pelo telefone há um tempo. — Se apresenta estendendo a mão, em um cumprimento, a aperto.

Ele me olhava com um expressão estranha e isso me deixava insegura.

— É eu lembro. O que queria? — Indago direta.

— Te procurei nessas últimas semanas, mas não consegui encontrar. — Revela.

— Estava de férias com a minha noiva. — Falo rapidamente.

— Noiva? — Diz surpreso em tom de pergunta e dou de ombros. — Desculpa, não quero parecer preconceituoso, só me pegou desprevenido. Ainda mais nesse momento de vida, achei que você estivesse deprimida. — Começa.

— Já estive, mas estou melhor. — Digo séria.

— Espero que sim, esse momento deve ser complicado sem o Joe. — Lamenta me fazendo ficar confusa.

— Não entendi, desculpa. Pode me explicar? — Peço.

— A gravidez, claro. — Fala convicto.

— Não estou grávida. — Nego.

— Tem certeza? Joe deixou mais da metade da herança dele 'pra você e o seu filho. — Conta.

— Não quero herança nenhuma, não sou nada de Joe e muito menos espero um filho dele. — Rebato.

— Bom, a Senhorita vai falar isso amanhã no tribunal às nove da manhã. Passar bem. — Se despede me entregando um envelope.

Jefferson não me deu tempo de falar mais nada, virou as costas se despedindo do porteiro com um aceno discreto com a cabeça e foi embora. Sorrio sem mostrar os dentes para o Senhor John. Dessa vez uso o elevador, sem muita demora chego em meu apartamento, entro no mesmo com pressa trancando a porta por segurança.

Sento no sofá e rasgo o envelope curiosa, parecia um carta escrita a mão.

"Jefferson, sinto muito por ter feito isso com você e todos em minha família. Mesmo sabendo que ninguém realmente se importou comigo durante a minha vida.

Todos sabem o quanto a leitura foi importante para mim, assim consequentemente, como o amor verdadeiro. Fiz tudo por amor, fui movido a amor. Maya era a mulher da minha vida, só existia nós dois.

Por mais que quisesse em certos momentos poder prende-la em uma caixa de vidro, para que não conhecesse pessoas melhores do que eu, não o fiz era errado o faze-lo. E esse foi o meu erro, ignorar meus sentidos dando razão ao meu lado racional das coisas.

Ela conheceu uma garota no aeroporto, e não suficiente, se encontraram de novo e de novo, até essa garota a seduzir. Em uma festa, a beijou enfiou seus dedos nela, Maya gostou. Sonhou com ela, gemeu seu nome enquanto dormia, Billie. Meu ódio foi tão grande que planejei terminar com a minha vida.

Eu, um homem, trocado por uma mulher. Em que mundo nasci e cresci?!

Essa garota, Billie, com certeza quer se aproveitar dela. Maya é bonita, gostosa e simpática. Tudo o que ela quer ter em sua cama por algumas noites. Na mesma noite em que Maya implorou para ter Billie entre suas pernas, a engravidei.

Estava dormindo, não viu nada, mas está grávida. Ninguém irá querer ela assim, apenas eu, porquê a amo. 75% da minha herança ficará para ela e meu filho. E assim minha morte não será em vão, ela vai perceber o quanto amava e irá detestar essa garota, pois a mesma vai larga-la e encontrar alguma melhor, sem filhos.

Trate isso em sigilo. Faça o combinado, com carinho. Joe."

Estava em choque, Joe não era um bom namorado, não me tratava bem mas nunca pensei que pudesse me machucar. Dormindo? Confiava no mesmo, colocaria minha mão no fogo por ele.

Não havia erro, fiz tudo certo. Fui estuprada na minha casa, na minha cama por alguém que confiava. Poderia ficar triste, e fiquei, por milésimos de segundos, a raiva me dominou.

Me senti poderosa, me senti dona de mim mesma. Deu errado porquê joguei as cartas, cega, mas joguei. Não estava sozinha, não estava grávida. Estava corrompida, mas não sozinha.

Jefferson foi um burro, igual ao irmão dele. Espero que queime no inferno. Não tenho pena de estupradores, não mais.

[...]

"Em nome de Maya Mirros.

Querido Joe, queria declarar que seu amor me salvou. Salvou de você, um filho seu e me entregou a mulher da minha vida. Obrigada por me amar, estuprar e corromper.

Amarei você eternamente, assim como amarei vê-lo queimar por mim para sempre. Meu amor se chama fogo, e espero que o aproveite assim como me aproveitou naquela noite em que dormia.

Seu amor me vez renascer, mais forte e amarga.

Obrigada por levar a parte mais linda de mim em seu caixão."

[...]

Jogo o bilhete em seu túmulo sentindo uma lágrima solitária descer pela minha bochecha esquerda. Respiro fundo e ando para fora do cemitério acompanhada da escuridão da noite.

Que você se foda.

"A visa for Europe, please" • Billie Eilish Onde as histórias ganham vida. Descobre agora