Six feet under of the ground

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Me atrasei para o trabalho. Droga.

Joe morreu, e por poucos segundos pensei apenas que tinha me atrasado para ir ao trabalho, sou um ser humano horrível.

E por ser horrível sei justificar esse pensamento. Primeiro; dormi pouco essa noite e fui acordada de supetão. E segundo: não sei lidar com a morte de pessoas.

Se torna surreal que aquela pessoa que se vê todos os dias, seja um amigo, um parente ou até um vizinho, nunca mais será vista e vai existir em um para sempre só em memórias. Sem abraços, sem conversas, sem sorrisos.

É inimaginável até que um dia, mais cedo ou mais tarde, o inimaginável bate à porta.

— Maya, tudo bem? — Pergunta Billie sonolenta me livrando dos meus pensamentos.

— O Joe cometeu suicídio. — Digo direta a fazendo se sentar na cama rapidamente.

— O quê? Como assim? — Indaga preocupada.

— Foi culpa minha. — Falo sentindo meus olhos encherem de lágrimas.

— Não bebê, não foi culpa sua. Uma pessoa que tira sua própria vida, tem seus próprios motivos. Ninguém tem nada a ver com isso. — Consola me abraçando.

— Mas... mas ele falou algo sobre nunca mais vê-lo quando nos encontramos dias atrás, eu não entendi. Achei que fosse outra coisa, achei que ele estivesse magoado. Era um sinal e simplesmente o ignorei. Como se não fosse nada. — Revelo e sussurro a última parte.

— Não somos treinados 'pra isso. E acima de tudo não lemos pensamentos. Tenho certeza que tiverem momentos felizes e que Joe guardou isso na memória, sinto muito pela sua perca. — Faz uma carícia em minhas costas.

— Você promete que seja lá qual for o motivo, que nunca, nunca vai tirar a sua vida? — Questiono convicta.

— Nunca. — Responde séria.

— Preciso liga 'pro trabalho. Dizer que irei me atrasa. — Digo virando para pegar o celular.

— Maya você 'tá louca? Seu ex-namorado morreu. Você tem que ficar em casa. — Impede pegando meu braço delicadamente.

— Sofrer pela morte dele não pagará minhas contas. — Rebato tentando puxar meu braço.

— Escutou o que disse? Você não vai ser feliz adiando o seu luto, sei que está se sentindo culpada, não adianta tentar abafar tudo com trabalho e estudos. Uma hora vai explodir, e vai ser pior. Escuta o que digo por favor, uma única vez, eu imploro. Só dessa vez, me ouve, não estaria dizendo isso se não fosse pelo seu bem. Você sabe que eu a amo, não quero te ver machucada mais tarde. — Diz me virando na cama me fazendo ficar por baixo distante do celular.

— Entendi. Vou ligar e avisar que não irei. — Falo baixo.

— Não 'tá me enganando não né? — Pega meus punhos os botando para cima da minha própria cabeça.

— Não Billie Eilish, eu entendi. — Digo firme e a mesma sai de cima de mim.

Me viro de bruços e pego o celular. Procuro meu chefe dentre os contatos e logo o acho. Chamou algumas vezes e o mesmo atendeu.

— Diretor do Walmart Los Angeles, Califórnia. Jimmy, bom dia, como posso ajudar? — Soa a voz prestativa do chefão.

— Bom dia Senhor Jimmy, é a Maya.  Queria me desculpa pelo atraso e dizer que ouve um imprevisto. E terei que entrar um pouco mais tarde. — Sinto Billie sentar sobre minha bunda e pegar o celular de minhas mãos agilmente.

"A visa for Europe, please" • Billie Eilish Onde as histórias ganham vida. Descobre agora