Sem poder ficar, sem querer ir embora

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Lisa esticou a mão pelos suaves lençóis brancos, à procura do calor do corpo ao seu lado. Mas o espaço estava vazio e frio, o material gelado contra sua pele quente. Abriu um olho e, em seguida, o outro, piscando contra a luz forte que vinha da rua quieta. Os lençóis ao seu lado estavam bagunçados e o coração de Lisa começou a bater mais forte com a visão. Ela se sentou, olhando freneticamente ao redor do quarto.

"Oi para você."

Sua cabeça virou na direção da voz familiar, suspirando quando viu a garota na poltrona. O joelho direito de Jennie estava servindo de apoio para seu queixo e o diário estava em sua mão. Repousando a caneta contra os lábios, ela voltou o olhar para o diário, um início de sorriso no rosto.

"Oi." Lisa cumprimentou enquanto puxava o lençol para seu corpo que tinha caído até sua cintura no momento de pânico. Jennie olhou de volta para a loira e sorriu para ela, antes de fechar o diário e andar para a cama. Inclinando-se contra o colchão, deu um selinho nos surpresos lábios de Lisa, antes de recuar e sentar-se ao seu lado. Calor se espalhou pelo peito da mais nova e irradiava pelas suas mãos, as quais apertavam o lençol mais forte contra o corpo.

Eu definitivamente poderia me acostumar com isso.

Lisa mordeu o lábio inferior enquanto lutava contra o sorriso que queria aparecer, fazendo com que Jennie olhe para o outro lado timidamente. Os dedos dela começaram a brincar com o couro do diário, Lisa observando seu rosto por um momento, antes de se virar para baixo e apoiar o queixo no travesseiro.

"Porque estava ali?"

"Não consegui dormir." Jennie deu de ombros, ainda sem encontrar seus olhos. Ela abriu o diário e começou a folhear as páginas, Lisa, pela primeira vez, conseguindo ver o que estava além da capa marrom. Cada página estava lotada de palavras; parágrafo após parágrafo.

Depois do que aconteceu noite passada, Lisa mais do que nunca queria saber o que estava acontecendo na cabeça de Jennie. Ela queria saber se o que fizeram significou algo para a morena. Queria saber se a noite passada mudou alguma coisa, ou se ainda iria perdê-la em três dis. Precisava saber.

"Leia algo para mim."

Jennie se virou para ela com olhos assustados enquanto passava os dedos pela capa de couro. Lisa manteve seu olhar, vendo como tinham neles um medo do qual não compreendia. A morena virou para as mãos as limpou a garganta, antes de falar num tom hesitante.

"O que você quer ouvir?"

Que você me ama e que vai ficar.

"Qualquer coisa." Lisa disse suavemente antes de fechar os olhos. Ela ouviu Jennie mexendo nas páginas do diário e sua respiração pesada. Pareceu uma eternidade até que falou de novo, a voz tão hesitante quanto antes.

"Hum, 9 de maio." Jennie murmurou. "Estávamos no ônibus para Munique nesse dia, lembra?" Lisa concordou, mas manteve os olhos fechados. "Eu amo a maneira que ela olha para mim. Ninguém nunca me olhou como ela. Me assusta como consegue fazer com que eu me sinta sendo a única pessoa do cômodo, ou apenas seu sorriso que consegue fazer meu coração errar uma batida."

Jennie pausou por um momento para respirar fundo. Lisa não abriu os olhos enquanto seu peito começava a doer e sua garganta a ficar entalada. Uma parte de si estava arrependida de ter feito a pergunta, mas a outra parte, a parte irracional precisava ouvir isso. Precisava ouvir que esses sentimentos intensos que teve nos últimos dias não eram platônicos. Doía ouvir, mas o constante 'e se' que teria a perseguido depois de dizerem adeus uma a outra teria sido mais torturante que essa dor.

"Eu me encontro querendo ser tantas coisas para ela. Eu me encontro precisando estar mais perto, precisando sentir o toque de sua mão, mesmo por apenas um momento. Não consigo evitar. E esse fato sozinho me assusta. O fato de que não consigo evitar. O fato de que não tenho controle sobre esses sentimentos."

Como se nunca tivéssemos dito adeus Where stories live. Discover now