CAPÍTULO 8: O Segurança Pessoal

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"O visconde fez uma reverência com a cabeça em sinal de submissão e sorriu com cortesia. Anna Pávlovna formou um círculo em redor do visconde e..."

Rebeca fez uma careta e resmungou alto, jogando o exemplar de Guerra e Paz de sua avó para longe. Já estava a quase uma hora com o livro em mãos e ainda não tinha passado das primeiras páginas e tampouco se esforçado para isso. Quando o pegou da prateleira do escritório tinha em mente se livrar do tédio, mas aquilo já estava parecendo uma missão impossível. Ela acabou choramingando. Era apenas o quarto dia do castigo e já estava prestes a abrir a janela e gritar por socorro.

Assim como tinha sido dito, estava proibida de fazer e usar inúmeras coisas. Seu celular tinha sido confiscado e escondido, assim como o notebook e o controle da TV. Agora, além de seu quarto, também era a responsável pela limpeza do escritório, da cozinha e do banheiro do primeiro andar. Estava não-verbalmente-proibida de passar perto do hall de entrada sem supervisão – Lilian não queria correr o risco de que ela tentasse fugir. E, apenas para reforçar sua estadia forçada em casa, a avó também tratou de avisar a todos os funcionários e moradores do prédio que, caso a vissem fora do apartamento sem ela ao lado, deveriam fazer o impossível para detê-la. Não importavam os meios, até amarrar Rebeca em um poste seria válido e perdoado. Ela teria que ter, no mínimo, um terço dos poderes do Superman para escapar daquele lugar.

A única coisa boa no meio de tudo aquilo foi não ter encontrado Noah quando voltou para o quarto. Ele tinha sumido sem deixar rastros e ela não poderia estar mais feliz por isso.

Rebeca estava encarando um ponto fixo no teto, esperando que alguma ideia milagrosa de como matar o tédio caísse dos céus e a salva-se, quando ouviu leves batidas na porta e viu sua tia Anne entrar no quarto com seu costumeiro sorriso empolgado. Ela estava arrumada para sair e a menina se pegou invejando-a amargamente.

– Seja muito bem-vinda a minha cela – saldou irônica. – No que posso ajudá-la?

Anne ignorou seu mal-humor e se sentou na beira da cama.

– Já passou de uma da tarde – comentou ela como quem não queria nada – E você ainda está de pijama.

Rebeca olhou para si mesma de forma preguiçosa, tentando entender o que tinha de errado na camiseta e na calça de algodão.

– Não tenho motivos e muito menos vontade de tirá-lo – resmungou em resposta, dando de ombros.

A tia pareceu intrigada.

– Como não? Vamos começar a olhar o seu vestido hoje.

– Eu não sei se te contaram, mas eu estou de castigo – disse ela. – Vovó nunca me deixaria sair. Você sabe tão bem quanto eu o quanto ela preza pelo cumprimento de seus castigos.

Anne soltou uma risada baixa.

– Você merece tudo o que está passando e um pouco mais. Tem sido uma péssima garota nessa última semana. – Ela chegou a abrir os lábios para dizer que sabia daquilo, mas preferiu deixar para lá. – Mas, sabe, eu sou uma tia maravilhosa e resolvi intervir por você.

Rebeca a olhou confusa, apoiando o cotovelo na coxa e o queixo na palma da mão.

– O que está querendo dizer? Vovó não me tiraria do castigo assim tão fácil.

– Não tiraria mesmo – concordou Anne – E não tirou, na verdade. Não totalmente, pelo menos.

– Não estou entendendo porcaria nenhuma, só pra constar.

– Por Deus, Rebeca! Não diga esse tipo de coisa, é rude. – Ela reprimiu a vontade de revirar os olhos para a repreensão e apenas concordou com a cabeça, o que deixou a tia satisfeita. – Bom, tecnicamente, você vai permanecer de castigo, vai continuar sem celular e internet.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora