O falso som do progresso

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Seu braço esquerdo pulsava entorpecido, como se alguém estivesse enfiando alfinetes e agulhas desde seu ombro até as pontas dos dedos. Lisa se mexeu um pouco na cadeira, aumentando a dor. Mas o formigamento desconfortável foi mascarado pelos fios macios do cabelo castanho bagunçado que roçavam contra sua pele nua, e pela constante respiração da garota enquanto dormia profundamente no ombro de Lisa.

Estava sentada assim pela última hora, observando a morena enquanto a luz do lado de fora da janela desaparecia lentamente na escuridão. Estaria mentindo se dissesse que não estava com um pouco de frio, tendo apenas uma camiseta cobrindo a parte de cima de seu corpo. Mas estava com medo de se mover, ou mesmo alcançar um cobertor, receosa desse momento acabar, esse momento de completa paz e clareza. Sua respiração ficou mais calma, e não conseguiu evitar um sorriso de aparecer em seus lábios. Então, ficou em um silêncio feliz enquanto Jennie continuava a roncar baixinho, Lisa mantendo os olhos na garota adormecida.

Depois de um momento, a loira desviou o olhar para a pequena janela ao lado de Jennie, o sol que estava se pondo lançava um brilho laranja por quilômetros e quilômetros de grama. Pequenas casas eram avistadas no horizonte aonlado de uma estrada estreita. Mas Lisa sabia que tudo isso logo desapareceria, tanto a vista como o formigamento, em apenas alguns minutos. A qualquer momento, os campos dariam lugar a uma cidade extensa e a loira seria forçada a acordar a garota adormecida em seu ombro.

Passou os dedos suavemente pelo cabelo de Jennie, mal tocando os fios que estavam grudados adoravelmente em sua testa. Ela parecia tão em paz. Lisa não queria nada além de deixá-la ali, a morena mexendo delicadamente com o toque suave. Um sorriso apareceu ao lado de sua boca quando outra onda de formigamentos percorreu o braço da mais nova com o pequeno movimento.

Isso deveria estar me matando, estar tão perto de você.

Deveria doer.

Então, por que a dor não está vindo?

Uma jovem ruiva começou a andar pelo corredor, virando-se para cada passageiro e pegando fones de ouvido e resíduos restantes, preparando-se para o desembarque na capital. Lisa aproveitou os últimos momentos dessa sensação, sabendo que escureceria quando a garota abrisse os olhos. Sabendo que uma vez que ela acordasse, o momento seria dificultado por aqueles olhos nublados e pelas paredes teimosas. Depois de respirar fundo, a loira estendeu a mão e passou a parte de trás do dedo suavemente pela bochecha a outra, tentando despertá-la.

"Jen." 

A sobrancelha da garota franziu e ela se mexeu um pouco, antes de enterrar o rosto ainda mais no espaço entre o braço de Lisa e seu peito. A loira suspirou, pronta para passar outro dedo pela bochecha dela quando lábios macios se conectaram à sua pele, deixando-a sem fôlego. Dedos longos envolveram delicadamente seu pulso, aqueles lábios colocando beijos preguiçosos na parte de baixo de seu braço enquanto seu nariz roçava contra a pele sensível.

"Jennie." Ela repetiu, falhando miseravelmente em manter sua voz normal.

Deus, isso é tão bom.

Os olhos da garota se abriram lentamente, concentrando-se na loira, o sorriso preguiçoso sumindo. Lisa observou enquanto ela percebia quem estava realmente sentada ao seu lado. Levando a mão à boca, Jennie passou a ponta dos dedos suavemente pelos lábios enquanto se sentava para contemplar Lisa cautelosamente, suas bochechas corando.

"Desculpa." Ela soltou ainda sonolenta, sem mais conseguir encontrar seu olhar. "Hábito."

E por que você está se desculpando?

Jennie se ocupou em ajustar o cobertor branco que cobria seus joelhos enquanto Lisa voltava a sentir o braço, sua pele formigando desconfortavelmente. Flexionou os dedos e esticou o ombro experimentalmente, a morena ainda sem olhar em sua direção. Um calafrio percorreu suas costas quando a temperatura da cabine finalmente atingiu seu braço quente, fazendo com que tremesse involuntariamente.

Como se nunca tivéssemos dito adeus Where stories live. Discover now