CAPÍTULO 44: Seliza e Denophen

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Sem saber dizer se estava dormindo ou acordada, Rebeca seguiu Noah – mantendo uma distância que julgava ser sútil – em passadas lentas e preguiçosas pela elevação de terreno que levava até o Núcleo. Seu braço esquerdo estava posicionado na frente de seus olhos, protegendo-os dos primeiros raios de sol que começavam a despontar por detrás dos prédios e do muro de pedra, fazendo os pilares pontiagudos do Núcleo brilharem e reluzirem como diamantes raros. As ruas ainda estavam vazias e nenhuma loja tinha sido aberta. Ela não se impediu de invejar os Clanorians por ainda estarem na cama.

O portão de ferro da construção estava aberto e, no lugar dos guardas, era Brian quem guardava a entrada, sorrindo e acenando animadamente para ela.

– Como você está? – perguntou o loiro enquanto ela corria para ele e passava os braços por seu tronco, escondendo o rosto em seu peito. Tudo nele era acolhedor e familiar demais para se manter afastada.

Era estranho pensar que, até dois dias antes, Brian não era mais do que um estranho que parecia conhecê-la e, agora, já tinha se tornado – ou voltado a ser – alguém de quem não conseguia se ver distante no futuro.

– Com sono – ela murmurou de olhos fechados, sentindo os dedos dele escorregarem por seu couro cabeludo e tendo plena consciência de que poderia dormir a qualquer segundo.

– Os machucados de ontem? – Brian perguntou com uma pitada de preocupação tingindo subitamente sua voz.

Ela ergueu o pulso esquerdo, girando-o para demonstrar o que diria a seguir.

– Graças as ataduras milagrosas de Mila – murmurou – Como se nunca tivessem existido.

Atrás deles, Noah emitiu um ruído de desgosto.

– Mal amanheceu – ele resmungou – Vocês poderiam ter a decência de poupar meus olhos dessa melosidade.

Não muito contente com isso, Rebeca deu um passo para longe do abraço de Brian, cerrando os olhos para a claridade perturbadora da manhã. Não tinha presenciado muitos alvoreceres em Nova York, mas tinha uma vasta impressão de que não era tão luminoso e intenso quanto o de Clanos.

– Por que estamos parados aqui? – ela quis saber.

– Temos de esperá-los chegar – informou Brian, enfiando as mãos nos bolsos da calça. Parecia quase tão sonolento quanto ela.

Rebeca coçou os olhos.

– Esperar quem?

Ao invés de responder, Brian moveu os olhos para Noah, parecendo fazer uma pergunta com os olhos. Noah balançou a cabeça e Rebeca notou como era mais fácil fingir que estava tudo bem entre eles com outra pessoa ao lado.

– Você vai ver – o moreno se limitou a dizer.

– Sem essa! – queixou-se ela. – Desembuchem logo.

– Essa é uma surpresa pela qual vale a pena esperar – disse Brian, a oferecendo um sorriso benevolente.

Rebeca cruzou os braços, sentindo-se afrontada.

– Ah, então agora vocês dois são amiguinhos o suficiente para ficarem de segredinhos?

– Eu? Amigo dele? – perguntou Brian, quase se engasgando com o riso – No dia em que eu sequer considerar isso, me bata na cabeça com uma pedra.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now