16 | FERRADOS?

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"O que você vai fazer quando houver sangue na água?
O preço da sua ganância é seu filho e sua filha
Implore-me por misericórdia
Admita que você foi tóxico"
Blood // Water ♪ Grandson

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RAFE

  O sol começa a nascer, a cidade ainda está acordando, e já estamos organizando tudo conforme o combinado.

  Com a ajuda do entregador, vamos colocando as caixas na varanda. Os papéis grudados nas encomendas não especificam o que há dentro, e o cara parece questionar o peso. Compramos uma quantidade maior do que a de antes, continuado com cocaína e maconha, mas desta vez, há vários tipos de cada. Assino um nome qualquer no recebimento, e quando o entregador se vai, começo a levar para dentro.

  — Vai dar diferenças nos preços — Barry comenta, anotando informações em um caderno. — Vamos ter que classificar, inventar uns nomes aleatórios para identificar…

  — Coloca nomes de animais ou flores, para ser fácil encaixar em conversas. — Rodrick diz, tentando separar as drogas.

  Se tivessem perguntado a minha opinião sobre colocá-lo como sócio, eu teria sido contra. Não precisávamos de mais um, éramos o suficiente. Agora tudo volta a ser dividido em três, e tenho que aguentar a voz dele sem estrangulá-lo. O garoto age como se estivesse nisso desde o início e parece ter entrado só para se aproximar novamente de Mandy e me irritar, já não bastando ter ficado com a minha irmã tempo atrás — entrava sorrateiramente diversas vezes em nossa casa pensando que ninguém notaria.

  — É só numerar — digo, abrindo o resto das caixas. — Essa definitivamente é a número um — balanço a cocaína em um dos saquinhos azul.

  Desde que Barry me acolheu, estou me esforçando para seguir as regras, principalmente a de não usar essas drogas. Me sinto vigiado, como se todos soubessem que isso não durará muito tempo. Minha mente tem conseguido ficar dias sem implorar por drogas fortes se estiver entretida com conversas ou as séries questionáveis que Barry me faz assistir com ele todas as noites; porém meu corpo não colabora muito, cerveja e maconha tentam enganar quando a abstinência do pó fica insuportável, enquanto eu tento enganar todos à minha volta.

  — Na festa de hoje a noite vamos ouvir o que a galera acha e temos que ficar mais atentos aos amigos de Robbie. — Barry parece receoso ao falar. — Boa parte dos policiais estarão pelas campanhas eleitorais.

  Meu peito torce ao lembrar de política. Havia me esquecido que a eleição está próxima. Há diversas mensagens não respondidas e chamadas perdidas do meu pai em meu celular. O mesmo só liga quando realmente precisa de algo.

  Não sei como devo reagir ao encontrar com ele após o que aconteceu. Eu deveria voltar para a minha casa, ambos faríamos promessas que nenhum irá cumprir e todos da família continuariam seguindo o roteiro fajuto?

  Está além do insuportável.

  Passo a tesoura em outra caixa, retiro os sacos coloridos de dentro e os jogos no sofá, que se transforma em minha cama temporária. Barry me analisa disfarçadamente e tento me concentrar na tarefa sem parecer suspeito de algo. Se ele soubesse o que fiz com a irmã dele, provavelmente me chutaria para fora.

  Mandy está focada no curso durante a manhã e trabalha durante a tarde, então não temos nos visto muito nesta última semana, já que, durante a noite é o horário com maior pico para as vendas das drogas. Pela madrugada me pergunto se a porta do quarto está destrancada e o que ela faria se eu invadisse, mas evito esse ímpeto e me agarro apenas à memória. De todas as drogas que usei, Mandy Lopez é a mais viciante.

REDENÇÃO [rafe cameron]Where stories live. Discover now