– Olha, não é que eu esteja querendo ser uma chata – começou Rebeca quando o silêncio de seu companheiro de viajem começou a lhe incomodar – Mas, sério Noah, o que nós estamos fazendo?
Eles haviam se afastado do portão de entrada da cidade, seguido pela direita e se enfiado em diversos becos e travessas entre os prédios. Rebeca estava quase saltitando de empolgação, mal podendo esperar para encontrar logo Calista e dar um fim naquilo tudo. Mas Noah não estava colaborando nem um pouquinho que fosse com o comprimento de suas metas.
Quando estavam prestes a sair em uma ruazinha de terra batida, o garoto estancou no lugar sem um aviso prévio e se jogou contra a parede antes de sinalizar para que ela fizesse o mesmo. Ela não entendeu a finalidade daquilo, mas acabou obedecendo – por mais que achasse a situação ridícula.
– Não posso sair daqui até que Avax vá embora – ele respondeu em um sussurro, ainda concentrado em observar seja-lá-o-que-Avax-fosse. Rebeca piscou, perplexa.
– Que tipo de pessoa se chama Avax?
– Ele não é bem uma pessoa – resmungou ele. – É um lobisomem, segurança da pousada na qual precisamos entrar, aliás. E não gosta muito da minha pessoa.
Rebeca tentou ver como era o tal Avax, mas era difícil com Noah em sua frente e tampando sua visão da rua.
– E você tem medo dele, suponho eu.
– Eu não tenho medo dele. – Ele se defendeu rapidamente. – Mas enquanto o cara tem bíceps invejáveis, eu tenho um rosto muito bonito e pelo qual gosto de zelar. Não é uma combinação muito boa, percebe?
Noah a olhou por cima do ombro, acenando para que ela se agachasse ao lado dele para também espionar o lobisomem. Ela se aproximou, ignorando o cantinho de sua mente que se perguntava o porquê de uma pousada ter um segurança, e olhando para onde Noah apontava: uma pequena escada, de no máximo cinco degraus, e uma estreita porta de madeira. Sobre a porta havia uma placa, que tinha perdido um parafuso e pendia torta. Em letras engarrafais e em tinta vermelha "Pousada da Betty" estava escrito.
Quem ela supôs ser Avax estava descascando uma laranja e sentado na escada, fazendo-a parecer, no mínimo, três vezes menor do que era. Ele era enorme e se tivesse que chutar, diria que era quase tão alto quanto Loey – talvez mais alto. Usava uma regata de um tom de amarelo desbotado que deixava seus bíceps descomunais à mostra e o que pareciam ser socos ingleses descansavam em seu colo. Calças militares e um cabelo arrumado num estilo de topete que fez com que Rebeca se lembrasse de Guile do Street Fighter completavam o visual. Havia um desenho colorido tingindo o braço esquerdo desde o ombro até os dedos, não era bem uma tatuagem, parecia uma marca feita com um tipo bizarro de ferrete.
Ela olhou para Noah com algo semelhante a solidariedade.
– Tudo bem, seu medo é absolutamente compreensível – disse – O cara é gigantesco.
– Eu não tenho medo dele! – Noah pareceu ter a necessidade de reafirmar aquilo outra vez. Ele encostou as costas contra a parede. – Estou apenas cuidado de meu bem estar. E do seu também. O cara é um bruto e não apenas me chutaria para longe, mas a você também.
Rebeca rolou os olhos e observou a pousada outra vez.
– Por que precisamos entrar lá? É onde Calista está? – Questionou, começando a se sentir ansiosa outra vez.
– O quê? Não, claro que não. Achou mesmo que seria assim tão fácil encontrá-la? – Rebeca tentou formular alguma negativa inteligente, não teve sucesso, e acabou dando de ombros. Noah soltou uma risadinha. – Sua vidente está fugindo do Congresso já faz uns bons anos, ela não é qualquer uma.
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A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um)
FantasyRebeca Westgan, uma adolescente nova-iorquina de dezesseis anos, achava impossível arrumar um problema maior do que a avó irritada naquela fatídica sexta-feira. Mas sua convicção vai para o ralo quando ela se depara com dois estranhos garotos brigan...