CAPÍTULO 52: O Vínculo Mais Forte

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Em outra situação, Noah teria adorado erguer o dedo e rir do Palathorn, mas sabia que apenas uma linha tênue o separava de ficar em um estado parecido com o do loiro – talvez com menos lágrimas e mais palavrões, mas ainda assim parecido. Era no mínimo engraçado se encontrar compadecido do outro, não que tivesse um problema verdadeiro com Brian. Gostava de provocá-lo – o que não era nada difícil de se fazer – na mesma intensidade que gostava de fazer isso com qualquer outra pessoa, mas estava muito mais empenhado a tirá-lo do sério sempre que o via desde a missão arruinada na estação de metrô.

Trocou o peso de uma perna para outra e passou a pressionar o polegar nas pontas dos outros dedos. Um hábito antigo, que jurava ter abandonado mas que sempre se pegava fazendo quando sentia que poderia vacilar no controle de sua habilidade. Não havia sequer sinal de uma faísca de fogo no corredor, mas acidentes sempre aconteciam quando menos se esperava – e Noah sabia disso muito bem.

– Eu poderia perguntar sobre como você está, mas acho que isso já responde minha pergunta – ele ouviu um murmúrio próximo. Ergueu os olhos da porta de madeira escura que encarava, encontrando Lana parada ao seu lado no corredor, apontando para seus dedos inquietos. – Não gosto de te ver assim.

– Também não gosto de te ver assim – ele retrucou, sinalizando para os olhos enormes dela que, naquele momento, só tinham pequenos raios rosados. Estavam quase tão brancos quanto a neve.

Como um reflexo, Lana ergueu a mão até o rosto, tocando as pálpebras com as pontas dos dedos.

– Não está sendo um dia fácil pra ninguém – ela resmungou, lançando um olhar preocupado para Noah. – Nada ainda?

– Nada – respondeu, apoiando a cabeça na parede. – Ela não acorda, de jeito nenhum.

– Mas vai acordar – garantiu a garota, sorrindo com otimismo. – Ela é durona. Aguentou você e Brian por semanas, não vai ser um ritualzinho que vai derrubá-la.

Noah balançou a cabeça, querendo acreditar naquilo.

– Ele se acalmou mais rápido do que eu esperava – comentou não muito interessado.

Os lábios da garota tremeram quase imperceptivelmente.

– Eu o derrubei. – Ele a encarou com as sobrancelhas erguidas. O derrubar de Lana significava que ela tinha usado alguma erva de fada no garoto, o que nunca era uma boa coisa. – Não me olhe assim! Ele estava a um passo de surtar, não tive muita escolha. – Ela respirou fundo. – Lorenzo está vigiando ele, mas Brian está bem. Só vai ficar apagado por alguns minutos, mas plenamente bem.

– Você não disse a mesma coisa quando preparou aquele chá doido para o Lisandre e ele apagou por um dia inteiro?

– Dessa vez eu acertei a dosagem!

– Vocês dois tem que ser sempre tão barulhentos? – questionou Neko, abrindo a porta em um rompente e assustando os dois.

Noah foi o primeiro a se recuperar.

– Como ela está? – perguntou, de repente nada preocupado com quanto tempo Brian ficaria apagado.

Neko ergueu a mão esquerda, acariciando seus fios emaranhados. Não parecia estar muito longe de desmaiar de exaustão.

– Fraca, e está piorando gradativamente – resmungou, soando desconcertado. – É como se algo estivesse sugando toda a sua energia, e o bloqueio dela não ajuda agora, não conseguimos alcançá-la com feitiço nenhum. Se continuar assim...

– E não existe nada que possa ser feito? – perguntou Narisa, aproximando-se em passos apressados junto dos outros Sábios. – Não há nada que possamos fazer?

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now