CAPÍTULO 19: Pousada da Betty

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O ambiente revelado pela portinha era estranhamente agradável. Era um hall de entrada retangular e sem janelas, com paredes e chão de madeira escura. Havia uma escada, também de madeira, ao lado da recepção; esta, por sua vez, consistia em um balcão baixo de gesso tingido de preto e duas cadeiras de estofado laranja em um tipo de cantinho da espera. Existiam duas coisas atrás do balcão: Uma grande prateleira, cheia de divisórias e chaves, e um alguém – Rebeca não fazia ideia de como classificá-lo.

A pele tinha uma tonalidade de laranja queimado, os dedos eram longos e quadrados, terminando em unhas também quadradas e incrivelmente bem feitas – e pintadas de amarelo neon. Havia um tufinho de cabelo amarelo mostarda na cabeça, preso por um elástico em uma tentativa de fazer um rabo de cabelo. Ele estava de costas, e não parecia ter notado a presença dos dois, mas vestia uma camiseta social branca com um colete azul turquesa por cima. A calça, também social, fazia par com o colete.

Noah se aproximou alegremente da recepção, tocando duas vezes a campainha sobre o balcão e fazendo o ser laranja e não identificado se virar. Só então Rebeca notou a pequena planta que estava ali, ao lado da campainha. Parecia-se com um girassol, mas as pétalas tinham um tom mais escuro e, no centro, havia o que se pareciam com pequenos... dentes?

O homem encarou Noah por um segundo, suspirou, e então sorriu.

– Já faz algum tempo desde a última vez, Noah – disse. Sua voz era suave e macia, algo que deixou Rebeca levemente mais tranquila. Ele não parecia ser um pior dos piores. – Você não tem permissão para estar aqui, tem?

– É muito bom ver você também, Romise – retrucou ele, apoiando os braços no balcão. – E sim, estou muito bem, obrigado por perguntar.

Romise soltou um risinho bem humorado.

– É bom ver você, mas não tão cedo – disse ele. – O que aconteceu na última vez não foi o suficiente? Ter dois elfos e um lobisomem furioso te perseguindo por quase uma hora deveria ter te assustado.

Rebeca se aproximou sutilmente, tendo seu lado curioso desperto pela história – e teve a impressão de ouvir uma risadinha feminina vindo de algum lugar. Ela olhou em volta, mas só haviam os três ali.

– Foi divertido – disse Noah, sorrindo saudoso.

O alaranjado cruzou os braços.

– Você se escondeu dentro de uma lata de lixo.

O sorriso de Noah diminuiu consideravelmente.

', talvez essa parte não tenha sido tão divertida quanto o resto – ele deu de ombros – Mas ainda assim, é uma boa lembrança.

Romise balançou a cabeça para os lados, e só então seus olhos recaíram sobre Rebeca. Ele ajeitou os óculos quadrados, deixando-os quase na ponta do nariz.

– E a senhorita seria...?

– Brooke – Noah respondeu, apressado, antes que Rebeca tivesse a chance de sequer abrir a boca. – Brooke Lerofer, minha parceira.

– Curioso – murmurou Romise, pensativo. – Pensei que sua colega de equipe fosse ruiva.

Rebeca tentou não arregalar os olhos e entregar seu pânico de bandeja. Noah tamborilou os dedos no balcão, tentando parecer descontraído, mas ela podia notar a tensão nos ombros dele.

– E é, de fato – disse ele – Mas Lisandre, nosso diretor, achou que seria interessante trocar as equipes por um tempo. Ver como nos comportamos, ou alguma besteira assim.

Mentiroso – disse a mesma voz feminina que tinha rido antes. Rebeca olhou ao redor outra vez, mas continuava não vendo de quem poderia ser a voz. Estaria com tanto medo à ponto ouvir coisas?

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora