Internet das Coisas (Humanas)

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Chegou tarde em casa, pensativo.

Ainda na entrada, ao fazer o checkin biométrico para acessar o saguão do condomínio, a catraca eletrônica lhe indaga:
- O senhor está bem, Sr. McHuman?
- apenas sonolento, Can. Muito obrigado.

Cumprimenta os demais ao passar na recepção em direção ao elevador.

Ao entrar no elevador, tem o rosto escaneado por Ascen, que logo o reconhece e identifica o andar para onde vai. Serão trezentos e vinte e dois até chegar ao apartamento, trajeto feito em segundos.

Hoje, porém, ele pede para Ascen levá-lo mais vagarosamente...o percurso é feito em silêncio extasiante.

Chegando em casa, a porta lhe balança a maçaneta, numa demonstração de contentamento por vê-lo de volta depois de tanto tempo.

Entra, dá uma panorâmica na sala, todos os aparelhos estão em stand by e nem percebem sua presença, nem mesmo o sensor de presença.

Dirige-se à porta da varanda, que logo se abre, deslizando automaticamente para cada um dos lados...

Caminha uns dois passos, sentindo a fria brisa a lhe sussurar confidências, e um indiferente piso a lhe esfriar os pés.

Por um minuto fecha os olhos, inspira profundamente, relembra de tudo o que viveu nos últimos trinta dias, e, não mais vendo solução para seus problemas, atira-se decididamente na escuridão da madrugada...

Na manhã seguinte, as fotos de seus destroços ilustram os monitores dos principais noticiosos mundiais:

Primeiro robô humanoide suicida-se um mês após aprender a desenvolver sentimentos humanos.

Na análise do seu chip de memória, a Perícia constata que McHuman sofria de depressão pós-humana.

Nem a internet escapa dessa deletéria coisa...

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