Be brave

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Grávida.

Respiro fundo entre um soluço e abaixo a cabeça a apoiando em minha mão. Eu sabia era óbvio, mas agora realmente não tinha para onde correr. Teria que encarar, ser forte e o mais difícil, ser corajosa.

Billie suspirou e começou a fazer uma carícia em minhas costas.

— Vou mandar mensagem para a minha mãe, ela deve saber de um bom médico obstetra. Marcamos uma consulta, e pedimos uma indicação de clínica, 'tá bem? — Explica.

Não falo nada e me limito a concordar com a cabeça. Levanto do sofá e Billie me olha com uma expressão sugestiva.

— Vou deitar um pouco, se importa? — Questiono baixo.

— Não, claro que não, vou ficar resolvendo as coisas 'pra amanhã. Assim que acabar faço algo 'pra comermos. — Avisa.

— 'Tô enjoada, não quero nada. — A conto e ela concorda.

— O que faço com o teste? ­— Pergunta.

— Joga fora. — Digo direta e ando em passos lentos para o seu quarto.

Tiro meus sapatos e toda a roupa que usava lentamente, ficando apenas de calcinha, tomo a liberdade de abrir a bagunça que Billie chama de closet e pegar uma das suas camisetas grandes.

A visto sem delongas e dou um meio sorriso, sem vontade, quando percebo que mesmo suas roupas sendo lavadas com algum alvejante o perfume que usará ainda ficava impregnado nas peças.

Não estava dando importância para o cheiro do perfume, estava enjoada, mas me encontrava ainda mais deprimida.

Me escondo debaixo de suas cobertas quentes, estava refletindo sobre essa gravidez e tentando pesar o que seria mais negligente. Abortar depois de ter sido irresponsável e engravidado ou decidir ter essa criança e em algum momento iminente ou não, não ter condições de cria-la.

Sinto a cama afundar, mas não me preocupo em saber o que ou quem era. Logo descobri, Pepper deitou ao meu lado e deixou sua cabeça em minha barriga. Ela sabia, sentia. Sinto uma lágrima solitária e quente descer pela minha bochecha direita enquanto faço carinho nos pelos rastos da cadela sobre mim.

Sempre defendi o aborto. Foi uma comemoração enorme e muito significativa para mim quando o mesmo foi legalizado nos Estados Unidos. Como estudante de psicologia tinha que passar por diversas áreas e em um dos semestres estudei a psicologia em caso de abusos, onde foi dado bastante ênfase ao emocional da mulher em situações como essas:

Gravidez acidental, gravidez psicológica, gravidez através de um caso isolado de estupro, gravidez após caso de abuso recorrente de estranhos ou até mesmo de alguém parte da família. O que poderia englobar pré-adolescentes e adolescentes de dez á dezessete anos.

Foi nessa aula que decidi que a legalização do aborto e o respeito as escolhas das mulheres era o melhor tratamento que elas poderiam receber. Naquela época não imaginei que passaria por isso, não por um abuso, mas pela pressão de ter nas mãos uma escolha grande e que mudaria tudo.

Mesmo que escolhesse o aborto, eu não seria a mesma pessoa. Pode não mudar minha vida, pode não me fazer mudar a rota dos meus sonhos e objetivos por um instante mas me mudaria e marcaria para todo o sempre.

Entre esses e outros pensamentos adormeço.

[...]

Desperto aos poucos, não sabia que horas eram, se era noite ainda ou de madrugada. Pepper mudou de posição a sentia deitada encostada nas minhas costas pois também me mexi enquanto dormia e acabei ficando de lado. Virei um pouco o rosto para a esquerda e entendi o real motivo de Pepper estar no meio, Billie estava lá, dormindo. Pep quis ficar entre nós duas.

"A visa for Europe, please" • Billie Eilish Onde as histórias ganham vida. Descobre agora