trinta e oito.

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Vermelho de perigo e poder. Definitivamente a minha cor.

É mais ou menos assim que me sinto com ketchup na bochecha, devorando um cachorro-quente encostada ao capô do Accord de Carson. Dou uma olhada para baixo sem me preocupar com manchas porque estou em uma camisa tão vermelha quanto sangue. Ela cobre até metade da minha coxa, escondendo os meus shorts. Alguém a enfiou em minha cabeça durante a partida e eu ainda não descobri se o Gerard nº 8 é algum jogador ou algum fanático no bar do Louie.

Ouço uma leva de palmas vindo do bar e paro com o meu cachorro-quente no ar. A torcida lá dentro é toda vermelho e branco agora e eu sei o que ela vai fazer. Os vidros das janelas não são capazes de segurar a euforia das vozes em coro. Eles estão entoando You'll never walk alone novamente. E eu já perdi as contas de quantas vezes eles fizeram.

Mas basta que comecem a cantar para que eu pare qualquer coisa que estou fazendo para ouvir. É a música mais bonita que já conheci. E carrega um significado de união e perseverança que me comove. Não entendo muito de futebol, mas começo a entender de amor quando Seth abre a porta no meio das palmas finais assim que a música termina. Porque ele está completamente embebido disso. 

E acabou de ser campeão da Europa.

— Ei, você! — Seth estaciona ao meu lado. — Você tinha razão.

Ergo as sobrancelhas para ele sem conseguir responder de boca cheia. Os olhos dele passeiam pela camisa do Liverpool até minhas coxas e pousam sobre meus olhos novamente. Eu sinto como se ele houvesse arrancado toda a minha pele, porque queima o modo como me olha.

— Vermelho é a sua cor. Definitivamente.

— Eu não sabia disso até hoje. — Abaixo o cachorro quente e sorrio para o céu iluminado com as luzes da cidade de Colorado Springs. — E essa música fica rolando na minha cabeça. Ela é tão bonita. Mesmo! Não consigo parar de cantar Walk on/Through the wind/Walk on/Through the rain/Though dreams be tossed and blown...

Caminhe

Pelo vento

Caminhe

Pela chuva

Apesar de seus sonhos serem lançados e soprado

— É claro que tem mais graça no jeito que você pronuncia o "t" e o "r" com o sotaque e...

— Você é a garota mais bonita que eu já vi.

Olho para Seth imediatamente para ter certeza de que ele não está brincando. Porque não posso parecer a garota mais bonita do mundo usando uma camisa três números maiores, com o cabelo engordurado e preso em um rabo de cavalo e, provavelmente, com ketchup pelas bochechas.

Só que há um jeito no modo como os olhos de Seth faíscam contra o meu rosto que me dão a certeza de que ele está sendo sincero. O meu coração para algumas batidas e o meu sorriso escorre em algo que beira a euforia percorrendo as minhas veias.

Eu gosto do modo como ele sorri de volta, tão apertado que mal posso ver suas íris castanhas, incandescidas pelos tons rubros de sua camisa e da bandeira que pende em seus ombros. Seth se inclina na minha direção e no segundo seguinte sua língua passeia pela minha bochecha. Algo como uma fisgada no meu umbigo espalha arrepios por toda minha pele. Estou encolhida e gargalhando quando ele se afasta.

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